15 de setembro de 2010

crescer faz calar lá fora. um silêncio, uma retórica muda; dar-se bem vira não se dar, virar-se vira dar as costas e as costas, com dor, viram culpa sua. pilates não resolve nossa mudez desentendida. 'pilates não é pra acalmar', disse ela, e ela, o que sabe de calma? estar em paz significa, mais uma vez, abdicar da briga que você comprou pra saber achar-se, para saber quem é no meio de tanta areia suspensa, tanto vento no saara, pelo amor do outro, louco, insano, sem onde cair morto além das minhas mãos. e a briga que você compraria, tão robusta, tão erótica, os gritos que daria, os punhos fechados, as veias saltadas, você substitui por uma calma triste, tristinha, desentendida de si, sozinha de si, já quase sem razão de ser, caladinha, pra calma crescer em tristeza em você e você caminhar pro outro lado com discrição, mudo, mamãe não te entende. abaixar punhais, conversar com seus eletrodomésticos, que te entendem, que partilham seu dia a dia, sua arte, sua inquietude, suas vozes e seus amores, quaisquer que sejam. meu rádio antigo, encolhido, olha pra mim com uma piscada resignada, e se abaixa sob o móvel da sala, quietinho, entendido do mundo, das coisas.