28 de setembro de 2007

Dias de cão

Ontem meu pai chegou em casa vagaroso, um pé atrás do outro como se cada um fosse um tremendo esforço. Chegou três horas depois do horário de costume, mais cansado que de costume, quieto como raramente e um tanto lento. O dia foi uma batida. Corrido, agitado, cheio de compromissos e problemas pra resolver. Cheio de discussões e telefonemas e ordens e tarefas.
Ele contava, enquanto tirava a camisa devagar e parecia cansado até para o banho, que teve de ligar a não sei quantas pessoas e fazer não sei quantos rearranjos, que tinha o pepino nas mãos e que era responsável pela resolução da maior parte das confusões que aconteceram. Tirou os sapatos como se nunca tivesse ouvido falar da palavra pressa ou mesmo como se só fosse familiar com a lentidão e foi-me contando sobre o desenrolar do dia entre grandes inspirações e expirações. Disse, como se não fosse grande coisa, que saiu de casa apressado e por isso não tomou café da manhã, que teve que resolver mal entendidos e não teve tempo de almoçar. Quando me choquei e perguntei como tinha conseguido ficar em pé ele respondeu, num tom conformado, que tomou alguns copos de café durante o dia e comeu alguns biscoitinhos em recepções de hotéis ou entre um compromisso e outro. Quando lhe perguntei se queria que preparasse alguma coisa para o jantar, disse que a própria fome e o cansaço já o tinham alimentado, e que a vontade de comer tinha ido embora. Engoliu um ou dois pedaços de pão e foi dormir com um ar irônico, fingindo não saber que os dias seguintes seria a mesma coisa até que o problema central, gerador daquele emaranhado de complicações, fosse resolvido, afinal, ele era o responsável por gerenciar o pessoal, coordenar ações e dar conta do que só ele podia fazer.
Já eu fui dormir com um ar de curiosidade e a certeza de que ainda quero ter dias e responsabilidades assim.

25 de setembro de 2007

Today's Fortune

"Today's fortune: You will be fortunate in everything"

Ainda bem que eu sou dos que não levam a sério.

Sobre (re)começos

Sempre me esqueço do gostinho. Lembro-me das sensações, do deslocamento, das conversas dos amigos que parecem ter tido férias ainda mais agitadas que o ano passado, do conhecimento novos professores, do descobrimento de uma nova rotina, da adaptação, do costume e, por fim e ainda bem, do gostar. Houve só um lugar em toda a minha vida que eu não gostei, e esse lugar foi a Brasília de 2002.
Mas, mesmo que eu me recorde disso tudo, esqueço o gostinho.
Devo gostar. De mudar assim e de descobrir que se pode ser sempre um camaleão e, às vezes, um camaleão dos bons. Quem diria que eu sofreria tanto para deixar Brasília depois de conhecer, por seis meses, pessoas completamente novas e diferentes do que eu costumava conhecer. Quem diria? Me lembro (foda-se a regra gramatical de não poder começar frases com pronomes pessoais do caso oblíquo. estão reformulando a porra toda mesmo e querem tirar até a trema, que moral eles têm pra dizer que estou errada?) bem da sensação de tudo novo, da surpresa e do nervosismo. Me lembro do gostinho de entrar pela primeira vez na faculdade. Mas não me lembro do gostinho de começar novas amizades. Lembro bem da sensação, mas o gostinho não é a mesma coisa.
Ontem então, primeiro dia na faculdade para resolver minhas coisas, conheci outra caloura. Sofia. Bem querida e easy going. Eu realmente não me lembrava que era tão simples! "Sociologia também, é?! Prazer, Luiza" "Sofia" beijinho, beijinho, pronto: uma conhecida. Está certo que eu fui assim bem brasileira: conversadeira, alegrinha e risonha, mas eu sempre fui assim. E eu sempre fui força. Não tanto, mas a culpa é das piadinhas. Eu simplesmente não me livro delas. Nem quereria. Nem a Curu quereria.
E foi bom, foi um dia cansado e alegre, mas foi alegre. Cansado em nível maior porque eu dormi mal e minhas costas choram, mas foi assim, inovador. Entrei na faculdade e vi uma fila de pessoas, coletinhos azuis, caras entre riso, vergonha e desespero e, no meio deles, Sofia. "Meu Deus, é a calourada de sociologia!" foi o primeiro pensamento. O segundo foi "quero entrar na fila". Eles gritavam "Bla bla bla SOCIOLOGIA!" Cara, a vergonha era nítida principalmente no fim do coro, que era pra ser mais alto. hahaha Agora eu penso "não sei se queria estar lá não". haha Os veteranos puxando a fila, caminhando ao lado, instigando.
Eu sou pró-trote (pró-praxe). Uma praxe animada, divertida, não-traumática. Sem idéias de colocar camisinha no pepino com a boca, mergulhar no estrume, puxar carroça com veterano em cima (é, agrônomos, eu sou contra!), sem humilhação. Mas um trote suave e memorável. É um rito de iniciação, e, se calhar, ainda há no meu computador um estudo dirigido sobre a importância deles. É a marca de um começo, é um "bem-vindos" (cara suspeita ao escrever isso), é um "vocês fazem parte". É um (re)começo. E amanhã eu entro com qualquer pé nele.

21 de setembro de 2007

Here, Frank, the secret I chose to tell the world, not you.(and I know you'd support it)

And I find myself immensely brave for it. I am immensely brave for it.

Vale tudo

Por que diabos o suposto soco que Felipe Scolari deu no jogador sérvio virou comentário em tudo que é lugar? A mídia gostou do soco, os telespectadores gostaram, a crítica gostou, os blogs gostaram, os escritos anônimos e os que dão a cara a tapa gostaram, Felipão gostou, e a FIFA finge que não gostou. Oras, deixem-no viver! Parem de comentar sobre o maldito soco! Até eu agora comento, que chatisse!
E outra coisa, quatro jogos?! Tá certo que os portugueses não estão se dando muito com o técnico da seleção deles ultimamente, mas quatro jogos é um prejuízo incalculável pro time. Quem vai ficar à beira do campo vestindo um agasalho, segurando a barriga com o eslástico da calça, ficando vermelho de gritar e trazendo Cristiano Ronaldo pro banco mesmo que ele faça biquinhos(seu jogador habilidoso, ágil, metrossexual convencido!)?! Acima o vendido Felipão! Você deixou nossa seleção por uns tostões a mais mas pelo menos não fingiu que não é capitalista! Volta Felipão!

You writer, you liar

The writer: You think love is simple. You think the heart is like a diagram.
The phisician: Have you ever seen a human heart? It looks like a fist, wrapped in blood! Go fuck yourself! You writer! You liar!
Eu estou melhor agora.

19 de setembro de 2007

Sobre meus melhores quatro meses

Eu sinto tanta falta de vocês. Tanta, tanta, tanta. Me dá vontade, mesmo, de voltar em Janeiro. Eu espero que passe logo. Espero que passe mas que fique a falta de vocês, pra eu poder preenchê-la de volta depois. Mas é tanta falta. O dia-a-dia, as palavras, os risos, os olhos. Me dá vontade de chorar. Porque a gente tem vontade de chorar às vezes. E cadê o Beto para conversar sobre o chorar, a Mari Du pra ouvir e dizer que entende e me oferecer o mundo e mais um pouco, a Mari Vas pra conversar sobre isso, a Curu pra ser alheia e ainda assim me mostrar que está lá, a Clau pra dar apoio sabendo ou não o que é, Leyla-Layla pra alisar o cabelo e ser carinhosa, o, a, o, a, o, a. Deixa, passa. Muita coisa, algumas que não quero, mas passa. E fica.
Estou pensando no meu muro, e nas escadas de vocês; nas minhas âncoras, e nas bóais de vocês; nos meus óculos, e nas lentes de vocês; nas minhas algemas, e nas chaves de vocês; nas minhas cordas e nas facas de vocês.
E as pessoas que ainda me vão conhecer agradecem desde já a mudança que vocês fizeram em mim.

"Eu matei Mufasa"

Aos poucos, sutil e calma como poucas pessoas descobrem por si só que posso ser, eu vou lançando meus segredos pelos cantos do mundo, tramando palavras que parecem sem importância, cuspindo um passado sempre presente, um desejo nunca morno, uma esperança nunca vã. Vou deixando minhas migalhas em terrenos diferentes, vou jogando papéis no chão sem o remorso costumeiro, vou largando meus pedaços.
Obrigada por ouvir meus segredos sem saber, e eu te perdôo por fazer chacota deles sem perceber. Obrigada por ver a importância às vezes, e me olhar como quem fez um grande feito. Eu fiz. Pequenos Grandes Feitos Desconhecidos. Sem contar aquela latinha de Skol que eu virei. haha.
Obrigada, mais diretamente, à minha irmã, que sabe ser absolutamente carrasca e absolutamente compreensiva, e eu ainda não descobri como. Que sabe ser presente. Meus segredos estão já perdidos em você, e eu já não me importo que os encontre de novo. Só esqueça de procurá-los, faça espaço pros novos.
Estava pensando noutro dia no postsecret, nas pessoas que mandam os segredos, no ato de confessar-se para "o mundo". Eu vou-lhe dizer, é viciante. Escreva um segredo, confesse-se numa folha de papel, numa montagem da internet(tudo que dê menos trabalho e consuma menos tempo pra você não se arrepender enquanto escreve, certo?), nalgum blog. É viciante. É libertador. É auto-descoberta. É pesado. É assumir, é ter certeza, é confirmar, é perceber, é muito. Mas é bom. É viciante.

Sobre "Sobre Feedback"

Ou minha salvação ou minha decadência.

18 de setembro de 2007

É bem curioso

É curioso, não é? A gente perde alguém próximo e tudo parece mais fugidio, mais passageiro. Principalmente se a pessoa for nova demais. E se for de súbito. De repente você se vê agarrando-se ao adeus costumeiro de todo dia, ou ao bom dia cansado que você esqueceu de dar ontem, ou ao beijo que não deu depois da briga, ou ao sorriso que preferiu não dar na saída de casa. Você se prende aos olhos, aos passos, aos cabelos, aos sorrisos. Prende-se ao que dói e ao que acalenta, ao que é de sempre e ao que é novidade. Passam-se dias, semanas e meses e você ainda não lhe disse que gostou daquela carta curta e sem propósito, ou daquela longa e interminável. Então se lembra de que amanhã pode não haver mais destinatário e corre para descobrir notícias, saber paradeiros, relembrar.
Isso não é exatamente sobre o Rô, ainda que ele tenha um pé na história. É só que hoje eu recebi um lembrete de amizade, um "estou aqui", um "sinto saudades", um "me preocupo" e pensei logo nisso. E então, voltando a falar com essa pessoa do lembrete, ela terminou com "eu te amo" e podia-se sentir a preocupação inconsciente de "quero que saiba isso antes que se vá de repente e não dê mais tempo". Ela viveu essa perda súbita também. Por acaso, também foi o Rô. E eu aprecio. Seu desespero, sua dor, sua dúvida nunca saciável, porque exatamente essa dúvida, a da morte, é sempre insaciável.
Do jovem cheio de vida desconhece-se o dia da partida, do pai aposentado que joga bola aos finais de semana, desconhece-se a partida, do drogado, desconhece-se a partida, do doente terminal, desconhece-se a partida. Pode ser hoje, amanhã, depois. Podem até dizer "é hoje" ou ainda "dentro de algumas horas", mas pode durar um dia a mais, um a menos, um minuto a mais, um a menos.
Por isso, não vou recomendar que saia falando tudo desenfreadamente, grite aos sete ventos seu amor, regurgite loucamente seus sentimentos, declare importâncias. Não. Apenas agarre-se, se puder. Ao adeus à porta, ao beijo no parquinho, ao bom dia irritado, à palavra certa para fazer parar o choro, à oportunidade de dizer o que quer. Faça por si, não pelo outro. Quando ele se for, não é ele quem vai sofrer. Não é poético, chega a ser egoísta. Faça por si, pelo outro, pelos dois. Faça por ninguém. Faça por quem quiser, mas faça.

Rô, eu não deixei de lhe dizer nada. Pode levar todo o meu amor, meus gritos, minhas birras, minhas imaturidades, meu desespero, meus segredos, minhas crises, meus abraços, meus soluços, meus beijos. Pode levar.
A gente se vê. E procura refazer tudo de novo.

17 de setembro de 2007

Sobre perdão

"I gave me away I could have knocked off the evening But I lonelily landed my waltz in her hands In a way I felt you were leaving me I was sure I wouldn't find you at home And you let me down You could have knocked off the evening But you lonelily let him push under your bone You let me down It's no use deceiving Neither of us wanna be alone And you're coming home

I gave me away I could have knocked off the evening But I was lonelily looking for someone to hold In a way I lost all I believed in And I never found myself so alone And you let me down You could've called if you'd needed But you lonelily got yourself locked in instead And you let me down It's one thing being cheated But you took him all the way through your bed

And now you're coming home And I'm trying to forgive You're coming home And I'm trying to forget You're coming home And I'm trying to move on You're coming home And you haven't called yet You're coming home I gave me away I could have knocked off the evening But I lonelily loomed her into my bone You let me down There's no use deceiving Neither of us wanna be alone"

Damien Rice - Lonelily

Sobre perdição

Minhas palavras viraram meu vício. E as dos outros também. Eu não sei qual é o pior.

13 de setembro de 2007

Sobre validade

E quando estou em paz comigo, quando estou feliz e estou satisfeita, quando me acho eu e me acho suficiente, ela me diz: "Eu acho que você está você demais". E por isso eu percebo que nem tudo que ela me diz é sempre válido.

A resposta que eu não te dei

Não, eu não concordo.

Sobre furor

Cale-se, rabisque-me, valha-me. Cale-me, rabisque-se, sobressaia-se. Corra-me, de mim, as mãos, no chão. Bata-me, na porta, na rotina, na janela do camburão. Escreve-me, na areia, no rosto, na escuridão. Arranhe-me, a boca, a gaveta, as unhas no colchão. Suje-me, de si, de mim, de nada. Busque-me, no vazio, no calor, na meia luz da madrugada. Subjulgue-se, julgue-me, se desfaça. Corroa-se, colora-se, ponha-me em brasa. Fale-me, verdades, mentiras, rasas. Segure-me, o braço, o pulso, a têmpora. Use-me, leve-me, venda. Esqueça-me, ligue-me, desvenda. Ascende o olhar através da venda.

Sobre calefação

Estou agora pensando, agora pensando, agora pensando. Naquele frenesi louco de quem é prisioneiro dos próprios pensamentos e se rende sem suspense, só para mostrar que é a música e não a cena que faz o medo e que é melhor render-se logo a começar a temer a si mesmo. Então me entrego rápida, engatilhada, como a arma mais veloz de um duelo à moda antiga, como o soldado mais ágil na esgrima das baionetas de armas sem projéteis. Estou sendo rápida, engatilhada. Os dedos dançam e isso é melhor que hipnose, é mais sincero, é mais brutal. É a consciência das palavras cuspidas já quase pelos dedos e não mais pela mente. É a brutalidade da consciência das toneladas de palavras; é já não saber o que se escreve, e escrever mesmo assim. É fechar os olhos e ver os dedos lutando, batalhando, matando-se como se não houvesse amanhã, e, por fim, não há mesmo. É parar, respirar e perder-se, e não saber o que falar e saber que se fala o que quer, é lutar contra si mesmo, contra o que impede e diz 'não' e te mata. É lembrar-se das palavras doloridas de outro alguém e viver depois de cuspir suas próprias ameaças a si mesmo, seus próprios socos e pontapés e suas celas maltratadas de prisioneiros políticos. É ser militante e acomodado, espectador e espetáculo, violento e vítima, pobre e consciente. É tudo que é antônimo e não devia ser. É tudo que é excessão para uma só pessoa, mas que, exatamente por isso, é excessão para todos. É cuspir, cuspir, correr, engolir, sujar-se. E agora vou escovar os dentes e tomar banho.

Sobre nada

Qual a especialidade da primeira vez? De tudo, se alguma vez deve ter algo de especial, pensar-se ia que seria a última. Mas a primeira? Depois da primeira há a segunda, a terceira, a quarta, a quinta vez. Depois da primeira há a repetição, e com a repetição há o decréscimo do valor, da importância, da especialidade. A primeira vez abre um ciclo, abre um leque, abre conseqüências, abre uma nova perspectiva de tudo que é novo, e tudo que é velho e tudo que já se foi e tudo que virá. À última vez, nada.
O que se segue ao último beijo?, o que se segue ao último olhar?, o que se segue à última hora?, o que se segue ao último soco?, o que se segue à última vez? E nossa cultura é a importância da primeira vez. O primeiro caminhar, a primeira palavra, o primeiro beijo, o primeiro cigarro, a primeira transa. E o último passo?, o último grito?, o último lábio?, a última salvação?, o derradeiro prazer?, o derradeiro amor?, a derradeira esperança? Depois há o espasmo. O choque dos olhos abertos e das bocas escancaradas sem palavras. O absurdo das mãos a centímetros e a infelicidade da última gota presa na torneira. O desespero consciente dos seis segundos de vida aos quais a cabeça decaptada jogada no cesto agarra-se na tentativa de fugir. À última vez, a lembrança. A mosca na sopa e o calo no pé, a rouquidão da voz e o cheiro que se foi; as pontas dos dedos grossas de esforço e o violão quebrado na prateleira, a dureza do sorriso da graça que já foi graça, mas que agora é retrato. À última vez, os retratos.
Não, eu não quero o esplendor e a plenitude da primeira vez. Não quero os sinos, nem os badalos, nem os anjos, nem os astros, nem o brilho, nem a doçura, nem a beleza. Se puder guardá-los, quero-os todos para minha última vez, para meu último adeus, para meu último sorriso. Se puder guardá-los, quero mandá-los embora quando o sol tiver já ido e quando a noite for já minha, quando os olhos estiverem já fechados e meus pulsos acelerados, quando as pálpebras disserem boa noite e o corpo disser bom dia, quando as respirações ficarem profundas e a minha descompassada. Quando a noite for minha.
Que depois dessa noite, mais nada.

10 de setembro de 2007

Sobre finais

- Eu acho que a gente deveria deixar de se ver. - Por quê? - Eu não consigo me amar. Eu tenho amor demais por você e esqueci de guardar algum para mim. - Isso não faz sentido; não há limite para o amor. Você pode amar quantas pessoas for, na intensidade que for. Todo mundo sabe como o amor funciona. - O que é a mesma coisa de dizer que ninguém sabe. - Se você quer terminar comigo, deveria simplesmente dizê-lo, não inventar uma desculpa qualquer. - Por quê? Agora você vai me dizer que todo mundo sabe como terminar um relacionamento?

7 de setembro de 2007

Para Sara, com todo meu amor e todo meu egoísmo

Fiquei pensando no dia do seu aniversário, no meu olhar na sua página, na minha intenção de escrever um email, na intenção de mandar um scrap, na intenção melhor de ligar, que tenta fugir dessa contaminação que a internet colocou na disposição das pessoas. E lembro que não fiz nada disso, que pensei em você e nas coisas boas pra te dizer, que pensei nalgumas coisas e esqueci outras, e que deixei tudo escorregar vendo televisão. E estou pensando no que você deve ter achado disso, o que deve ter achado da minha ausência, da minha desaparição, de tudo isso. Estou lembrando da minha desculpa de não mandar nada pela internet por causa do seu computador quebrado, mas sei que já cheguei no extremo do ridículo, pra você e pra mim, e não posso esperá-lo voltar a funcionar. Estou me torturando desde 17 de agosto com isso, com meus pensamentos, com suas lembranças e meus descasos, me martirizando, pregando na cruz, questionando. E então penso que talvez você ache que nossa última discussão, que na realidade nem foi discussão, tenha-me feito mudar alguma coisa, ou esquecer, ou desconsiderar e eu não queria nada disso. Mas não consigo mais saber que passou-se quase um mês desde uma data especial e você pode ter achado que não lembrei, que não fiz caso, que esqueci, que deixei passar sem dar importância. Mas, você sabe, eu sou craque pra erros assim. Eu sou 10 pra erros assim e depois eu acho que é justificável, ou que é consertável, mas na realidade, depois do erro, tem sempre o medo de não consertar. Na realidade, fico aqui comigo pensando se é um erro. Essa merda de convenção de aniversário ser data pra se vangloriar ou desejar boas coisas pra alguém quando eu já desejo sempre, nunca deixei de desejar, nunca desejei nada diferente que só as melhores coisas nas quais consigo pensar. Mas e a pressão de até quem mal te conhece te deu um simples "Parabéns" e eu não o fiz? Me assusta que você possa pensar que já esqueci nossas coisinhas e nossas histórias e conversas, mas eu não consigo(e talvez nem queira) passar por cima das loucuras da minha personalidade desastrada e esquecida, ou talvez eu não me esforce o suficiente. Eu odeio datas de aniversários e desejos de felicidades de um dia só, mas é importante pra você, eu acho, e parece um consenso mundial de que é, então penso se eu não estou sendo uma egoísta que prefere ver as próprias vontades de não gostar de aniversários e deixar passar em branco.
Mas não deixei. Eu pensei em você e isso fez diferença pra mim. Mas não saber se você sabia ou achar que você considerou um descaso meu tem me assombrado desde aquela data e não consigo mais passar uma semana sem pensar nisso, e por isso escrevo. Porque talvez não machuque relembrar meu amor por você, e minha consideração, e minha admiração e meu tudo que é demais pra ser posto em palavras. Eu não quero falar, e estou desconsiderando de novo seu desejo de que talvez você queira ouvir, mas eu prefiro me calar e me deixar sentir e ver o que eu sinto por você e o que isso significa e essa amplidão, essa amplidão, e esse respeito. E fim. E é simples e eu não queria complicar. Então desculpa minha ausência e minha falta de compromisso, e desculpa minha falta de tato e e todo meu egoísmo. Desculpa, se puder. Se não puder, não diga que não pôde, só me deixe acreditar que seu computador ainda não consertou e você ainda não leu o que eu quis te dizer e que quando ler tudo será calmaria de novo.
Eu te amo. Feliz aniversário.

4 de setembro de 2007

Sobre nós

Eu espero ainda poder te dizer isso pessoalmente, poder ainda sussurrar no seu ouvido as palavras que acho que vão fazer efeito, poder sentir o efeito, poder saber que ele é meu. Talvez seja só por agora, você sabe como eu sou temperamental, eu sei como sou. E você adora. Adora porque isso deixa tudo na margem, na tensão de acontecer, mas nunca aconteceu, não é? Sabe Deus como alguma coisa deu certo(ou não) entre você e ela, e você sabe o quanto ela é perigosa. É isso que gosta também. E o desprezo dela, a rapidez, a meninice, a malandragem sutil que ela tenta esconder e traz à tona quando convém. Eu gosto também. Desperta um interesse que ela desconhece, ou talvez conheça e se faz de menina, como sempre faz mesmo. Mas eu sei como sou curiosa, e como as coisas me afetam, e você sabe o quão complicado nós três sempre fomos. O que é isso, um triângulo amoroso banal que a gente nunca reconheceu como tal? O que é? Algum casinho sórdido de nós três? Se for, quero meus benefícios, que por enquanto estou só de espectadora ouvindo suas histórias. Mas não é isso que quero dizer. O que quero é ainda ter a oportunidade de te dizer o que quero perto do ouvido. Te dizer que eu adoro esse seu jeito, essa sua besteira que exala pelos poros sem que você perceba, sua meninice enlaçada na sua malandragem, suas insinuações que eu finjo ignorar, seu sorriso e sua dependência de mim. Mas sua dependência não é tão direta, não é tão brutal o suficiente pra me fazer correr. Não, não é. Eu vi seu olhar enquanto considerava me sentar um centímetro mais perto e não o fiz, eu vi sua expectativa e brinquei com ela te lançando as possibilidades que agora eu remôo quieta sem que você saiba. E eu fico me abrigando nessa distância, fazendo-me livre nela, fazendo-me prisioneira dela, desejando que você esteja aqui pra que eu descubra se isso tudo é só mais uma moda que eu inventei, porque você sabe como eu invento moda, eu sei. Mas, céus, não mude. Não mude mesmo, fique assim, perto, fazendo planos, dizendo que espera e procurando outro alguém, querendo me substituir sem realmente querer, querendo procurar meu perfil noutra mulher, querendo encontrar meu suspense noutras saias. Continue, que eu gosto. Continue, que me excita. Continue que quero ver até onde nós vamos com tudo isso. Com esse nosso nada.

3 de setembro de 2007

Sobre prisões

Somos pela simplicidade(/complexidade) da escrita. Sim, acima a simplicidade da escrita! Já, por sinal, observou a frivolidade de uma exclamação? Talvez assim seja exagero, mas pense na ridicularidade de duas exclamações, três exclamações. Com uma exclamação, mostra-se a vontade, a determinação, e ela é ainda válida para se afirmar algo forte. Mas quê mais para tornar toda uma frase banal além de três exclamações no final? Ah, quase nada. Exclamações são exageros. São reações demais para algo que poderia terminar só com um ponto. Olhe um ponto, que poético. Nada há de mais poético que um ponto. Um ponto lhe diz: quero dizer isso e fim. Nada mais que isso. Só. Toda a complexidade de uma frase inteira captada pelo ponto. Toda dor, todo sabor, toda loucura, toda intensidade contida num ponto. Todas as interpretações, todos os desestendimentos, toda a pressa, tudo que se quis e que não se quis dizer presos num ponto. E, então, por conter tudo isso n'algo tão pequeno, as pessoas pensaram que deveriam fazer dele algo maior, e então criaram a exclamação. Mas o que há de mais belo que um tango dançado nos olhos? O desespero de um olhar? A intensidade das mãos estupefatas, chocadas, perdidas imóveis numa superfície qualquer. E a intensidade de um solitário que vê um filme de amor? A intensidade de um surdo que observa um acidente de carro. A intensidade do calor das coxas. O frenesi contido e calado dos dedos que caminham. E me põem uma exclamação ao fim da frase que poderia ser a mais bela. "Eu era seu escravo!" "Eu era seu escravo." Toda a intensidade que espichou o ponto e o transformou numa exclamação vai-se com ela, perde-se, ultrapassa-a, rasga-a e diz que não lhe pertence. A exclamação, por fim, é pior prisão para os sentimentos que o ponto exatamente por conceder-lhes mais espaço. Talvez tenha a pretensão de fazê-los conviver em harmonia, felizes. O ponto é bruto, é mínimo, é apertado. Diz que não importa seu turbilhão de sensações: ficarão todas aprisionadas n'algo que ainda não descobri se é um pequeno círculo ou um pequeno quadrado. Mas fica tudo preso ali, chocando-se, e sua cela não se importa se estão felizes ou não, harmônicos ou não, simplesmente porque nada nunca é. Não para todos os ângulos. Ou ao menos não deveria ser.

Sobre escravidão/exploração(auto?)

Ontem vi um homem com dois celulares.

2 de setembro de 2007

Sobre vontades

Antes, mentalmente, fiz uma lista(quase infindável) de tudo que queria e tudo que não queria. Agora, assim com os dedos nos quadrados, tenho nada em mente. Mas é fácil, é começar e tudo desandar. Quem é que não quer um mundo de coisas disfarçadas na vontade de nada?
Quero água. Agora pra começar. Minha boca está áspera do sol do Porto, da tarde de ontem e da tarde de hoje. Eram o quê, 30 graus? Quero água. Pronto. Agora quero espaço. Estalar os dedos, fingir que tenho coisa boa a dizer, pensar que eu talvez me entenda e saber que entendo mesmo. Quero um texto cansativo pra quem ler. Um formato antiquado, parecendo um caixote que é pra baterem o olho e mudarem de página. Não quero que mudem de página, mas faz parte. Quero palavras. Quero olhos sobre mim, de que natureza forem. Quero respirações ruidosas pra me lembrarem de que não sou só eu que não estou achando fácil. Quero telefone. Para jogar na parede e deixar bem claro que eu ODEIO telefone. Mas uso. Uso porque odeio mas não sou mongol de negar os benefícios e, de uma forma ou de outra, quero vozes perto. Quero perder o pudor de ligar pra quem vai achar estranho receber um telefonema. Queria ouvir a voz de Mariana Vassallo, mas não liguei quanto tinha cartão nem vou ligar agora que não tenho nem vou ligar quando tiver porque não gosto de telefone e para depois poder ter algo para brigar comigo mesma. Quero mesmo ouvir a voz de Mariana Duarte. Mas assim, ao vivo, que é pra fazer bastante efeito. (Quero, só por isso, Dezembro. Mas depois quero Setembro de volta.) Quero dirigir. Quero ser boa motorista. Quero saber reduzir na marcha e não no freio, que nem Mariana 007 faz sem mesmo ver(a redução na marcha). Quero ameaçar atropelar pedestres só porque é engraçado. Quero correr num campo aberto e, já que estou na Europa e estou falando de coisas que são desejos e que não serão necessariamente realizados, vou ser exigente: quero correr em campo aberto e melhor que seja na Inglaterra. Quero alguém comigo. Pra sentar então no gramado no fim da correria. Beto gosta de metáforas, mas acho que vai achar essa um pouco vulgar. Tem nada não. Quero menos calorias. Estou comendo horrores, devo ter engordado um pouco. Não sou de fazer dietas, nunca fiz, só de engorda. O que está para ocorrer é um controle de boca. Quero descobrir uma música nova boa tão boa quanto foi descobrir Smokers Outside the Hospital Doors. Quero tocar mais violão. Quero cantar numa banda. Quero cantar pra mim. Quero que Mariana 007 me peça para cantar mais uma música. Quero fazer uma música. Depois quero que digam que está boa. Quero então que me peçam para tocar de novo e, depois do ego bem enchido, quero que me deixem em paz. Quero apreciar o calado da noite, mas não porque não consigo dormir. Esse calado é mais um martelo, como está minha cabeça agora. Quero amigos. Novos porque não há outra opção. Quero amigos ótimos também. Bem divertidos, bem aconchegantes, bem amigos. Gostei de Lorena, parece interessante, deve dar boa companhia, espero poder descobrir. Por sinal, já que falamos dela, quero dizer que não gosto tanto de Aerosmith. Quer dizer, eu disse que sim, mas depois pensei melhor e o cara grita muito. Tem uma voz massa, mas grita horrores. Quero mais músicas de Amy Winehouse. Ah, lembrei, quero um laptop! Ajuda a escrever nos melhores lugares e eu não gosto de escrever à mão. Quer dizer, gosto, mas meu pensamento é zilhões de vezes mais rápido que minha mão direita e muita coisa se perde. Não sou como Mari Vassallo que gosta do desenho das letras porque quando escrevo rápido minha letra sai péssima. Calma e paciente ela é até bonita(!). Quê mais? Ah, quero descobrir porque gosto de uns cheiros repentinos de cigarro e odeio outros. Será a marca? Quero tomar cerveja. Sagres, que é a mais famosa daqui e a única que provei. No Brasil a cerveja é uma bosta, o que me faz questionar porque temos a tradição de adorarmos cerveja. Quero fazer meu curso de fotografia a tanto tempo planejado e depois quero uma máquina boa. Não precisa ser realmente boa, só boa pra começar.
Nem desandou tanto quanto eu esperava. Não desandou nada do que eu esperava.