27 de agosto de 2007

Ode às Marianas

Eu não vou começar do começo porque a primeira Mariana a cruzar minha vida é revestida de um caráter diferente das outras Marianas. Essa primeira Mariana teve sua vida cruzada por mim talvez primeiro que eu tive a minha cruzada por ela. Na realidade, talvez tenha tudo acontecido simultaneamente, mas ainda assim, fui eu quem demorou a perceber sua influência em mim, e por isso vou deixá-la ao final.
Mas então, na minha oitava série, eu conheci a primeira Mariana de que me recordo. Bem morena, cabelo ruim, olhos castanhos, baixa estatura, feinha, histórico desconhecido, importância nula. Ela andava num grupo de três meninas. Eram todas, feliz ou infelizmente, muito apagadas. Suas reais amizades pareciam limitadas entre as outras duas amigas, e ainda que conversassem com mais pessoas(eu ia dizer "muito mais pessoas", mas é mentira), não pareciam fazer grandes questões. Uma das minhas amigas, que não é uma Mariana e não tem importância nula, por um acaso era colega de uma delas, que também não era Mariana, mas que também tinha importância zero. Essa colega do trio então contou à minha amiga um caso sórdido seu que, por sinal, já contara a uma das suas outras duas grandes amigas. Essa amiga da colega de minha amiga a quem o caso sórdido também foi contado, contou à outra, a cujos ouvidos a noticía não tinha chegado e, naturalmente, como os melhores amigos de nossos melhores amigos não somos nós, a notícia espalhou-se. Enfim, isso só é importante para nossa história porque a imagem de Mariana foi danificada e, pelo próximo ano que eu conviveria esporadicamente com ela, sempre a veria como algo sórdido, nada interessante, sem graça e vil. Eu nunca a conheci realmente, nem nunca fiz questão, nem gostava de parecer antipática mas, felizmente, nunca fomos próximas o suficiente para que eu tivesse que fingir uma empatia.
A segunda Mariana com quem cruzei era loira, tinha um corpo bonito, olhos lindos, era um inferno e tinha cara e personalidade, até onde eu conhecia, absolutamente vulgares. Gerava um alvoroço quando passava por causa da casca bonita que era: de frente era realmente bonita(ainda que, para mim, tivesse uma beleza em grande parte artificial. Toma-se beleza artificial por aquela que só é conferida por excesso de blush, lápis, rímel e esses mistérios da maquiagem), de costas tinha uma bela bunda. Certo dia invigilante, 7h00 da manhã, uma tensão foi planatada na sala de aula na qual eu estava sentada no final, conversando um papo de morto-vivo, um olho aberto conversando, outro fechado dormindo. Mas o coro comeu, a porrada começou, e eu, que costumo ser aquela a estragar a felicidade de quem gosta de ver um bom baraco regado a pancadaria, tive a intenção de fazer o tumulto cessar. Não foi preciso sujar as mãos pois interromperam a porrada antes de mim, mas cabelos foram arrancados, cabeças socadas e a uma das meninas transformadas em ídolo dos "contra-Mariana".
A terceira Mariana que cruzou minha vida tem dois anos a mais que eu, tem uma cor de pele de que gosto, é muito bonita, tem cara de aplicada e um cabelo lindo que quer cortar. Gosta de brincos de pena, daqueles que não tem par, não gosta de uma blusa de alcinhas que tem, que diz se muito aberta, mas a usa de qualquer forma. Vai à faculdade de havaianas de plataforma marrons, e eu olho pros seus pés todos os dias, talvez porque eu não goste do chinelo, talvez porque gosto da tatuagem e nunca me acostumo com ela, talvez porque goste da história da tatuagem e seja lembrada toda a vez que a olhe. É a única são paulina que conheço que não é, de alguma forma, metida, tem uma voz que me faz sentir em casa e um sorriso que me deixa à vontade. É ótima no truco e seu jogo só dá errado quando muda de parceiro. Quando a vi pela primeira vez, aproveitei(como noutras infinitas vezes) sua carona e achei que ela e Bruna Cerqueira seriam uma dupla inseparável só porque caminharam na frente dos outros calouros conversando entre si. Quando vi Mariana nº3 pela segunda vez, ela corria comigo pelo subsolo do minhocão, meio palmo de língua para fora, os chinelos na mão. Quando a respiração baixou e resolvemos almoçar, mal sabia eu que quereria conhecê-la mais do que costumo querer conhecer os outros, que me sentiria à vontade como demoro a me sentir, que almoçaria mais incontáveis vezes com ela e quereria almoçar muito mais.
A quarta Mariana que conheci tem uma silhueta magra, um cabelo incrivelmente fino e liso, uma expressão de poucos amigos, mãos de dedos finos e uma risada engraçada. Usa tênis sem cadarços com quadriculados vermelhos e pretos e tem como fiel escudeira sua bolsa vermelha com bolinhas brancas. Não me lembro de vê-la com brincos. Não me lembro de vê-la com lápis nos olhos. Lembro-me dos seus sapatos finos, de vê-la sentada no ceubinho com outra amiga e sentir um ciuminho besta de quem não pode se intrometer na conversa dos outros. Lembros de suas pernas em cima do banco em frente ao Meleca quando tivemos a primeira conversa em que contamos algo de nós mesmas. Lembro de sentar-me no banco em frente a um anf e conversar sobre coisas mil vezes mais interessantes que o problema do carona. Lembro quando sorri para um amigo nosso em comum, na frente de onde seu carro estava estacionado, e fiz cara de brincalhona antes de dizer a ela que pegaria uma mulher que tivesse um Honda preto. Lembro do chaveiro feio do carro dela e de quando ela me mostrou uma música do Depeche Mode depois d'eu insistir que nunca ouvira uma música sequer deles. Mariana nº4 tem paciência para me escutar, e eu falo horrores, e gosta de uma boa conversa como eu, e perde direto de mim no truco, e vai combinar códigos com seu parceiro para ver se ganha da Mariana nº3. Mariana nº4 me mantém numa conversa até 4h15 da manhã.
Por fim, há ainda Mariana nº001, ou 007, porque me lembro quando disse ser esse seu número favorito(mas talvez isso já tenha mudado), é minha paixão. Mariana nºoo1 me viu pela primeira vez antes que eu a visse, e me tirou do peito de mamãe antes que eu estivesse satisfeita. Tem cabelos loiros que alguns pensam ser ruivos, tem olhos verdes que ninguém pensa ser de outra cor, e quando digo que ela ganhou os melhores atrativos da família, diz que Deus não dá asa a cobra, mas não acredita precisamente em Deus(ainda que, de uma forma ou de outra, acredite). Mariana 001 me dá nos nervos como mais ninguém, me dá vontade de espancá-la um momento depois que tive vontade de dizer que a amo. Tem uma inteligência invejável, mas o que eu realmente invejo é sua determinação, porque a inteligência eu também tenho. Ela escreve bem mas não em tanta quantidade quanto eu, e talvez por isso o que seu papel diz soa às vezes mais forte. Mariana 001 é grande parte da minha vontade de viver, às vezes da minha vontade de atirar-me pela janela, é meu anjo da guarda quando penso que me joga no inferno. Diz que futebol é o "ópio do pobre" mas aprecia um bom jogo. Diz que futebol é o "ópio do pobre" como se o do rico fosse melhor. Mal sabe o quanto amo futebol. Mentira, ela sabe. Mariana 001 tem uma risada que vale mais que a graça em si, me interpreta errado quando acha que estou sendo teimosa, ainda que às vezes acerte. É minha melhor companhia pro cinema. É absolutamente tactless quando diz que Alessandra Castro teria visto ou entendido algo que não entendi, e nunca percebe. Mariana 001, quando dança, acho que se sente no auge de sua completude. Mariana o01 odeia receber favores e eu, ainda que entenda o porque, acho-a louca e orgulhosa. Mariana 007 é Mariana 007, e fim.
Às Marianas da minha vida.

24 de agosto de 2007

Sobre calvários

Algumas pessoas achariam absolutamente razoável se eu nomeasse o filho que um dia espero ter de Rodrigo, mas eu nunca conseguiria perpetuar a memória dele n'algo tão próximo quanto um filho e ser relembrada todos os dias, todos os momentos, de tudo que ele foi. Já me basta o calvário que tenho passado ultimamente com isso e tentado fugir dele. Já me basta meu martírio. Talvez então, se existe Deus, sua morte(a do Rô) tenha sido alguma espécie de provação para mim(não só para mim; minha presunção também não tem essa grandeza), de teste, e eu estou falhando miseravelmente. Mas parece-me injusto da parte do deus que eu imagino que ele tire uma vida para fazer valer outra. E essa é a razão de grande parte dos meus mais recentes questionamentos. Eu simplesmente não conseguiria. Não, eu nunca conseguiria. Pode usar o nome, Bru.

22 de agosto de 2007

Sobre carinhos

Outro dia, invadindo privacidades que não se preocupavam em ser escondidas, vi. A mão, os dedos, a blusa, as costas. Estávamos no metrô ('metro' aqui) paradas esperando-o sair da escuridão do túnel e mostrar sua cara envidraçada. Os pés perto da linha amarela gasta, marcada do preto dos sapatos apressados. Eles estavam a alguma distância, por entre algumas pessoas cansadas, os rostos escondidos pelo anonimato. O relógio mostrava as horas laranja e o burburinho do dia-a-dia cinza. E lá ele tinha ela encostada contra o peito, os tênis perto dos sapatinhos. E então o carinho. A mão caminhou sem pudor, sem vergonha, sem mistério. De cima pra baixo, de baixo pra cima. A parte lombar da coluna agradece calada. A blusa levanta sem querer e abaixa sozinha. Ela não se importa, ele nem percebe; ninguém viu. Meus olhos sorriem sem mim, e o carinho é quase meu. Deve ser meu sonho, deve ser. Minha realidade não é. Não importa, é bonito, é leve, é casual, não é importante. E o calor que sai das costas dela se prende na mão dele, e ele pára, deixando-a derreter com prazer sobre a blusa verde claro. Eles devem estar sorrindo, não vejo. Meus olhos estão presos na mão e nas costas, tão naturais. Os dois respiram, exalam. Os feromônios se soltam. Vamos guardá-los para depois, amanhã, outro dia, não importa.

Sobre vírus

Yahoo Cartões - Você é tudo para mim - enviado por quem te admira UOL Cartões - Seu amor lhe enviou um cartão - clique para baixar Terra Cartões - O meu melhor presente é você O carteiro - você recebeu um cartão de quem te admira Cartão UOL - I love you - você recebeu um cartão musical - Para visualizar e ouvir escolha uma das imagens Cartão Terra - eu te amo - webcard enviado através do site Cartões Terra

São todos e-mails com vírus.

E é incrível como o ponto fraco da maioria das pessoas é latente. É mínima a porcentagem de pessoas que não querem ouvir uma declaração, receber um gesto de carinho, ter alguém nos braços, olhar nos olhos, sentir cheiros no travesseiro, receber uma mensagem de "Eu te amo" ao menos uma vez na vida.

Mas são só vírus.

20 de agosto de 2007

Sobre saudades

Sinto falta da presença de Bruna Cuin, da risada de Patrícia Cardoso, do carinho de Tamy Guerra, do sorriso de Lílian Grave, da felicidade de Bruna Andrade, do terninho de Maria Paula, da companhia de Guilherme Bicalho, dos pontos fracos de Aymara Galdino, da meninice de Paula Gravina, do frenesi de Bruna Seixas, da braveza de Marina Chagas, da maturidade de Mariana Duarte, da voz de Felipe Azevedo, das conversas de Mariana Vassallo, do tom de voz de Camila Costa, dos filmes de Natalie Portmann, dos livros de J.K. Rowling, das risadinhas de Roberto Murilo, da suavidade de Layla Jorge, da compreensão de Mariana Rossi, da existência de Rodrigo Campos de Castro Barreto.

19 de agosto de 2007

Sobre amores verdadeiros(admitindo que existam)

Um desses dias eu via um filme daqueles bobinhos em que tem um casal que se gosta e alguém entre eles e essas coisinhas bem clichês(e que se no final ele não ficar com ela você simplesmente não gosta do filme) e você vê até o fim pra depois dizer "Nossa, que filme sem graça", e em certa altura dele a atriz diz algo como "Você sabe quando encontra o verdadeiro amor porque sente algo que nunca sentiu antes", e assim que ela disse eu parei pra pensar. Não sendo um filme complicado, foi absolutamente simples pensar e assisti-lo ao mesmo tempo, já que o que eu deixava de ver por desatenção podia deduzir por já ter visto antes nos outros 300 filmes iguais a esse que já assisti e que disse, no fim, que eram sem graça.
Mas enfim, começei a pensar, cá com meus botões, que essa afirmação é um tanto duvidosa. O que acontece quando você ama pela primeira vez? Ou pelo menos se apaixona? Quer dizer, se você nunca tinha amado antes, então aquela é a primeira vez e você está experimentando algo que nunca sentiu antes(e talvez derive daí o fato de que a maioria das pessoas, no primeiro namoro, diz que vai se casar). Mas então, se ela disse que você sente algo que nunca sentiu antes, ela está partindo do pressuposto que se namora mais de uma vez antes de se encontrar seu "verdadeiro amor" e pode-ser, conseqüentemente, chegar-se à conclusão de que os diálogos do filme são pobres. Mas, voltando ao ponto, a atriz principal disse que namora-se ou deve-se namorar mais de uma vez pra encontrar o verdadeiro amor, porque somente assim você saberá distingüir o sentimento verdadeiramente verdadeiro. Mas e se, na primeira vez que você namorar, esse já for seu verdadeiro amor? Quer dizer, se isso acontecer, então esse é o sentimento mais verdadeiro que você jamais vai conseguir extrair de uma relação, mas como você vai descobrir?
Bom, continuando na linha do "necessita-se ter mais de um relacionamento", admite-se que você vai ter que terminar esse seu relacionamento e ter outro e se decepionar com o outro e então perceber que seu primeiro amor já era seu amor verdadeiro. Porra, que complicado. E se seu primeiro e verdadeiro amor já estiver fora de alcance? Quer dizer, ele não vai ficar parado esperando que você perceba que ele é seu amor verdadeiro. Quer dizer, ele pode até ficar, mas aí é filme. Ou Ginny Weasley em Harry Potter. De qualquer forma, a probabilidade disso acontecer, acredita-se, é muito pequena. (Ou isso é só nossa descredibilidade no amor.)
Olhando a coisa por outro ângulo, tem-se o casal que se conhece jovem, cada um é o primeiro amor do outro e acreditam que são o verdadeiro amor um do outro também e se casam depois de anos de namoro(ou não) sem ter tido outro relacionamento. E aí? Você está casado com quem você acredita ser seu grande amor, mas e se não for? Você nunca namorou outra pessoa, nunca teve a chance(ou teve e não abraçou) de ter algo diferente, de se acostumar com outros defeitos, de amar outras qualidades, de, de, de. Parece a mim um casamento largado um tanto ao acaso, à sorte de que cada um dos amantes seja mesmo o verdadeiro amor do outro, à sorte que cada um não tente descobrir se é mesmo o verdadeiro amor do outro, à sorte que não queiram descobrir outras pessoas.
Mas, no fim, não sei porque isso me interessa se eu nunca amei.

16 de agosto de 2007

Sobre modernidade

Meu filho não joga bola
Nunca viu um pé de amora
Meu filho já namora
Meu filho não dorme em rede
Meu filho não quer papel de parede
E diz que dá barriga comer sorvete
Meu filho tem medo de gordura trans
Meu filho prefere Ray-Ban
Meu filho só vai pra escola de van
Meu filho gosta da Puma
Quando vai pra escola se arruma
Quando vê menina se apruma
Meu filho não olha as estrelas
Meu filho paga as suas despesas
Meu filho não come ameixas
Meu filho detesta sobremesa
Meu filho não arrota à mesa
Meu filho é compulsivo por limpeza
Meu filho faz malhação
Meu filho quer ser saradão
Diz que ajuda a ser garanhão
Meu filho usa Motorola
Meu filho não sabe quem foi Cartola
Meu filho não gosta de suco de acerola
Meu filho tem medo do parquinho
Meu filho briga com o amiguinho
Porque diz que se vira sozinho
Meu filho acha que fazer dever é bobagem
Meu filho gosta de filme de sacanagem
E odeia observar paisagem
Meu filho tem seis anos
Mas nós não o culpamos
Faz parte da classe dos 'novos-humanos'.

15 de agosto de 2007

Sobre mentiras

Acho que tomei nova decisão. Não dessas sobre a cor da blusa ou o programa de amanhã, mas sobre o conjunto da roupa e se haverá programa ou não. Estou prestes a lhe dizer o que nunca disse a ninguém, nem a mim. Acho que ela vai levar a sério. Ela sempre me leva, mesmo que não pareça. Ela me leva mais a sério que eu mesma. Talvez seja por isso que se decepcione tanto. Mas estou prestes a dizer-lhe. É uma grande coisa isso. Estou deixando muito de lado pra fazer isso. Estou com medo de chorar na sua frente e ela me achar fraca, acho que sempre achou. Mas, bom, eu choro. Me emociono um pouco fácil, eu acho, principalmente ultimamente. Tem acontecido muito ultimamente. Internamente. E eu descobri que preciso dela pra me descobrir, eu realmente preciso. Eu menti pra ela ontem. Foi triste. Pra mim. "Você sabe quem você é?" "Sei." Eu nunca havia realmente mentido antes. Só white lies, mas white lies não são como um aquecimento para se chegar nas grandes mentiras. Não, white lies serão sempre white lies, e big lies serão sempre big lies. E eu detesto mentira. Não que as ache vil, podres, imundas. Acho desnecessárias. Penso "encare", e mentira é um "fuja". A mentira é pior que a coisa que se quer omitir, penso. E então ontem, quando a pergunta chegou aos meus ouvidos depois de uma abordagem inesperada sobre mim, meu instinto(mentira, meu orgulho) respondeu antes que eu pudesse pensar. E sem pestanejar eu disse "Sei". Sem pestanejar. E então parei em minha própria resposta, os pés cravados no chão perpendicularmente às pernas como ela me indicara, e não 45º como sempre. Eu disse "Sei". E daí a cabeça voou e tudo era felicidade. Eu sei quem sou! Eu sei, eu sei! E então, passado o êxtase, passado o afã, o relógio girou mais um segundo e os pés descravaram-se do chão, o olhar saiu do rosto dela e foi ver os sapatos beges e, no meio do caminho, a mentira foi descoberta. O orgulho martelava-a, atolava-a, ridicularizava-a. É lógico que você sabe quem é. Essa pergunta foi sim um disparate, ridícula, isso que foi. Não. Não, eu não sei. Ei, volte aqui! Quero lhe dizer que não sei quem sou! Quero lhe dizer que talvez esteja nem na metade do caminho para descobrir minha verdade! Pode olhar como quiser para mim, mas não sei, não sei! Mas seu corpo já tinha se virado, e sua sobrancelha já tinha se erguido, e então pensei que talvez essa não fosse a resposta que ela quisera ouvir. Quer dizer, 40% de mim respondeu que sabia porque eu achava que era essa a resposta que ela queria, 60% foi orgulho. Ela queria a verdade, idiota! Essa conversa, no meio do shopping, no inconveniente de poder ser entreouvido, é só pra te ajudar. Ela sabe suas dúvidas; não sabe quais são, mas sabe que tem. Ou sabia, antes dessa resposta idiota. Certo, então eu menti mesmo. Que mentiu o quê, você se conhece! Certo, então eu menti mesmo. Certo, então mentistes. E cada passo era uma dor, cada respirada uma guerra. Devo-lhe falar? Assim do nada? O assunto morreu já, não vou trazê-lo à tona com a pretensão de que discutir minha verdadeira identidade seja interessante. E então passou-se um dia, dois. E decidi contar-lhe. Quer dizer, ainda não disse, mas irei. Vai gerar uma grande discussão e vai levar-me a coisas novas, completamente novas, como da última vez. Mas sei porque ainda não lhe disse: não sei se estou pronta pra saber quem sou. Na realidade, nem sou ainda, mas não sei se estou pronta pra conhecer a parte já formada de mim. Ela entenderia; ela costuma entender. Achoqueseráamanhã.

14 de agosto de 2007

Sobre limites

Curioso. Assim, ontem eu quis escrever, reescrever, consertar, ler, reler, escrever outra coisa, dizer o que faltou, fazer outros apontamentos, dizer que fiz alguma coisa que, em vidas passadas, disse que jamais faria(ou fingi que jamais faria). Agora, dia seguinte, não há o que dizer. Não sei se é só porque ninguém ainda conhece isso aqui, ou porque eu ainda não sei como lidar com algo que se faz e ninguém mais sabe ou por isso ou por aquilo. Há pessoas e pessoas que eu gostaria que me lessem sem que eu precisasse avisá-las que estou escrevendo em público agora.
Eu nunca escrevi em público. Nunca escrevi para ser lida. Era pra mim, e pra mim só. Agora continua sendo pra mim, com a diferença que eu coloco num lugar completamente acessível a quem quer que seja, e isso faz toda a diferença. [Muito embora eu esteja achado que muito, muito do que eu possa vir a escrever não vá ser só pra mim. Quase tudo, talvez.]
Agora estou pensando como será que funcina isso aqui. Como assim você simplesmente chega e escreve o que quer? Quer dizer, geralmente tem algum limite, alguma fronteira, alguma parte onde alguém, algum sistema, alguma tecnologia vem e te avisa: "Olha, isso você não pode escrever". Se isso existir, o limite deve ser pornografia ou depreciação da imagem dos Estados Unidos. Mas acho sinceramente que não há nada do gênero e, gente, como assim posso escrevero que quiser? Quer dizer, fantástico. Não que eu tenha um leque de assuntos e complexidade que vá além do que as pessoas pretenciosas têm, mas é sempre bom saber que não há limites, é sempre bom saber que a única pessoa que pode castrar o que você quer dizer é você mesmo.
E isso significa já uma grande castração.

13 de agosto de 2007

Sobre Blogs

Hahahaha. Não, blog não.
Não, sinceramente. De tudo, blog não. Quer dizer, fui eu quem sempre se ateve à falsidade dos blogs. Na realidade, fui eu quem sempre viu alguma falsidade em blogs: de resto, as pessoas levavam a existência e a veracidade das coisas neles muito bem. Mas blog pra mim sempre significou uma coisa ou outra: frivolidade ou falsidade.
De certo que eu encontrei blogs bons por aí. Não encontrei mais porque me irritava só de procurá-los, mas achei uma boa quantidade de blogs que valiam cada minuto da minha atenção. Postsecret.com é um blog e eu o acho o site mais fantástico que já puderam criar. Mas ainda assim eu via nos blogs alguma coisa suja que nunca pude efetivamente descobrir o que era. Minto. Pude sim.
No que tocava à frivolidade, eu relacionava eles a ela porque houve uma onda louca de "vamos criar blogs" numa época da existência do mundo, e eram todos ou rosinhas ou azuiszinhos. E então havia toneladas de discursos nos quais faltavam somente duas palavras: "Querido diário,". E eu sempre odiei diário. Minto, nem sempre. Eu mantive um na minha sexta série e esse é meu "Dirty Little Secret". [Viva a música na internet e sua potencialidade de criar trilhas sonoras para textos.] Mas enfim, eram todos diários e tinham todos bolinhas felizes e cursores aterrorizantesque te seguiam por todos os lados. Meu Deus, agora que estou pensando a sério acho que minha "melhor amiga" tinha um. Talvez, na realidade, o ponto que mais me chateasse é que eu sempre me achei profunda demais para essas "coisinhas" e demasiadamente não feminina para elas, e então me privava de coisas que talvez eu acabasse gostando. Calma, julga não. Pouca feminilidade é um dos meus mais permanentes fantasmas. E estou começando a acreditar que "privar-me do que eu talvez acabasse gostando" é outro que esteve sempre aí e que eu, injustamente, nunca lhe dei muita atenção. My bad. Mas isso aqui não é sobre isso, então pulemos.
Certo.
Quanto à falsidade, acho que era calcada na inveja. Inveja da liberdade de criação e formas de expressão de algumas pessoas. Eu achava assim, que se as pessoas fossem diferentes do convencional e tivessem um blog, que eram fingidamente diferente do convencional. E eu prezava pelas pessoas diferentes do convencional(nem tão diferentes assim) demasiadamente para continuar a valorizá-las se tivessem alguma raiz com algo fortemente vulgar como um blog. Leia blog com um tom de nojo.
Mas então um dia, a luz veio. E essa luz tem um nome, que não vou revelar por meros motivos de orgulho próprio. Isso ainda é algo a tentar (fingidamente) ser vencido. E então a luz me disse que eu estava sendo injusta (e acho que sutilmente insinuou que estava sendo dura demais e enganosa demais comigo mesma, e acho que foi aí que me ganhou) e idiota (ela é sutil para não me dizer com essas palavras. Se dissesse, eu deixaria de ouvi-la nesse instante. Ela diz que tem que trabalhar a forma de falar as coisas que eu não quero ouvir e nem sabe - nem eu sabia - que sempre as trabalhou. Seu nome deveria terminar com 'el') quanto a isso. Blog é algo realmente alternativo. Aí pegou pesado, disse o pensamento. Pode não ser falso ou vulgar, mas alternativo não é. 'É alternativo sim, veja', ela me disse, e me deu um ou dois argumentos que valeram por um milhão. E, bom, eu não acho, hoje em dia, exatamente alternativo, mas está em algum lugar próximo disso.
E eu era por demais rígida e cabeça dura e boba e vulgar pra ver. Mas veja lá, isso aqui é um blog. Gente! A coisa toda não gira exatamente em torno de ser um blog:
é meu blog.
Hahahaha! Isso é lindo, a Bahia é linda, o leãozinho é lindo. E eu me sinto absolutamente leve. Nada vulgar, nada falsa.