15 de outubro de 2011

Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Carlos Drummond de Andrade


sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora

calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa
Paulo Leminsky
Os vincos de sua testa são o abismo da nossa história. A primeira curva surgiu aos 27, desde então há sempre cada vez mais sombra no seu rosto, nas suas impressões, no que ele quer dizer.

11 de outubro de 2011

Seu sutiã rendado coça a base do meu pescoço. Como ela é toda bege, me pergunto se não é do próprio peito a renda, se não é da própria vulva o pudor. Nem as unhas ela pinta de outra cor, eu a perco nos lençóis. O sol a explode, não sei se vem antes a pulverização ou o êxtase. E é essa sua qualidade bege que a impregna em tudo sem eu perceber, quando ela vira pó.
As horas se consomem; será possível que o paraíso está em algum lugar? O que será que o universo pensa a essa hora? Será que decide os destinos que se estendem numa pilha infinita na quina de sua mesa? Onde será que estou no universo das sinergias? Será que nasci na galáxia certa? Nada disso me aflige, o que me aflige é a minha cabeça.

2 de outubro de 2011

não me interessa pessoa alguma
na última instância do meu comboio subterrâneo
me interessa o espaço sideral
a vastidão
e digo de algumas coisas que são tão pequenas que não vejo

não me interessam as expectativas
me interessa o desejo,
mas não me interessa o tesão.
me interessa a curva, o vale, os morros
desse seu corpo estendido