30 de setembro de 2013

Eu tenho um certo pudor do proibido. E foi subindo em mim qualquer coisa que proibia a sua sorrateira ascensão por onde eu não poderia provar que via você pelos cantos. Então subiste, 'que eu podia fazer, aqui estou, fazendo isto. Não posso ousar que por muros não ousarei subir que já lhe tenha avisado o perigo. O lance é bem esse, eu subo vou subindo, se cair de onde estou, subiu porque a visão de baixo ia valendo a pena, se é que bem entende que embaixo também já desci do salto, pronta a defender qualquer ideia que seja minha. Ouso, log(ic)o, para aprender a ousar ousando.

26 de setembro de 2013

O coração pulsa, mas falha uma batida. Quase arrebenta o peito que por fora endurece. Eu penso em você porque você foi feita para isso, muito embora desconheça a força de se ver sem o espelho. Você violenta uma série de desejos que sem você não seriam violentados assim. Arranha na saída poros afora a sensação desalentadora de lhe olhar sem opção. Não sou eu que lhe vejo, que lhe busco, são meus olhos estúpidos que se tivessem todo o resto do organismo saberiam por completo a sensação que provocas. Em te querer, não te querer, ainda estou confusa em lhe olhar. Não cheguei a desejar o que minhas mãos são capazes de tocar, existe um infinito espaço que você deixa no ar quando está que ainda precisa estar curioso na minha presença. Encantar uma mulher acontece no fino vácuo ao seu redor. É preciso - às vezes imagino - não imaginá-la. É preciso, às vezes estratejo, não estratejá-la. É preciso, quase sempre me pego, não apegar-se a nada. Não desejar, pouco querer, não buscar. É preciso permitir ao desejo de tê-la não se completar, para que ela venha revoltosa e resoluta ensinar que sem ela nada com ela pode.

25 de setembro de 2013

Entendo o que queres dizer, muito embora rejeito o que me dizes; não é o que está nas palavras, mas nos gestos da sua boca. Entendo que lá dentro exista um coração... Mas eu mesma me calo, não há diálogo algum que saiba externalizar o que existe em mim, em mim apenas eu existo. O que posso dar-lhe, além de mim, que é o que já dou? Nada, muito pouco a mais... e não. Se me esforço, se vou a outro lugar, para onde fui, o que quis me dar? Não sei. Fujo ou fico? Passam as horas... Enquanto decido que nada há a decidir, a necessidade da decisão observa-me do ônibus ao lado... Brasília sua, e eu muda. Em instantes, parece que sou o polo positivo para tanta atração. O que fazer? Quanto medo há de medo não haver... Envolvida em tantos pensamentos de não pensar, em tantos sentimentos de não sentir, em tantos lugares de não estar e em tantas instâncias de persistir, deixo, vago, estou por existir.


23 de setembro de 2013

Antes de chegar até mim, o reconhecimento do que você quer dizer se perde em algumas das opções do que imaginei que dirias... Não entendo nada, você é puro mistério. Tanta evidência confunde o jogo da minha dúvida, que por fim onde está? Está, do mesmo modo como se percebe em mim que nada do que lhe vejo és exatamente. Troco todas as bolas que joguei em malabares. Nenhuma brincadeira alcança quão leviana sou neste momento. Nenhum leviano entende o que eu quero dizer. Eu, então, desatenta tão longo, não faço a menor ideia como suas formas se encaixam em suas ideias, como suas ideias encaixam nos seus gestos, seus gestos nas suas formas. Vãs vezes sinto tanta coisa que não falo, tanta coisa que não sinto, tanta coisa que se dissesse, o que teria dito? Passa o tempo largo no meu pensamento. Estendem-se as horas, estende-se o vento, perdendo nos fios emaranhados a imansidão do passamento.
Rejeito a baderna; tal como estou, já se encontra violenta a onda de existências... minhas! Ser tantas ao mesmo tempo. Desejo e sou tantas coisas simultaneamente que por vezes escolho qual de mim entrará na ação que transcorre - e observo, risonha, os resultados daquela de mim, desesperada eu que precisa acontecer sobre as outras. Sem observar, vivo, vou vivendo, quando vi já estou, e todas as decisões esbarram na continuidade da minha vida em ser eu. Nada que eu faça escapa à percepção última de que aqui estou, agindo, sendo e construindo independentemente da minha força pessoal em seguir com meus planos - a força acontece do mesmo modo como a vida. Viver e ser constituem a mesma coisa sendo contudo imensamente diferentes... Como já disse, diversas possibilidades lógicas existem apenas logicamente, equações matemáticas possíveis que nunca verão a luz do dia - há mais entre o céu e a terra do que julga a leviana ciência exata.

21 de setembro de 2013

Percebo como você ainda existe na bagunça de mim. Quantos rascunhos encontro da sua existência tão aproximada da força do meu amor. Com tanto êxito te quis!, que êxito, se amar morreu de morrer de se dar, e dar ser amar, tão pleno é o horizonte quando ir já é chegar. Amei-te este amor que dura, se esparrama, em longos lastros felizes da construção da sua leveza, louca leveza em mim.

20 de setembro de 2013

: o aposto sou eu

16 de setembro de 2013

Medo, é o que se diz, nome do receio não sei de quem de alguma coisa que, se não se pode dizer que acontece, é como se acontecesse por estar sempre para acontecer. Medo se entitula, desce o rótulo, pedra pesada!, brevidade do interesse em entender, bem se sabe que entender é tão longo. Medo se entitula, se conclama, passeia brisante sobre as expectativas intangíveis; será que é medo de o medo acontecer? Medo: espaço vazio de ansiedade, plenamente abstrata, sobre tudo aquilo que pode ser que venha a ser. Medo, a desnecessária preocupação de calcular as possibilidades. Viver o que não aconteceu.

13 de setembro de 2013

Existe mistério em pensá-la pois eu mesma limito o prazer de imaginá-la inteira nua. Não faço, até hoje, a menor imaginação sobre seus seios, o interior das suas coxas, mesmo as curvas explícitas das suas panturrilhas pelo lado de fora. Eu não desejo pensar nada sobre os seus contornos imateriais pois a minha mente revela os maiores absurdos sobre o indescoberto prazer da sua respiração total. Mesmo o desejo absoluto das suas pestanas duvidosas não ilumina na minha mente os caminhos do erro imaginado. Nem quando o seu sorriso não deixa dúvidas do prazer de conceber o perigo, eu não ouso me permitir o fim do limite já antes do início.
Quero-o, sim, mas preciso esticar o prazer até morrer de não tocá-lo, esgotar de não dizer, enlouquecer de ser eu. Quero-o até perceber do que se enlaça em mim, travestido de que, mentiroso, desejoso do que exatamente de si mesmo. Quero-o até que duvide estar pensando, que redunde no mesmo engano de não haver mais nenhum. Quero-o muito, e simples, aspero e áspero, domador do acaso, mesmo que não me beije pelo medo do sim.


10 de setembro de 2013

É o dia que surge. Não aguenta esconder as suas possibilidades. Enquanto eu alongo a coluna pescoço acima, ele elabora todos os deslises que poderei escorregar ao seu longo. Abro os olhos a partir do desdém engraçado da sobrancelha que se ergue autônoma, achando graça de eu imaginar as possibilidades de perigo espalhadas pela rua. Questiono-me, quase, se será que as imagino se ao fim de fato aparecem? Crio-as apenas porque eu sou eu, e as vivo; fora isso, são elas que vão existindo, que vão me enxergando, que me buscam sem me buscar pela atração do desejo, malicioso desejo, que se mostrando entre nós muito rapidamente se esconde, deixando cara a cara eu, você e o resto do universo.