27 de novembro de 2007

Writer's Block(?)

No momento, não penso em fazer sentido. Penso em escrever. Não tem sido algo freqüente e sinto falta. Curiosamente não parei para pensar por que motivo isso tem acontecido, também não sei por que pensei que ia parar. Ainda penso que vai, mas está demorando. Há, nos rascunhos, um texto que começa dizendo exatamente isso, que tenho escrito pouco e que estou tentando, cada vez que vejo essa página com datas tão antigas, encontrar algo que me pareça razoavelmente bom para escrever (mesmo que, de certa forma, eu acredite que tudo seja), e tentando desenvolver alguma coisa digna de ser lida. Mas então esse mesmo texto puxa outro assunto e não consegui desenvolvê-lo propriamente. E essa é a razão pela qual é ainda um rascunho, como outras tantas coisas que eu gostaria que estivessem já prontas e que, na mesma intensidade, gostaria de me deleitar com o processo até chegar ao estado final.
Essa escassez de textos reflete uma escassez de coisas novas, de atividades novas, de experiências novas, de tudo o mais. Reflete essa poça d'água que já já virará foco de dengue a qual não consigo sacudir por mais que me debata(talvez fingidamente) e quase morra - uma morte que seria iminente se eu não fosse dos seres humanos impertinentes que decidem sobreviver. Pensei em pedir uma idéia a alguém, pensei em fazer "posts interativos", mas primeiro não é muito como eu queria fazer a coisa, e segundo não é como se houvessem muitos leitores que gostassem de comentar por aqui(ainda que, é bem verdade e foi bem notado, algumas pessoas ganharam voz - e eu adoro e agradeço -, mas é verdade que algumas outras sumiram um tanto. E eu não quero, não vou e [ainda] não acho muito digno cobrar nada por mais que a conversa com o Beto tenha servido para me estimular nalgum sentido mais participativo em convívios, insistências e intromissões - ainda que esse estímulo mantenha-se em teoria uma vez que a minha vida social em Portugal é uma merda incrível e surpreendente. Só para elucidar àqueles que não estavam presentes na conversa - ou seja, qualquer outra pessoa que não seja eu ou o Betinho haha - a conversa girou em torno de cobrar explicações dos outros [principalmente/nomeadamente amigos, que eram nosso foco] e sentir-se no direito de fazê-lo).
Então, sinceramente, eu peço desculpas pelo blog parecer assim abandonado, mas realmente é somente uma falta de habilidade de passar para o papel os pensamentos abandonados que se debatem uns com os outros e comigo não só por serem naturalmente revoltados, contraditórios e insistentes, mas também por estarem presos. Se é pesar para alguém que Novembro tenha tido, até então, 11 posts - um a mais que o mês inicial, quando eu mal entendia como mexer no layout do blog (e ainda entendo mal e porcamente) - , esse alguém certamente sou eu, que tenho sofrido horrores cada vez que olho esse número medíocre que joga na cara quantas vezes, em 27 dias, eu tive a capacidade de externalizar alguma coisa - sem contar que algumas dessas externalidades foram secas e sucintas, por mais profundas que fossem pra mim.
Para além disso, quem tiver quaisquer idéias que sirvam para desancorar meu barco sabe onde pode deixá-las (e essa sessão permite, sempre permitiu e sempre permitirá o anonimato - e eu não tenho quaisquer meios de identificar quem é a pessoa que comenta, a não ser minha capacidade, que não se afirma muito boa, de identificar formas de escrita. Por fim (e mais pra mim), paciência. Alguma coisa há-de vir.

é só lembrar

- Veja você onde é que o barco foi desaguar
A gente só queria um amor
Deus parece às vezes se esquecer
- Ai, não fala isso por favor
Esse é so o começo do fim da nossa vida
Deixa chegar o sonho
Prepara uma avenida
Que a gente vai passar - Veja você, quando é que tudo foi desabar
- A gente corre pra se esconder
E se amar se amar até o fim
Sem saber que o fim já vai chegar Deixa o moço bater
Que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos
Pra um amor de tantas rugas
Não ter o seu lugar Abre a janela agora
Deixa que o sol te veja

É só lembrar que o amor é tão maior

Que estamos sós no céu

Abre as cortinas pra mim

Que eu não me escondo de ninguém

O amor já desvendou nosso lugar

E agora está de bem Deixa o moço bater

Que eu cansei da nossa fuga

Já não vejo motivos

Pra um amor de tantas rugas

Não ter o seu lugar Diz quem é maior que o amor

Me abraça forte agora

Que é chegada a nossa hora

Vem vamos além

Vão dizer que a vida é passageira

Sem notar que a nossa estrela vai cair

23 de novembro de 2007

And all of a sudden,

I can wait.

20 de novembro de 2007

Sob o meu travesseiro

Esse vento de agora, que vem anunciando a mudança do clima, não é um sussurro, tampouco um assobio. Vem gritando as almas caladas da cidade, vem chorando os prantos escondidos guardados sob os travesseiros. Talvez seja o choro de nós todos jogado ao mar aumentando o nível da água e fazendo afogar a Holanda.
Faz-me lembrar tanto daquele dia em que ouvi sua voz e veio em mim algo maior que essa saudade e esse mar. A engolfada louca de tudo que não é palpável, mas palpável foi a gota quente que parou ao desnível da bochecha quando o corpo, louco, interpretou a expressão de dor-amor perdida como um sorriso, e fez desenhar no lado do rosto a espetada da agulha que eu sentia no peito. E por esses dias fiquei pensando em ti e na vastidão do seu significado e na vastidão da sua ausência e na vastidão que você é e na vastidão dos seus sentimentos e na vastidão dos meus. E pensei na sua falta. Racionalmente (o que não tem como significar 'sem sentimento', mas tem como significar 'sem desespero'), pensei na sua falta. No significado da presença e no significado desse espaço vazio, desse número sem corpo na agenda do celular, dessa fresta por onde passa o ar frio que seus dedos tão finos conseguiam reter mesmo que eu estivesse num lugar aberto por todos os lados. E tenho duas mãos cheias de lembranças de expressões, e do prazer da sua risada, e das suas mãos de cartas, de cerveja, de cigarro, de mim. E tenho uma mão cheia do medo de parecer eloqüente demais, insistente demais, sozinha demais, dependente demais, cansada demais, ausente demais, esperançosa demais, medrosa demais.
Mas de você, de você não tenho medo. Tenho aquela mesma curiosidade de que lhe falei um dia. E de que cor você é? Vejo-te vermelha, como as palavras pequenas tão grandes que vejo na tela iluminada demais. Como eu, demais. Vejo-te amarela, como as mesas do bar no qual anseio ver-te sentada de novo, rindo de novo, jogando de novo, falando de novo, e olhando indignada de novo pro meu copo de refrigerante. Vejo-te azul da cor do mar, do mar que logo cruzo para voltar. Vejo-te rosa, como a cor vibrante da sua camisa. Vejo-te branca, do branco da sua pele, de você por fora. Vejo-te vinho, roxo ou qualquer outra cor intensa, como você é por dentro.
Chorei quando ouvi você dizer da iminência do seu choro, sem saber anunciando o meu. Chorei de sentir você tão louca, tão grande, tão presente em mim. E quero chorar agora. Porque você é muito, e muito é o que você é e seria noutro canto, mesmo que eu nunca tivesse visto o seu rosto. E grande você é mesmo que eu a veja pela mente e por fotos e sinta sua intensidade evasiva e invasiva sempre em mim, nos outros, em todo o resto. Sinto sua falta tanto. Tanto, tanto. Estou tanto eloqüente, tão latente, tão.
Você é muito, é tanto. É bonita como a ausência de poesia que vê nas coisas, é bonita como a presença de poesia que vejo nas coisas. É bonita como a ausência de palavras que me toma quando a boca já está aberta, e bonita como a presença de palavras que encontro na hora de dormir. É bonita como a ausência de explicação, e como a presença de entendimento. Como a ausência de você, e a presença mais ainda.

15 de novembro de 2007

Uma da tarde

Postes ligados, lanternas dos carros acesas, luzes nas casas, sobretudos, botas e cachecóis. Olá, inverno.

Que azar

Como ponto de luz na neblina do cotidiano, o aviso no quadro-negro(branco) da sala e a voz conhecida de um dos únicos portugueses do dia-a-dia que me tem o apreço anunciavam uma palestra sobre apropriação e repapropriação do espaço na cidade do Rio de Janeiro. "Uma palestra conferida por um antropólogo brasileiro", o professor havia dito. E, então, lá fu eu na intenção acadêmica de saber mais sobre um dos lugares mais conhecidos do País e noutra, um tanto tola, de matar, de alguma forma, a saudade de tantas coisas.
Pois que agora, enquanto vou dizendo tudo isso, o palestrante lê o texto à sua frente. Aham, . (Isso foi escrito durante enquanto ele palestrava.) Mas ah, amigo, se eu quiser ler, compro-lhe o livro que o senhor disse ter resultado do relatório da pesquisa que o senhor conseguiu descrever para nós até quando podia demonstrar o estoque de conhecimento que compõe o quadro teórico sobre o qual o senhor se deita à noite.
E então, de forma inesperada, nenhuma saudade foi velada hoje; pelo contrário, algo esquecido renasceu. Havia sido trazido à luz mais cedo esse dia (pela Mari - a irmã), mas não com tanto impacto como agora.
Lembro daquela bonita filha de diplomata brasileira nos dizendo que, em Portugal, na maioria esmagadora das vezes, tudo que é atribuído a um brasileiro o é feito por, antes de mais nada, ser brasileiro. É muito alegre, é por ser brasileiro; é muito amigo, é por ser brasileiro; é mal educado, é por ser brasileiro; é pouco estudioso por ser brasileiro. Pois aquele auditório em cujas paredes reverberava a voz daquele antropólogo da UFRJ estava repleto portugueses, e eles todos, ao fim, diriam que palestrantes brasileiros não sabem propriamente expôr o conteúdo de uma pesquisa na qual eles mesmos participaram. (Ora, não todos, mas vocês entenderam.) Ora eu, bom, eu pensava outra coisa.
Eu pensava, sem ver estampados no rosto de barba bem feita daquele senhor dos seus 50 e poucos anos o retângulo, o losango, a bola e a faixa, que era uma pena que não pudemos ter uma palestra "decente". Olhos todos temos, poderíamos todos (ou quase todos) estar sentados ali, numa cadeira ligeiramente mais confortável que a nossa, a ler um texto para umas 60 pessoas; pensava que já tive exposições e exposições de conteúdo por outra antropóloga brasileira que sabia plenamente como manter um assunto interessante por duas horas; pensava que ele poderia ser um bom antropólogo, pesquisador e, certamente, leitor, mas era um fraco palestrante.
E, como era mais que natural, a certa altura da palestra a chuva de pessoas começou. Desciam, primeiro uma, depois duas, depois três, depois o mundo, das suas cadeiras e iam atravessar a sala em busca da porta, salvação mais próxima. É que pouca gente se presta, às 19h de uma noite de 14ºC, a uma aula mais maçante e modorrenta que o verão desse ano, de que eles (os portugueses) tanto se queixaram, nem que, nessa sala de caideiras duras cor de vinho, a temperatura seja regulada.
Eu fazia parte daqueles que permaneciam sentados ouvindo-o ler(e vale a pena ressaltar que é isso que os pais fazem para as crianças para pô-las a dormir), daquelas caras-folha-em-branco que não absorviam basicamente nada a não ser as piadinhas contadas por ele como quebra da monotonia textual e que eram todas, tragicamente (ainda que fossem cômicas), ligadas à parte informal da pesquisa, que ele constantemente ilustrava com "as reuniões no armazém do seu Zé" ou "o engradado de cerveja que eu tive que dar por ter perdido tal aposta".
E, ainda, havia aula das 20h para pegar, à qual eu não sou freqüentadora, mas que teria de ir hoje para repôr a das 10h da manhã à qual não fui porque a outra brasileira que conheço resolveu me informar, erroneamente, que não haveria.
Que azar.

5 de novembro de 2007

Suspensórios&Boinas

yes, I'm super duper excited!

Re: "como se chama isso?"

soou familiar, bastante. incômodo principalmente no "não converso mais tanto comigo". cheio de verdades, isso. pessoais. encontrei um estágio pior esses dias. é conversar comigo freqüentemente, mas perceber que a resposta pras perguntas postas dependem doutros corpos. é ruim. achei ainda pior. que quando dependem só de si, é uma guerra constante, e uma inévitável resposta já vem da própria guerra em si. talvez a resposta seja até o esquecimento da questão. mas agora não posso esquecer. sei que têm respostas, sei que estão nalguns lugares distantes, e não consigo esquecer. vou guardando-as no meu baú e espero que ele não se encha rápido, que donde saem dúvidas e indecisões virão mais e mais. e precisarei de mais e mais corpos outros. e depois desnudarei todas as complexas semi conclusões que fiz perdida em mim mesma, todas as respostas turvas que carecem de verdade empírica que fabriquei. preciso doutros corpos urgente. corpos com nome, rosto, vozes, ares, cabelos, imagens familiares. eu sei, você sabe. eu preciso, você sabe. eu terei, nós sabemos.
acho que o nome disso é "descoberta".

Isto é a real

Depois de abrir este e-mail, não há retorno. Abaixo são verdadeiras >descrições de signos do Zodíaco. Leia seu signo e reencaminhe-o, com seu >sinal de Zodíaco e etiqueta na linha de assunto. Isto é a real, e se tentar >ignorar ou mudar isto a primeira coisa que vocênotará será tendo um dia >horrível que começa amanhã de manhã - e só obtém pior a partir daí.
Olha as desgraças que aparecem na minha caixa de entrada.

Sobre eu e meus primos

Hoje vi, às três da tarde, postes com luzes acesas, precipitados já em tirar-nos do escuro. Quietos, estáticos, mudos e obedientes, mal sabiam que faziam um trabalho já feito, que iluminavam o que já estava às claras, pois se nem Berlin escurece às 15h no inverno, que dirá Lisboa, e ainda por cima com um verão que, para infortúnio dos portugueses e sorte minha, parece recusar-se a ir embora.
Talvez eu deva sentar-me no viaduto que eles pensam colaborar na iluminação e conversar com eles, saber há quanto tempo vivem nessa condição, como foi acostumar-se a ela. Estamos parecidos, esses dias. Esses tantos dias. Vejo seu mecanicismo, sua cegueira de não questionar razões e fazerem seu trabalho calados marcados nos meus passos frios de todos os dias. Conheço a sensação de só obedecer, de continuar, de manter-se estável. Esse determinismo tem feito o que de mim? Odeio marionetes. Acho-as feias e desengonçadas, estúpidas e sem graça. Só não digo que sou uma delas pelo fato de que sou eu (sou eu?) quem comanda meus fios, minhas linhas, minhas condutas. Não sou um poste por essa mesma razão. Mas sou prima dos dois. Nem todos têm uma família ideal.
Até quando irá o conformismo de viver os dias sem tesão? Quanto tempo durará a felicidade contida no observar da felicidade dos outros? Quanto tempo o sorriso se manterá no rosto que se lava de noite, que se lava por dentro, que não renasce todos os dias como antes, mas que gruda no rosto e nunca mais sai porque, se sair, é possível que não volte? Por quanto tempo a tecnologia saciará, as palavras serão suficientes, as certezas serão certezas e as dúvidas serão secundárias? Por quanto tempo seremos eu, eu mesma e a ausência de Irene?
Sinto mais por mim que pelos detalhes das coisas o fato de eles estarem gradualmente assumindo tons de cinza. Distinguo criminosos pela escuridão da sombra sob seus olhos, não mais pela presença ou ausência dela. Tudo é cinza, tudo é pálido, as diferenças antes gritantes das cores de Kandinsky espalhadas pelas ruas são agora a arte das fotos em preto&branco, mestres em dramatizar exponencialmente uma cena triste ou de congelar um cenário alegre como a memória mais distante dos nossos dias de ouro. Sinto muito mais por mim.
Mas, por vezes, alguém se aproxima. Ironicamente, aproximam-se todos para, sem saber, piorarem minhas condições inerciais. Tiram-me do meu casulo conchegante para me darem a esperança de uma aproximação externa, de um contato desconhecido. Mas, curiosos da minha terra encantada, relembram e cantam as graças da minha pátria e concordam com a escuridão do exílio, com as características do Velho Mundo com as quais não me identifiquei, nem me enamorei, nem quis, nem quererei. Lembram-me do gosto das frutas da minha terra, relembram Alice das delícias de Wonderland e depois vão embora sem nunca mais voltar, sem achar que deveriam voltar, sem achar que os sorrisos criam laços e iniciam relacionamentos.
E dou meus sorrisos de graça em praça pública e, como tudo que é dado, eles perdem seu valor. Significam mais nada para mim, a não ser mais um simbolismo do esforço em vão, a luz dos postes precipitados que os mantém na sua vida de todos os dias.

Espelho

4 de novembro de 2007

-----Email Message----

Sent: Sunday, November 04, 2007 3:55 AM Subject: friend died, nobody helped....
you will learn how to help yourself. it will break your heart, and it will make you strong.