26 de abril de 2013

É difícil não se deixar levar pelo som e por tudo o mais. O espaço vazio convida a nada embora lembre tudo. O meio do burburinho é o lugar ideal para o som em cinema: por isso permaneço esquecida entre os meus desejos e as minhas escolhas, entre o meu choque e a minha certeza. Ser maduro e não ser existe apenas como conceito. São ideias de duas disposições muito diferentes, sobre a outra, de fazer a parte errada. Dois erros muito diferentes de fazer disposição. Duas disposições muito diferentes de fazer dois erros, um.

24 de abril de 2013

Suspeito-a. Não posso senti-la sem pestanejar. Respeito-a, enquanto a rejeito, tentando não lhe respeitar. Perscruto seus movimentos, com a cuca em cada, com os olhos delimito o limite até onde pode ir. E toda essa minha postura mulheril de dominar me trai quando ela me olha resoluta desvendando meus vendavais, arriscando minha ferocidade, alinhando meu desagrado. Ela surge, eu urjo.
Seus braços longos e retos encompridam o espaço da sua beleza. Escura, seu contorno salta a distância entre o resto e ela. Ela, que só existe quando está, define o longo caminho do início das minhas pernas até o fim do prazer. Sobe em mim qualquer coisa por dentro de onde é inevitável. No meu centro, já fui atingida sem poder esquivar. Sua força dói a extremidade do meu corpo que lhe recusa como ao sol em Copacabana. Faço guarda-sol da minha franja, protegendo meus olhos da desistência eminente às suas maldades. Toda mulher bonita arregaça a segurança de um dia qualquer. Ela me deslisa pelas pálpebras, e a sua velocidade causa um efeito doppler tremendo, e a sua frequência, como não haveria de ser, é relativa. Relativa, toda ela, vai-me matar quando eu souber que à cama basta conquistá-la. Relativa, toda ela, a o quê?, ou a nada? Segura e não, ela se me avança, me desconfia, e desconfia desconfiar-se.

14 de abril de 2013

Longos espaços de verde conduzem a minha alma para o vazio. Nada acontece aqui dentro. Minha angústia revela uma paciência perdida, um equilíbrio esquecido, uma meditação partida. Não tenho caminhos para onde ir, e o longo abandono do relógio transforma as horas em mais. Tenho os olhos ultrassensíveis para a chuva que cai, e quando pensam que a antecipo é porque já a vejo há algum tempo. Nenhuma criatividade me busca. As horas que passo sozinha e sei esvaziar-me, ao contrário percebo-me inflar de branco. Buscar a paz interior sozinha é ostentar encontrá-la. Por isso me calo tanto, porque se não me ajudam a buscá-la, não revelarei os meus caminhos.

12 de abril de 2013

O dia acorda; a vida vai chegando perto de se levantar, e enquanto isso estica seus braços à distância das paredes, vai inchando o quarto, até que por esforço de sair ergue-se, passa pelo corredor e tromba. Chega à janela, seus olhos espreguiçam tudo de novo. Mais um dia para ser feliz.

4 de abril de 2013

Cai a noite nas minhas quatro paredes
Seus olhos iluminam a luz que de dia eu lhe dei
À noite você brilha, e sou eu
Sem jeito, não entendo sua partida,
Sua partida me partir e seu partir-me ser meu jeito
Os carros buzinam em mim, as faixas de pedestre me atravessam
Tanto trânsito no meu país enevoa a equação que me leva adiante