29 de julho de 2022

Não tenho lá tanta certeza a ponto de dizer que o destino da caminhada, ou os mirantes, ou os pontos de descanso, ou a expectativa de fauna e flora estejam claros para mim. Uma segurança curiosa, entretanto, passeia ao meu lado e anda tão distraída que parece despreocupada com o que faço, as decisões que tomo nas bifurcações, trifurcações, quadrifurcações, os momentos em que paro a procurar a lua, o tempo que perco a escolher pedrinhas para levar comigo, que me encanto com uma planta que nunca vi, que fico lá com as mãos no solo tentando sentir e entender a terra, o tempo que invisto em descobrir a hora a partir do ângulo do sol, os momentos em que fico para trás para olhar esse bicho encantador que não é maior que a unha do meu mindinho... Mesmo ela também por vezes se atrasa e fica parada ao pé de uma árvore se refrescando na sombra, olhando galhos e folhas sem pressa alguma e só torna a me acompanhar quando já é um pontinho quase disfarçado na névoa do horizonte. Eu olho para trás muito (com frequência fingindo naturalidade), para ver se ela está lá. Ela está sempre – e às vezes quando me palpita não vê-la logo, de repente ela surge pela curva da estrada (ficou pra trás demais, mas está vindo) ou ouço um barulho de água e lá está ela de bunda de fora mijando numa planta e cutucando as pequenas coisas no chão acocorada. Parece muito despreocupada. Tenho dúvidas se ela sabe onde estou indo, se ela própria não tem opinião sobre o trajeto, se já conhece esse caminho ou se é ela própria quem precisa de companhia. De todo modo, embora não fale muito, tenho pra mim que está se divertindo.