28 de maio de 2008

Nossa vida é um circo

Nossa vida é um circo.
Que se há de fazer senão ser equilibrista?

Sobre encontro de corpos e a hipocrisia do Amor

Há múltiplos motivos para que haja um encontro de carnes. Desgosto de quem nomeia o Amor como a única causa dele, ou quem se considera compreensivo - ou moderninho, como diriam nossas mães -, e dá igual relevância ao tesão, mas a nada mais. Mas o Amor é ainda mais puro, o Amor é nosso auge maior, o Amor é o que não alcançaremos por nossa desconcertante e inconcertável podridão. O Amor é Deus.
Mas é por ser Deus que o Amor é inevitavelmente dissimulado, ela queria fazer seu ponto, e vice-versa. O Amor é tão dissimulado que sequer ama. Não, nós amamos, ou genuinamente tentamos, mas o Amor é quem é mais esperto. Nós nos multiplicamos e desdobramos e matamos e dizemos que jamais aprenderemos a amar. Mas o Amor só é chamado Amor por não amar(!). O Amor é uma popstar que dá festas de madrugada em suas mansões de luxo. Nós dormimos cedo para o trabalho do dia seguinte e reconhecemos nossa inferioridade e sabemos que não sabemos e jamais saberemos amar como o Amor. Jamais conseguiremos abraçar o Amor, jamais seremos puros o suficiente para o Amor. Mas o Amor é um homem que responde pelo nome de Don Juan. E nós somos os ingratos que nos envolvemos com redes de prostituição mesmo que tenhamos mulher e filhos. Somos um escândalo e atendemos pelo nome de Bill Clinton. Mas o Amor é o vigarista desfarçado que vende rosas a cinco reais no dia dos namorados e grita que é promoção. Nós somos o cuspe de Deus e o beijo do Diabo; nós somos o cigarro que rola pelo chão da auto-estrada, e o Amor, em seu trono é o boquete da donzela cujo cigarro agora morre sem ar no asfalto quente. Nós somos a moeda jogada do carro para a criança que tapa buracos e o Amor é a roda que lhe joga poeira. Nós somos as bocas abertas e os corpos prostrados e o Amor, com sua sabedoria, o Amor são nossas línguas e mãos.
Agora, lhe digo, há inúmeros motivos para um encontro de corpos. Há nossa curiosidade, nossa ruidosidade, nossa amizade e mais ainda nossa idade. Há nosso costume, nosso ciúme, nosso estrume. Nosso ócio, nosso bócio, mais ainda nosso negócio. Há nossa inércia, nossa modéstia e principalmente nossa amnésia. Há nossa mescla, nossa conversa, nossa festa. Nossa histeria, nossa fantasia, um brinde à nossa hipocrisia. Há nossa malandragem, nossa sacanagem, eternamente nossa personagem. Nosso furor, nosso torpor, ode ao nosso rancor. Há nosso desvio, tudo aquilo que é hostil, ainda mais nosso cio. Nosso prazer, nosso romper, nossa vontade de (não) ser. Há nossa doença, nossa descrença, nossa impiedosa sentença. Há nossa mania, nossa agonia, mais ainda nossa orgia. Nosso tesão, nossa fração, nossa ausência de razão. Há nosso choque, nosso enfoque, nosso sempre renovado estoque. Nosso esporte.
- Continuaremos a fazer brigas com nossos corpos porque descobrimos o segredo do Amor, e jogamos no seu time.

27 de maio de 2008

Desejos e estímulos

E quando eu estiver bem cansada, que ainda haja amor pra recomeçar.

20 de maio de 2008

Roberta amando-me pela noite

Eu deitada de lado na cama confortável por conta do meu cansaço, dormindo como se houvesse sido embalada por mamãe, e Roberta vem e me acarinha o rosto com dedos de seda que não imaginei, e me olha carinhosa, amorosa, quase devota, semi-apaixonada e quem sabe agradecida, e quando me mexo como se fosse despertar, vai embora rápida e leve como um suspiro, e me deixa a alma como se eu tivesse sonhado.

Sobre o espaço das vinte e quatro horas

É lindo quando você pode sorrir satisfeito enquanto o dia ainda não chegou ao fim.

15 de maio de 2008

I'm freaking out

because I can't be two at the same time. But although I want to be two at the same time, I do not want to be two at the same time.
And although this doesn't change my love, it changes everything else.
And I could never be more sorry than that.

13 de maio de 2008

Sobre a vida em double-decker buses e fora deles

Que sentada donde está, na minha diagonal traseira, lê sobre meu ombro os caracteres da sua língua mãe ordenados de tal forma que não fazem sentido, e quando bate as esferas cansadas sobre Brazilian News, reconhece algo que não códigos que não entende. Olha para a esquerda possivelmente, lançando o olhar para o mundo que ainda gira do lado de fora do ônibus, e o ônibus também gira, e sua cabeça e a minha, mas ela acha normal. Estranho acharia se nada girasse. Olha para o verde que se estende de nós até o Palácio de Buckingham que não vê mas que sabe onde está e observa alguns corpos esticados sobre a grama e as cadeiras de sol dispostas como se também elas estivessem aproveitando o calor atípico que Londres tem visto na última semana. Entra na rotatória e lança um olhar corriqueiro para o Arco de Wellington, sem achar grandes coisas porque é difícil, maldição, espantar-se continuamente com o que não é mais novo. Abre um jornal já um pouco amassado só por existir, como ela, e escaneia mais uma notícia denunciando as peripéricias de Amy Winehouse enquanto ainda, ou já, era madrugada. Se surpreende de leve que ainda chamem isso "news" e vira a próxima página, cuidando para não invadir o espaço do desconhecido ao seu lado, que olha pelo vidro como se o ônibus fosse mais uma prisão e como se sentar-se à janela fosse sua única forma de conseguir "um lugar ao sol", mesmo que, como dito, Londres tenha feito clima de verão. Ao meu lado a programação da semana caminha pelos dedos de Mariana e descobrimos que há algo brasileiro amanhã, roda de samba ou qualquer coisa que tenha o gosto de casa, e me pergunto porque todos procuramos por pedaços de familiaridade estando imersos no desconhecido, e a resposta parece óbvia, mas não é. Santa Cruz quer autonomia da Bolívia, diz o jornal no meu colo, e mesmo que a escrita dele seja pobre, me serve de algo. O pensamento voa - nunca descobri como prendê-lo - e de repente me encontro confabulando planos de vida, a maioria, se não todos, satisfazendo minha procura por completude. Penso em tudo que deixei para trás e estou deixando com um sorriso que não sai e reencaro algumas escolhas e acho bonito que as queira abraçar agora, acho bonito que as queira abraçar de todo, é sempre tão fácil crer que os braços não são longos o suficiente para dar a volta completa em algo. Tento esticar os pés e lembro que estamos sentadas na primeira fileira de bancos e não há espaço suficiente para o meu expansionismo. O pescoço ainda dói da ousadia de ter dançado como se meu corpo estivesse acostumado sábado à noite. E é lógico que repetiremos doses, não há forma melhor de embriagar-se. Chelsea passa à minha direita; Caetano Veloso e Gilberto Gil já viveram exilados aqui, marinheiros sós, e hoje o lugar é dos mais caros de Londres. Em casa são quase oito e o sol ainda dança lá fora, repetindo doses há anos para perpetuar nossa embriaguez.

7 de maio de 2008

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Gosto de dar nome às minhas falhas, na maioria das vezes as chamo de idiossincrasia.

Colarinhos azul-bebê

Não sei por que é que nos vestimos de gala e sentamo-nos à mesa de jantar pomposos e com o ar mal disfarçado, ornamentado de colares de pérola, do nosso tédio crônico. Devíamos é sentarmo-nos nus sob mesas de bar corrompidas pelos nossos desejos não realizados que nos apodrecem a carne e que dirá o espírito e trocar os travesseiros dos gansos assassinados para o nosso bel frívolo prazer pelos seios - e pelo amor de deus que não sejam castos, que de tão castos estamos todos castros - rosados, negros, amarelos, pardos de nossas mulheres pagãs amaldiçoadas pelas saias e cabelos sujos dos seguidores de olhos fechados. E pobre destes seios se nos fornecerem leite!, o que queremos é uísque. Fodam-se os saltos altos e as pulseiras coloridas das mulheres esguias de capas de revistas de salão. Queremos o corpo com carne das moças sem maquiagem e das velhas sem lifting e as lingeries pornográficas dos sex shops mais baratos da cidade. Não queremos lingerie de forma alguma, queremo-las nuas como as dunas maliciosas do Saara e queremos suas coxas uma de cada lado do corpo do cavalo. Queremos homens sem gravata, sem maleta, sem provisões, sem futuro, sem o gel no cabelo cortado no salão mais caro da redondeza. queremos cabeleireiros que não sejam gays pela regra e paguem suas prostitudas com laquê. Queremos orgias de olhos abertos e amores trocados por diversão. Queremos baralho na mesa e queremos blefar só pelo tesão. Romperemos as blusas pelas golas e as camisas pelos botões e amarraremo-nos com cintos que não sejam de castidade.
Mas de manhã e no horário da missa usaremos batina.

6 de maio de 2008

Destacando

"What a different society we would have if morals were exclusively about our consideration and tolerance of others, instead of the manner by which we have an orgasm."
Colin Spencer, Homossexuality - A History

4 de maio de 2008

"Life happens"

It's almost unfair to be apart from him with this amount of love inside me.