18 de setembro de 2007

É bem curioso

É curioso, não é? A gente perde alguém próximo e tudo parece mais fugidio, mais passageiro. Principalmente se a pessoa for nova demais. E se for de súbito. De repente você se vê agarrando-se ao adeus costumeiro de todo dia, ou ao bom dia cansado que você esqueceu de dar ontem, ou ao beijo que não deu depois da briga, ou ao sorriso que preferiu não dar na saída de casa. Você se prende aos olhos, aos passos, aos cabelos, aos sorrisos. Prende-se ao que dói e ao que acalenta, ao que é de sempre e ao que é novidade. Passam-se dias, semanas e meses e você ainda não lhe disse que gostou daquela carta curta e sem propósito, ou daquela longa e interminável. Então se lembra de que amanhã pode não haver mais destinatário e corre para descobrir notícias, saber paradeiros, relembrar.
Isso não é exatamente sobre o Rô, ainda que ele tenha um pé na história. É só que hoje eu recebi um lembrete de amizade, um "estou aqui", um "sinto saudades", um "me preocupo" e pensei logo nisso. E então, voltando a falar com essa pessoa do lembrete, ela terminou com "eu te amo" e podia-se sentir a preocupação inconsciente de "quero que saiba isso antes que se vá de repente e não dê mais tempo". Ela viveu essa perda súbita também. Por acaso, também foi o Rô. E eu aprecio. Seu desespero, sua dor, sua dúvida nunca saciável, porque exatamente essa dúvida, a da morte, é sempre insaciável.
Do jovem cheio de vida desconhece-se o dia da partida, do pai aposentado que joga bola aos finais de semana, desconhece-se a partida, do drogado, desconhece-se a partida, do doente terminal, desconhece-se a partida. Pode ser hoje, amanhã, depois. Podem até dizer "é hoje" ou ainda "dentro de algumas horas", mas pode durar um dia a mais, um a menos, um minuto a mais, um a menos.
Por isso, não vou recomendar que saia falando tudo desenfreadamente, grite aos sete ventos seu amor, regurgite loucamente seus sentimentos, declare importâncias. Não. Apenas agarre-se, se puder. Ao adeus à porta, ao beijo no parquinho, ao bom dia irritado, à palavra certa para fazer parar o choro, à oportunidade de dizer o que quer. Faça por si, não pelo outro. Quando ele se for, não é ele quem vai sofrer. Não é poético, chega a ser egoísta. Faça por si, pelo outro, pelos dois. Faça por ninguém. Faça por quem quiser, mas faça.

Rô, eu não deixei de lhe dizer nada. Pode levar todo o meu amor, meus gritos, minhas birras, minhas imaturidades, meu desespero, meus segredos, minhas crises, meus abraços, meus soluços, meus beijos. Pode levar.
A gente se vê. E procura refazer tudo de novo.

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