14 de junho de 2021

Enquanto eu deveria produzir tantos materiais, planos, estratégias, cronogramas, controles, tabelas, pareceres, você caminha pelos meus corredores. Eu não vejo, mas eu sinto. Inclusive em locais e horas inconvenientes em que deveria estar praticando a atenção plena em uma coisa completamente diferente do que nessa sensação que você me dá. Você passeia... textura delicada dos seus dedos, que por dentro inventam lugares novos, ideias improváveis, jeitos muito imprevisíveis de me trazer para onde você quer colocar. Você põe. 

Marcamos um encontro. Enquanto várias ideias precisam ser debatidas, analisadas, decididas, estou viajando em uma situação completamente diferente. Olho sem pressa o seu rosto, com muitos detalhes e pausas absurdas. Lá no fundo, você fala o que viemos discutir; parece, eu escuto. O meu prazer é o seu prazer, não assim desse jeito cafona, mas em testemunhar as suas reviradas de olhos, o desacerto da sua respiração, a denuncia implanejada do seu desejo. Você regula o suspiro, mas o peito sobe mais do que se fosse uma respirada comum. Confissões a contragosto. Fecho os olhos por um tempo que deve ter parecido longo, "e então?", você me resgata, digo que estou considerando tudo o que você me disse, mas respondo com o que pensei enquanto me detinha em imaginar uma outra circunstância... "parece ótimo". Por sorte, seu plano era ótimo mesmo, e posso manter essa ideia. Mas agora, debruçada de lado encostada no seu corpo, volto a olhar os detalhes do seu rosto. Os cabelos, os ossos da clavícula, algumas marcas. E pra baixo vejo em perspectiva o resto do seu corpo. Mas o que me interessa sumariamente é a sua cara. São os seus olhos. Seus trejeitos. As portas de entrada de você.