3 de setembro de 2007

Sobre prisões

Somos pela simplicidade(/complexidade) da escrita. Sim, acima a simplicidade da escrita! Já, por sinal, observou a frivolidade de uma exclamação? Talvez assim seja exagero, mas pense na ridicularidade de duas exclamações, três exclamações. Com uma exclamação, mostra-se a vontade, a determinação, e ela é ainda válida para se afirmar algo forte. Mas quê mais para tornar toda uma frase banal além de três exclamações no final? Ah, quase nada. Exclamações são exageros. São reações demais para algo que poderia terminar só com um ponto. Olhe um ponto, que poético. Nada há de mais poético que um ponto. Um ponto lhe diz: quero dizer isso e fim. Nada mais que isso. Só. Toda a complexidade de uma frase inteira captada pelo ponto. Toda dor, todo sabor, toda loucura, toda intensidade contida num ponto. Todas as interpretações, todos os desestendimentos, toda a pressa, tudo que se quis e que não se quis dizer presos num ponto. E, então, por conter tudo isso n'algo tão pequeno, as pessoas pensaram que deveriam fazer dele algo maior, e então criaram a exclamação. Mas o que há de mais belo que um tango dançado nos olhos? O desespero de um olhar? A intensidade das mãos estupefatas, chocadas, perdidas imóveis numa superfície qualquer. E a intensidade de um solitário que vê um filme de amor? A intensidade de um surdo que observa um acidente de carro. A intensidade do calor das coxas. O frenesi contido e calado dos dedos que caminham. E me põem uma exclamação ao fim da frase que poderia ser a mais bela. "Eu era seu escravo!" "Eu era seu escravo." Toda a intensidade que espichou o ponto e o transformou numa exclamação vai-se com ela, perde-se, ultrapassa-a, rasga-a e diz que não lhe pertence. A exclamação, por fim, é pior prisão para os sentimentos que o ponto exatamente por conceder-lhes mais espaço. Talvez tenha a pretensão de fazê-los conviver em harmonia, felizes. O ponto é bruto, é mínimo, é apertado. Diz que não importa seu turbilhão de sensações: ficarão todas aprisionadas n'algo que ainda não descobri se é um pequeno círculo ou um pequeno quadrado. Mas fica tudo preso ali, chocando-se, e sua cela não se importa se estão felizes ou não, harmônicos ou não, simplesmente porque nada nunca é. Não para todos os ângulos. Ou ao menos não deveria ser.

2 comentários:

  1. lu...
    genial.
    sério.
    e os três pontos? rsrs
    sério. genial.

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  2. caramba, e eu super pensei em falar sobre os três pontos no meio, mas eles merecem um texto separado. haha

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