31 de outubro de 2007

Partindo do princípio

de que tudo na vida é tragicômico, tenho que se mais flexível com as pessoas que riem de coisas nas quais não acho graça alguma.

29 de outubro de 2007

Sobre scraps (acredita!?)

"Olhando umas fotos aqui, percebi uma coisa. Sinto saudades da covinha da sua buchecha esquerda."
"Eu quero que você volte, podes crer"
Esses e outros foram tão significativos. Que gostoso.

28 de outubro de 2007

(...)uma forma simples de dizer ‘te amo’ no meio de maldizeres.

26 de outubro de 2007

Sobre você

http://www.fotolog.com/bicalho/26614676
por mim, eu diria que ignorasse os "uuui", os "que romântico", os "uau". são todos tão menores, tão simplistas, tão insanos e rasos. e olhe seu rabisco, o que você exprime. você é tão complexo. você é tão simples. você é tão bonito.
eu te gosto tanto.

23 de outubro de 2007

Love me

O egoísmo, ah!, o egoísmo,

tão intrínseco ao amor...!

Sobre frustração

Percebi que a frustração por ter deixado Brasília é tão grande que, por vezes, mesmo tendo a certeza absoluta da vontade de voltar, parece-me que nem isso (a volta) mais é suficiente para conformar-me.

22 de outubro de 2007

Sobre passos, agarros, arranjos, descasos

Quando a quentura escala seu pescoço, turva, pesada, lenta, e nesse ponto você engole um caldo quente, que te lava o que encontra pela frente, e escorrega por tudo, carregando ondas.
.
Seu corpo e o meu, e os centímetros. Meu estômago nas alturas, mas, na realidade, na altura do seu. Seus pés e os meus, chutando-se. Eu piso para frente, e bato no seu calçado. Você pisa para trás, e bate na parede. Que parede? Não há nada, você só não quer recuar. Quer ficar no mesmo lugar, mesmo espaço, mesmo espaço que eu, se der. Eu sei que disseram que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, mas estamos perto disso. Tenho pena dos centímetros que esmagamos entre nós. Mentira, não tenho. Tenho pena de nós, que não estamos nunca no mesmo lugar.
Suas mãos nas minhas costas. Acho que estão nelas, pelo menos estavam um segundo atrás. Tenho sorte de descobrir cedo assim que você corre tanto: se descobrisse mais tarde, talvez corresse de mim. Mas agora corre em mim, corre, e espero que não encontre fim. Sempre gostei das suas unhas. Não me pergunte, sempre gostei. Sempre quis tatuar, também, e a combinação das suas unhas e da minha pele está-me fazendo economizar o dinheiro que eu daria ao tatuador.
Nem darei dinheiro a ti. Não hoje nem amanhã, só se amanhã for um fim mal arranjado dessa nossa intensidade, e eu te pague pelo trabalho bem feito, na ira do meu amor. Mas não quero, nem estou pensando. Estou pensando nos seus cabelos nas minhas mãos, e nem sei como chegaram lá. Seu cabelo está por tudo. Tenho-o no rosto, nas mãos, no corpo. Você tem graça. Eu a adoro. Quero rir, quero mesmo, mas cada vez que arreganho os dentes, você arreganha os seus, e descubro o quanto gosto dessa nossa briga.
Sua mão aperta minha cintura. Muito, tanto. Amém, dedos opositores. Acho que quem arranha agora sou eu, mas nem sei onde. Mal vejo. Meu rosto no seu pescoço, enterrado, e seu cabelo por cima, tentando esconder, como você me esconde, como eu te escondo, em mim, em ti, em tudo. E tudo é vidro. Que fracasso. Que fracasso? Penso, talvez, sucesso. Mas só talvez. Só talvez fracasso. Acho que quero criar-te guelras, do jeito que te mordo. Acho que quer implodir-me, do jeito que me aperta e abre a boca, sem saber se o prazer é seu ou meu.
E adoro o cós das calças. Você agarra o meu e puxa-o para si. Eu rio, e você engole meus sons. Você tenta controlar. Controla-te o meu descontrole. Não adianta. Eu também queria que fosse mentira, mas dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, mas você ocupa-me já por completo. Eu abri todos os poros e você selou-os consigo, e conseguiu deixar-me respirar ainda. Suas mãos ainda passeiam pelos jeans. Acho que as minhas também. Seu botão estapeia o meu. Ouço o som, você também. Ouço meu riso, o seu, sua respiração, a minha, seus passos, agarros, arranjos, descasos. Ouço meu pé batendo nalgo. É só um meio fio, não é parede, está longe do fim.

tu l'aimes parce que tu l'as perdu

Caminhando pelas ruas de Portugal, mais uma vez naquela velha cidade tão famosa pelas águas ditas curandeiras, passei os olhos pelas mesmas paredes pelas quais passara. Daquela vez, algo completamente diferente na cabeça. Nem me lembro o que era, mas nada um dia teve o contorno que agora tem, então asseguro que era diferente. E então, caminhando atenta às mensagens descuidadas nas paredes, às quais as pessoas descuidadas não dão atenção, fui vendo essa teia de coisas. Naquela altura não percebi, mas em todas elas, todas, um tanto da loucura de agora.
"Odeia-me" e alguns corações ao lado;
"Welcome" e um carro correndo atrás de um bonequinho;
"The sorrow does not fade away with time"
e, antes dessa, vi uma escrita em francês, que fez lembrar-me de ti e dessa loucura, que tem sido meus anéis de saturno. Nada sei de francês, só o suficiente para me fazer ridícula. Mas poderia traduzir de alguma forma se levasse a mensagem para casa.
"tu l'aimes parce
que
tu l'as perdu"
Você o ama porque o perdeu.

16 de outubro de 2007

Sobre reciprocidade

Interessante, no mínimo. "Excitante" também se poderia usar, mas não é essa tecla que eu quero apertar, apesar (e talvez principalmente) do fato dela ser facilmente apertada, consciente ou inconscientemente. Mas, enfim, é absolutamente interessante, a reciprocidade.
Quando os pensamentos são seus e estão enclausurados em sua própria cabeça, sua própria cela, na própria gaveta que a tipicidade do dia-a-dia, reguladora simples, fácil, prática e necessária do cotidiano, te coloca com ou sem o seu consentimento, com ou sem sua consciência, ou é mais fácil lidar com eles por ser opção sua abafá-los e trazê-los à tona quando lhe convém, ou é absolutamente mais difícil, porque no controle do seu abafamento e do seu afloramento você se perde nas suas próprias vontades de descobrir a verdade sobre eles. De uma forma ou de outra, a cabeça voa nas considerações positivas e negativas, deleita-se com as possibilidades, sofre com as possíveis castrações e deixa-se levar pela tendência característica de cada pessoa: se você é confiante, seus pensamentos em geral tendem a levá-lo à conclusão de que tudo dará certo; se for inseguro (há quem diga "realista"), viverá sob a pressão da possibilidade da não concretização dos desejos e das ambições; se, pior que isso, for uma pessoa negativa, terá a certeza de que tudo correrá mal. Mas os pensamentos e sensações são seus, alienáveis somente pelo isolamento a qualquer opinião externa, são loucos, vibrantes, coloridos, difusos, vigorosos, fortes e disformes. São confusão amorfa, ainda que você veja os contornos nítidos do próprio questionamento.
Agora, experimente reciprocidade.
Experimente saber que o que lhe ocorre ocorre também à pessoa sobre quem seu pensamento gira em torno. Não digo restritamente em relação a atrações, amores, paixões e afins. Esses são os sentimentos mais óbvios quando se fala de reciprocidade, mas pense amplo. Você vê o menino sozinho lendo um livro e tem vontade de conversar com ele, de socializá-lo, de conhecê-lo. Mas ele parece realmente compenetrado, realmente interessado no que lê. O que você faz? (como fas???) Ele, por outro lado, pensa que tem de recorrer à companhia do livro por não ter com quem conversar, por sentir-se isolado. Mas também não conhece ninguém e ninguém parece interessado em falar consigo. E então, de repente, você resolve falar com ele, perguntar-lhe o nome, descobrir quem é, ver se vale uma conversa. E vale. Excelente. Conhecer alguém novo, excelente. Vira curiosidade, coleguismo, amizade, parceiria.
Pense no amigo que você brigou e com quem parou de falar. A briga é já besteira, virou passado, detalhe perdido na imensidão que vocês criaram. Você não fala mais com ele, mas quer, ele não fala mais consigo, mas quer. E o momento em que um de vocês resolve prolongar um pouco mais o olhar, rir da piada que o outro contou a um terceiro ou simplesmente furar a barreira invisível do orgulho de cada um é quase como a primeira palavra do início da amizade, a primeira risada conjunta, o primeiro prazer partilhado e a primeira descoberta sobre o outro.
Mas não, não adianta. Nada disso parece mais forte que a atração, os amores, as paixões e afins. Pressionei a tecla "excitante", e, eu juro, isso foi uma precipitação do texto. Eu não iria necessariamente referir-me a ela. Não há jeito. Não há coisa mais latente que o desejo e a queimação que ele provoca, a intensidade explosiva de guardá-lo para si. Nenhum outro além do fantástico Oscar Wilde para dizer "The only way to get rid of a temptation is to yield to it. Resist it, and your soul grows sick with longing for the things it has forbidden to itself". E quando é recíproco, quando se descobre que é também fogueira para o outro, meu Deus. Não há maior completude.
O desejo do outro entra rasgante, vibrante, louco. Confunde-se com o seu e eleva o grau de sua própria perdição e é, soon enough, tudo que se consegue pensar.
Não é um texto bom. Eu não o achei. Mas precisava dizer. Or else my soul would grow sick with it, as it's growing now, as I knew it would and as it will stop.
[Imagem: PostSecret.com]

Sobre segredos e detalhes

15 de outubro de 2007

Sobre futuro

Tem coisa por vir.
oh, yes!

14 de outubro de 2007

Sobre sensações

Faz bem. O turbilhão e você.

12 de outubro de 2007

Sobre pressupostos

http://celebridades.uol.com.br/ultnot/2007/10/11/ult4233u173.jhtm Odeio o pressuposto de que todos acreditamos.

11 de outubro de 2007

Today's Fortune II, o retorno

Today's fortune: Society prepares the crime, the criminal commits it.
O orkut agora virou sociólogo e me acusa de crime. Ou me compele a cometê-lo. Se essa é minha "fortune", guarde minha "misfortune" para si, querido.
É cada uma...
(Mentira; se você pensar, tem até alguma profundidade que se pode levar pro lado pessoal nessa frase.)

Sobre a falha de "Sobre saudades"

Sinto saudades da beleza de espírito de Claudio Dantas.

10 de outubro de 2007

Pra ficar guardado aqui

"Não sei dos meus direitos de estar aqui. E juro que não é pressão. Hoje me deu saudade de você. Não é como se eu não tivesse constantemente, mas hoje percebi que você é única que eu deixaria tomar conta da minha vida. A única que eu nunca questionaria decisões, pois elas sempre iriam querer o meu bem. Talvez porque seja você que sempre me mostre que tudo tem três lados. Talvez porque seja você quem lê a minha mente, e sabe e entende o que se passa, mesmo que eu não admita. E convenhamos, eu não admito. E nem por isso desiste, ou abre mão. Talvez porque você entrava na minha casa e nem batia na porta. Saudades da sua risada, das suas mímicas especiais pra mim e pro Rô. Saudades do Rô também. Saudades de quando eu cai no pingo de ouro e vocês riram de mim, de quando você ficava passando o pé em mim, e do Gilderoy. De discutir a noite do acampamento, embora a gente continue fazendo isso, e eu continue certa. E a gente imaginava como seria quando a gente ficasse mais velha, quando os assuntos mudariam e tudo o mais. E a gente ficou, e eles mudaram. Bom pra você, nem tão confortável pra mim. E talvez nada nunca seja tão claro pra mim como eu e você, e se eu tiver metade de você em mim, tá tudo bem."
Pra ficar guardado aqui. Que vou tirar do perfil porque não é mais o tipo de perfil que quero ter, esses com escritas assim. E porque também talvez volte a querer mais tarde, como já quis uma vez. Mas enfim, pra deixar guardado aqui, por uma razão ou outra, e porque foi tão especial e inesperado, e pareceu-me tão verdadeiro e sério, e porque foi uma das mãos que me seguraram, e significou um monte, e porque basta.

9 de outubro de 2007

Vocês são excelentes

Se eu lhes dissesse o quão fantásticas as coisas são, acho que não acreditariam. Eu diria, noutra época, "Obrigada, meu Deus" e parte de mim ainda diz. Outra sorri agora mais feliz que antigamente e agradece à vida por ser assim, e às coisas por serem dessa forma, e aos rumos por terem esse traçado e ao tempo por ser relativo.
Não tem sido fácil essa transição Brasil-Portugal, essa mudança de vida, de rotina, de ares, de costumes, de lugares, de pessoas e de cultura. Não, não tem sido, e eu estive caminhando aos trancos e barrancos, entrando em pé de guerra comigo mesma pela tristeza da saída e a força necessária para dar impulso às descobertas seguintes. Estive travando meu próprio crescimento por achar que o tinham cessado, castrado, maculado. E de repente, como um boom sem precedentes, vieram mãos de todos os lugares, inclusive os mais inóspitos, e me seguraram um segundo antes que meu corpo tocasse ao chão na minha brincadeira desmedida de largar meu corpo para trás achando que não iria cair. E, então, um pouco depois do meio do caminho, quando a consciência se arrepende da decisão e a coragem quer continuar para descobrir o impacto, achei que talvez valesse a pena ser cruel comigo mesma, sentir a queda, desistir de tentar voltar o corpo pro lugar e aceitar o baque de senti-lo no chão.
E me disseram que não. Um, outro, depois mais um, outro seguinte. Me lembra o filme Evan Al-Mighty (por incrível que pareça) e seu "ARK", "Act of Random Kindness". E, pra vocês, foi isso que fizeram. Só mais um Act of Random Kindness, mais um lembrete de presença, mais uma mão e uma escapatória pras dificuldades que eu colocava nos meus dias. Pra mim, a mudança que vocês fizeram, cada detalhe, cada rosto, cada letra e cada vírgula, fez segurar tudo o mais que está o ruim e fez dizer que não é nenhum fim de mundo, que não há necessidade alguma de bater minhas costas no chão e lá ficar, esperando um retorno que, nesses passos, levaria o triplo do tempo que eu queria agilizar.
Então obrigada. Por serem excelentes, por serem vocês, por serem mudança em mim, por serem pilares, por serem lembranças, por serem estímulo e principalmente por serem presentes.
Tudo essa semana, tudo o que vocês fizeram sem saber, tudo o que já havia sido feito vai fazer isso aqui valer a pena, e fazer o que virá depois melhor.
Vocês são excelentes.

E só pra terminar:
Raul Seixas, você fez meu dia valer a pena.

6 de outubro de 2007

Ode (disfarçada) aos Robertos

Isso aqui é uma falsidade. "Ode aos Robertos" é quase uma "Ode a Roberto Reis", mas vamos lá.
O primeiro Roberto que eu conheci na vida é meu primo e nasceu no período de tempo entre o nascimento da minha irmã e o meu. Minha mãe é sua madrinha e sua mãe é a minha, e que excelente tia, madrinha e pessoa que é. Pense numa pessoa de bom coração (Clau). Enfim, o Beto teve pânico de água na cabeça (isso, ele só tinha pânico quando era água na cabeça, no resto do corpo, não) quando pequeno e, por ser um tanto histérico e grudado na mãe, era completamente perturbado pelo irmão mais velho, que é uma figura. Depois de uns anos e uns banhos, perdeu o pânico de água e um pouco do grude na mãe. Faz já três ou quatro anos que não o vejo, mas sei, através desses canais familiares, que tem estudado numa escola agrícola (acho que é agrícola. Falta precisão nisso.) e nutre uma grande paixão por cavalos, e em algum ponto da vida, acho que dois anos atrás, ganhou uma égua pela qual também é apaixonado (e a família às vezes brinca maldosamente com esse fato). Era uma gracinha de bebê e eu adoro a fita em que perguntam pra ele de quem ele é filho e ele faz uma cara de perdido e diz "Eu... sou filho... da mãe".
O segundo Roberto que eu conheci na vida foi esse cujo último sobrenome é Reis, e peço perdão a possíveis Robertos que existiram na minha história entre meu primo e esse porque, se houve, foram esquecidos. Enfim, não sei se a primeira vez que o vi eu sorri, tampouco me lembro se saberia que sorriria em todas as outras, se não por fora, com certeza por dentro. Ele não é alto, não é baixo, mas tem a altura boa praa se manter uma conversa sem precisar esforçar o pescoço e, acredite, isso é excelente, porque as conversas com ele tendem a ser longas e produtivas e gostosas, e uma dor de pescoço anestesiaria um pouco esse prazer.
Em algum ponto da nossa amizade, a palavra "Betinho" atingia minha língua toda vez que queria chamá-lo, e então nunca mais saiu outro vocativo pra ele. Betinho tem um ar intelectual curioso, e uma falta de vergonha para verbalizar os pensamentos em sala de aula que eu gostaria de ter. Gosta de usar "Porque na minha cabeça, eu não consigo entender...", "porque na minha cabeça, eu vejo que...". Acha que há algo de irônico na forma como as coisas se desenvolvem, e como as coisas são e seus porquês e tem uma risada para quando vê nitidamente um exemplo dessa ironia da vida que é fantástica. De fato, sua risada é ótima; tem um quê de leveza e um quê de verdade e um quê de satisfação que me fazem sorrir à lembrança. Betinho me dá, instantâneamente, uma certa leveza de coração, uma expectativa inevitável de uma boa tarde consigo, de uma boa conversa, mesmo que seja uma conversa sobre as cores das mesas do pds (que é um bar). Betinho me escancarou algumas portas e outras só deixou entreabertas, e comecei a descobrir a beleza dos labirintos, das coisas turvas e daquelas limpidas. Betinho faz uma falta grande, uma sensação de que longe de si é complicado sentir-se completamente à vontade com descobertas grandes e realmente inusitadas, e sinto uma falta imensa do seu apoio diário para desbravá-las.
E uma coisa que vale a pena ressaltar, principalmente para meu próprio deleite, é que se tem algo que fiz certo em quatro meses de convivência com ele foi no último dia que o vi ter aberto uma porta nova de mim e contado-lhe algo de peso meu, e esse foi, pra mim, o ponto em que construímos uma ponte capaz de atravessar um oceano e uma confiança e carinho capazes de tornar efetiva e real nossa prática e credibilidade na relatividade temporal e espacial que vivemos e que ele, numa das melhores coisas que já me escreveram, disse que nos esforçaríamos para praticar.
Por você, Betinho, a intensidade abstrata desse amor, desse carinho e desse fascínio gravada nas mudanças, no tempo e no espaço.

5 de outubro de 2007

Mais um colete

É um jeito completamente isoladamente novo, esse que estou me sentindo. Há um vazio maior que mesas de bar amarelas, gramados mal tratados, regadores às 3h da tarde, posteres e desenhos nas paredes, explanações, xerox por todo canto, bancos azuis, bancos cinzas, cadeiras azuis, cadeiras beges, cabelos, toques, vozes e ouvidos. Há um vazio tão grande e um desespero bruto que bate de repente, quando já se está estável e se está bem. Essa pontada na parte mais interna de si, quando o coração parece estar no estômago, e os olhos dentro de si. Essa coisa, essa dependência, essa solidão regada da experiência que eu tenho de agradecer, essa dor que arde os olhos, essa dor que eu tenho que agradecer.
E me dói tanto. É mais um daqueles vai e volta, e agora volta como se fosse ficar. Não vai, nada na minha vida ficou, e não vou dizer que é bom, tampouco que é ruim. Mas agora, agora parece que estão tirando meu crescimento, da mesma forma como me tiraram a descoberta da feminilidade aos treze anos (ou permitiram essa descoberta da forma mais impactante) quando me colocaram na fôrma de um colete de ferro e plático duro que me iria contribuir para o controle do problema de coluna e me relegaram a camisetas grandes e calças largas, quando aos treze anos me vi tentando compreender, sozinha, por que era que me olhavam tanto na rua, como se o animal excepcionalmente diferente tivesse sido tirado do zoológico e levado a passeio. E lembro quando o médico falou que nunca tinha visto um colete daqueles atrapalhar as pessoas em termos de relacionamento, de arranjar um "namoradinho" e que eu não deveria me preocupar com isso. Ele só não pensou pelo mesmo lado que eu: eu achava isso muito mais ruim que bom, que se eu não arrumasse um namoradinho, então o problema estava efetivamente comigo.
E no início da adolescência e dessas descobertas de mim, havia um buraco de companhias que eu não tenho certeza de que consegui preencher. Os grandes amigos daquele tempo ainda são amigos hoje, um deles em especial, e o outro especial está noutro lugar, ou em lugar nenhum. E agora, 18 anos e as descobertas que eu começava a fazer, a descoberta de uma nova normalidade e a descoberta de uma nova realidade, estelarmente maiores e mais interessantes que as que eu vivia antes, são frisadas com essa mania que a vida dos meus pais tem de clicar o pause nos meus melhores momentos. Pois, agora acredito que está na hora de me entregarem o controle. E os choques, os choques virão porque vêm e vieram sempre, e com eles vem também crescimento. E estou sofrendo aqui, me submetendo a uma vida que me regou de oportunidades, mas que eu não escolhi, que eu não escolheria, que foi me fracionando em vários cantos e me fazendo preenchê-los mais tarde, fazendo-me aprender a preenchê-los e me estapiando caso não conseguisse.
Está difícil aqui nesse estanque de crescimento. Está absurdamente difícil. Quero falar ao Luan que quero ouvir o que ele tem pra me falar sobre Jesus e dizer que a menina que antes disse a ele que não gostava de ouvir coisas como "Jesus é um salafrário" (ainda que falado assim seja um pouco brutal) desistiu de lutar com essa de agora. Quero ir a bares e falar de coisas maiores que a morte da novela das oito e falar dela também, porque ninguém é de ferro, e é mais interessante que não sejam mesmo. Quero pôr cartas na mesa e fazer os sinais costumeiros, quero provar os cigarros, as bebidas, os lugares, as companhias, as novidades e colocar um pé depois do outro, como eles me disseram que esperariam pacientemente que eu fizesse.
E não me esforço mais para fazer parar essa sensação de estar vazia por dentro e de estarem arranhando com força minhas paredes.
E não quero ouvir um pêsame, um comentário de "sinto muito" ou outro de "estamos aqui". Não quero ouvir nada disso. Não quero ouvir nada. Se vocês não falam nos outros posts, não vejo porquê falar coisa alguma nesse.

1 de outubro de 2007

Ela me atrai

Ela me atrai. É noite, luz neon, música alta, gelo seco, suor, vozes, sorrisos, cabelos, braços, pernas, vários corpos, vários copos, nenhum copo, ela me atrai. É noite, luzes fracas, zumbido, murmúrios, frio, lentidão, cansaço, ela me atrai. Vai dormir, amanhã é outro dia, amanhã é rotina e ela não mais me atrai.
A novidade vem embrulhada em papel transparente e opaco, e eu não sei se abro, não sei se quero ver. Se eu abrir e se agarrar ao meu pescoço, se não precisar de muito esforço, então eu pago pra ver; mas se não vier naturalmente, se nem de leve me tiver em mente, não me dou o trabalho de rasgar. E qual é a grande surpresa? Ninguém rejeita a nova sobremesa, por que eu iria rejeitar? Mas ser segredo é sempre fardo, e aos poucos eu me desfaço pelo peso de o guardar. Mas o querer-não-querer colocar a panos limpos de repente estraga o meu domingo por ser tudo que posso pensar. E depois de um tempo são sabores, são arriscadas opiniões descolores do que não se pôde provar.
Minha folha ainda é branca, eu não tenho cartas na manga, eu não me deixo levar. E assim o cansaço desbanca, a tortura a mente estanca, mas não evita marcar. Isso é simples e não é passageiro, e eu não sou nenhum guerreiro por não me entregar.
Eu não gosto da sua roupa, não admiro sua boca, não vivo em torno do seu tocar. Eu não prefiro seu sexo, eu adoro o seu mistério, eu adoro o seu esgar. Eu não prefiro sua aparência, eu gosto da sua decência, acho sexy sua indecência e me contorço com sua carência. Eu não te quero toda hora, odeio quando você vai embora, não espero na sua porta. Eu gosto de mandíbulas mais quadradas, de pernas mais trabalhadas, de costas mais largas.
Mas eu respiro um pouco ofegante pela duração de um instante quando é seu corpo do outro lado da porta. Eu não estou acostumada, nunca entrei nessa auto-estrada, e ela sempre me pareceu sinuosa. Eu nunca senti incômodo por causa de outra saia, nunca me deleitei assim com outra risada, nunca gostei de bochechas rosadas. Mas na tensão de um segundo, quando seu braço chacoalha meu mundo, sua presença me queima a pele. Quero pensar no rapaz do outro lado da roda, quero outra escora, outra vazão. Mas você sem razão me chama os olhos, incomodamente alarga os poros quando entra no campo de visão.
"I don't think that it's Gonna rain again today There's a devil at your side And an angel on her way Someone hit the light 'Cause there's more here to be seen When you caught my eye, I saw everywhere I'd been And wanna go to You came on your own That's how you'll leave With hope in your hands And air to breathe I won't disappoint you As you fall apart Some things should be simple Even an end has a start Someone hit the light 'Cause there's more here to be seen When you caught my eye, I saw everywhere I'd been And wanna go to You came on your own That's how you'll leave With hope in your hands And air to breathe You'll lose everything By the end Still my broken limbs You find time to mend More and more people I know are getting ill Pull something good from The ashes now be still You came on your own That's how you'll leave With hope in your hands And air to breathe You'll lose everything By the end Still my broken limbs You choose to mend" An End Has a Start - Editors