30 de agosto de 2013

A viagem chega... antes do vôo. O subsolo do céu é aqui; e aqui, por modo de profissão, orientação vocacional, sobrevôo minha cidade antes de pausar sua vida em mim. Viajo... vou longe, volto para casa, dispo anos a menos, tantos quanto permitia a criatividade de tanto primo e prima junto imaginar altas colinas sobre as sacas de café do vô

28 de agosto de 2013

lá estava ela, realmente, mas nada mais. Eu devia parar de querer qualquer coisa com todo mundo, penso, sem pensar de fato em demasia. Penso que, bem, ela não me quer, como posso ver, e como posso não mais querer. A ansiedade do meu corpo, que busca o nada continuamente sem se convencer de que nada há a buscar, a ver e quer, como se eu fosse mais uma desaforada mulher em busca de uma saia sem significado. A atenção que eu quero, não tenho calma de cultivar. Queria na verdade olhá-la sem prazo, até dar tempo de inventar todas as coisas que satisfariam as minhas necessidades sexuais e amorosas, e deixá-la ir... gostaria profundamente de tê-la... para nada. Nada mesmo, nada em si, apenas quero caçá-la, agradá-la, e deixá-la ir embora feliz.
neste momento eu mesma penso, quase sem pensar, no seu semblante desejoso de eu parar de adiar o momento decisivo de destruir as dúvidas teóricas que a ansiedade cria na presença de um silêncio prolongado, estendido, esforçado para aumentar o prazer da imprecavida resposta. Neste momento, desprovida de criatividade enquanto minha mente faz crer que o que eu vejo está de fato acontecendo, você se encontra pelada na mesa do bar, tomando um gole de chope gelado, que pinga tão perto do bico do seu peito. Tudo suspende-se, estou chocada, imagino o que os outros estão sentindo ao ver uma cena dessas, e me lanço com o canto dos olhos. Na verdade tenho muita dificuldade de prestar atenção em qualquer coisa, não tenho certeza do que vi, preciso olhar de novo para ver se estão vendo, mas preciso olhar pra você antes para saber se continua assim, nua na minha frente, displicentemente sentada na cadeira de madeira, me olhando como se me esperasse de alguma forma que eu não posso fazer nem ideia, imagine se eu esperava por isso, estou esperando há tanto tempo. Não consigo olhar para os outros, você está de fato toda sem roupa, e eu não tenho tempo a perder, os outros estão naturais aos cantos dos meus olhos, eu estou explodindo em todos os poros, será que estou gozando, penso enquanto gozo, paro de pensar na exata hora que alguém me pergunta qualquer coisa, será sobre a semana, será sobre o clima, será sobre o trabalho, eu tento escolher a resposta coringa da pergunta fática

27 de agosto de 2013

enquanto eu tento ignorar que me sinto total... ele me esforça. Demanda as minhas impressões das coisas que me impressionam, dele, que se pressiona em mim, e eu, cheia-de-si, enquanto devo dizer outras coisas, falo de mim, travestida de todo o resto. Com mais ou menos letra, mais ou menos desvio, não sei falar de mais nada, me falo, me falo, e em determinado momento não me aguento, dou risada, o que foi, e eu continuo a contar como se fosse coisa nova o que me veio na mente.

26 de agosto de 2013

Muito difícil concentrar. O trabalho me exige pelo lado de fora... e eu existo de verdade dentro.

Concentro-me em você - me acalmo. Você chega, impressionantemente, por fora, mas eu vejo e vou te vendo, por dentro também te percebo sem te perceber percebido. E você acontece em mim, sorrateiro e ladrão, tão calmo, tão sem nada, tão em si. Posso a todo momento revoltar-me de você, fechar-me de você, cansar-me de você, desgostar-me de você, voltar-me a você, e você está ali se sendo. Te encosto e te espero, porque você acontece. Me revolto de você em mim, te revolto em mim, te gostando. Te duvido, te duvidando sem te duvidar. Aconteço ao seu lado, que me deixa livre para te empurrar, e quando te empurro sigo junto, porque meus átomos com ou sem minha consciência vão atrás. Te desgosto e sigo gostando. O tempo acontece sobre a gente.
Difícil concentrar, mas não sei por que motivo. Procuro insistentemente nos hemisférios da minha lembrança e do meu sexo todos e todas as amantes perdidas entre as minhas vontades - todos esvaziados. Não encontro ninguém nos longos caminhos da minha imaginação sexual. Todos esvaziados. Inventar? invento... já de natural fazer; questão é ser inventada. Sigo, acompanhada de perto por uma atenção exógena, mas minha - a gravidade me pressiona de baixo para cima. Pelos lados, me pressionam também. Encontro questão em não escolher por quem, tão aleatórias esbarradas, friccionadas, arranjo questão em não escolher de quem. Mas, ao não escolher, está escolhido. Aconteço.

18 de agosto de 2013

ah noite, grande, demoras... deixe de ser besta, meu encantamento não é você. está vendo... ali... aquela perna? você não tem... embora tenha tantas outras, além de sua constância... mas sim, olhe só, não tens o enlace da incerteza de se virás de novo, não se dá em dúvida, tenho certezas de que vais embora, e vais. Me deixe. O que pede, se não te faço nada, além do que você faz por mim?
exatamente, eu queria o quê, eu queria ir na máquina bater você  mas eu tenho receio que os vizinhos acordem à noite e eu não sei o que eu vou dizer. Imagina, se até pra mim, o que eu vou fazer além do que já faço? Nenhuma nova ideia. Eu posso aproveitar a satisfação de se estranhar o outro estar à vontade (esta, eu) e acabar perguntando, será que é isso mesmo? É isso mesmo, meu bem, mas você pirou

15 de agosto de 2013

O desejo   corrói meu desejo. Calma, parada, quase disfarçada - bombeia em mim a função do desejo. Olho de lado, ignoro, levanto-me devaneando para outro lugar. O desejo caminha... bombeia. Inspiro, não sei o que acontece, rudemente abstraio-me. Ele me toma, idiota. Ignoro-me. Tenho ideias maliciosas sem tê-las. Sinto-as, vorazes, em busca de presas, que são eu. Desejo-me, desejo-me, desejo-me, e me dou, me desdou, lentamente, para tentar o meu tesão.

12 de agosto de 2013

um buraco, uma broca, entre o espaço físico de todas as coisas e o espaço físico eu, pura ilusão de materialidade. Vivo ali onde não se vê, expansivo e macio, gordo; a minha consciência imaterializada sou eu. O vácuo espesso da minha realidade engana bem vindo os meus interlocutores. Não estou nada. Quando me aproximam, observo com algum choque e algo de incrédulo o meu universo poder ser tocado com as mãos. Então me tocam, e em mim as estrelas das minhas sensações espalhadas se aglomeram todas, como que fossem atacar, mas não querem. Observo, mas não olho. Dou tempo a tudo de não me assustar.
Eu penso em escrever, mas em mim, limitam-se os caminhos que chegam a eu saber dizer qualquer coisa. Sento-me, com paciência, sem mais nada. Não é que deseje produzir, embora deseje, desejo sair, mas prefiro ficar. Estou parada em não ter palavras, nenhuma, não em não ter palavras para dizer alguma coisa, para desviar a atenção de qualquer outra, para chegar a um sentimento que não sei, que não sabia ter, que talvez não tenha: o que não tenho são palavras. Não tenho jeitos. Não tenho formas, não tenho ideias, tenho, bastante, espaço. Preenchido, não preenchido, não consigo ver, embora sinta, intensamente, eu. Existem muitas coisas fora do domínio que consigo explorar; e embora me agrade e me acalante a percepção de que nada tenho a dizer, por não ter mesmo o que dizer, como é difícil me deixar ficar sem falar.

5 de agosto de 2013

congelo, ante o momento, crucial, de saber. E passo intocada pelo voraz descobridor de todas as coisas, a pressa. Espero um segundo, quando vejo meu impulso indo, e vou atrás dele para desvendá-lo, desmascará-lo silenciosamente sob este arbusto que anda comigo em camuflagem. Camuflo-me, naturalmente, ao caminhar pelas veredas do mundo com você dentro. Em distância, vivo, além de outras coisas, na ausência do seu existir no meu mundo. E agora, quando você vem, a rainha sou eu.

3 de agosto de 2013

A ansiedade imóvel toma o meu corpo. Abaixo dos pulmões sinto duas áreas geladas respirando-me de um jeito estranho. No diafragma, uma bola de frio me suspende em pontacabeças. A minha pele treme - os meus ossos não. O fio que me mantém ereta, mantém-me muda, perplexa, emaranhada embora reta.

2 de agosto de 2013

Espero, faço silêncio em quase tudo. Apenas um índice baixo dos meus indicadores vitais expressa que estou por aqui. Mantenho baixas todas as vibrações da minha mente, meu corpo tenta esquecer que você está perto de estar por perto. Passo tangenciando a atenção exagerada de me ter atenta. Disciplino quem sou a ser. Intimido quem sou a ser. Procuro passar incólume à sua presença, embora já comece a ver a perna das reticências que te antecedem. Não invento nada neste momento, respiro no limite de saber e não saber estar respirando. Estou errando as músicas que me preparam para te encontrar; também não tenho como acertá-las. Apenas o que acerto é não estar cedo e estar certo.