13 de setembro de 2007

Sobre calefação

Estou agora pensando, agora pensando, agora pensando. Naquele frenesi louco de quem é prisioneiro dos próprios pensamentos e se rende sem suspense, só para mostrar que é a música e não a cena que faz o medo e que é melhor render-se logo a começar a temer a si mesmo. Então me entrego rápida, engatilhada, como a arma mais veloz de um duelo à moda antiga, como o soldado mais ágil na esgrima das baionetas de armas sem projéteis. Estou sendo rápida, engatilhada. Os dedos dançam e isso é melhor que hipnose, é mais sincero, é mais brutal. É a consciência das palavras cuspidas já quase pelos dedos e não mais pela mente. É a brutalidade da consciência das toneladas de palavras; é já não saber o que se escreve, e escrever mesmo assim. É fechar os olhos e ver os dedos lutando, batalhando, matando-se como se não houvesse amanhã, e, por fim, não há mesmo. É parar, respirar e perder-se, e não saber o que falar e saber que se fala o que quer, é lutar contra si mesmo, contra o que impede e diz 'não' e te mata. É lembrar-se das palavras doloridas de outro alguém e viver depois de cuspir suas próprias ameaças a si mesmo, seus próprios socos e pontapés e suas celas maltratadas de prisioneiros políticos. É ser militante e acomodado, espectador e espetáculo, violento e vítima, pobre e consciente. É tudo que é antônimo e não devia ser. É tudo que é excessão para uma só pessoa, mas que, exatamente por isso, é excessão para todos. É cuspir, cuspir, correr, engolir, sujar-se. E agora vou escovar os dentes e tomar banho.

Um comentário: