17 de março de 2014

À porta! com rapidez
anda o fiscal a jato,
intimidadora avidez
para não homem e sim rato.

Se desconhece o que faz
e o resultado é que já fez,
o caminho não se prepara
ao que virá outra vez.

Controlado o incidente
prevenido o desastre
Ninguém diria que muda
a criatura se debate.

Enquanto o cartão bate o ponto
E o ponto bate o cartão
O furo deixa uma fresta
Direto ao coração.

A rota inatingida vai-se tornando revelada
A ansiedade retraída revela-se entornada
E o espírito enfim deixa
a casa desarmada.

10 de março de 2014

O tempo se cansa de me observar a cavar no muro buracos para contemplar o dia a dia da sua pele leve. Eu investigo pelas brisas da minha consciência os movimentos que você faz descompromissada com o acontecimento. Eu conduzo a atenção a desbravar os seus mistérios que eu mesma inventei. Eu costuro na imaginação os descaminhos da tranquilidade que a chama do desejo me impossibilita ter. Enfim, continua diariamente a criatividade da minha vontade a escrever por todos os meus neurônios, os meus poros, os meus ponteiros, as malemolências da sua rotina nas horas esquecidas de mim, nas desatenções do tempo e nas quebras do trabalho. A cada cafézinho, sua colher me mexe.

6 de março de 2014

Sobe a ladeira o incrível momento dentro de mim. O espaço sideral deixou há muito o seu caminho indescoberto na minha janela, e todas as incríveis descobertas que faço parecem insuficientes diante da interminável provocação daquilo que ainda não se sabe. Os anzóis, postos em todos os lugares, passam por mim risonhos a procurar presas mais desavisadas, menos exigentes dos amores desta vida, enquanto, apesar de tudo e dos outros, estou a procurar outras que não me procuram. Segue a rotina um jeito desajustado de surpreender-me, enquanto me nego a me enquadrar na batida do ponto. Estou, entretanto, em várias noites, como outras pessoas sem rumo, loucos à deriva à espera de um primeiro agrado, um primeiro gesto, um primeiro estado de coisas a perseguir. A resistência empurra a minha própria persistência. Há silêncio em mim, enquanto ainda nada acho das coisas que começam a ser achadas.