27 de agosto de 2007

Ode às Marianas

Eu não vou começar do começo porque a primeira Mariana a cruzar minha vida é revestida de um caráter diferente das outras Marianas. Essa primeira Mariana teve sua vida cruzada por mim talvez primeiro que eu tive a minha cruzada por ela. Na realidade, talvez tenha tudo acontecido simultaneamente, mas ainda assim, fui eu quem demorou a perceber sua influência em mim, e por isso vou deixá-la ao final.
Mas então, na minha oitava série, eu conheci a primeira Mariana de que me recordo. Bem morena, cabelo ruim, olhos castanhos, baixa estatura, feinha, histórico desconhecido, importância nula. Ela andava num grupo de três meninas. Eram todas, feliz ou infelizmente, muito apagadas. Suas reais amizades pareciam limitadas entre as outras duas amigas, e ainda que conversassem com mais pessoas(eu ia dizer "muito mais pessoas", mas é mentira), não pareciam fazer grandes questões. Uma das minhas amigas, que não é uma Mariana e não tem importância nula, por um acaso era colega de uma delas, que também não era Mariana, mas que também tinha importância zero. Essa colega do trio então contou à minha amiga um caso sórdido seu que, por sinal, já contara a uma das suas outras duas grandes amigas. Essa amiga da colega de minha amiga a quem o caso sórdido também foi contado, contou à outra, a cujos ouvidos a noticía não tinha chegado e, naturalmente, como os melhores amigos de nossos melhores amigos não somos nós, a notícia espalhou-se. Enfim, isso só é importante para nossa história porque a imagem de Mariana foi danificada e, pelo próximo ano que eu conviveria esporadicamente com ela, sempre a veria como algo sórdido, nada interessante, sem graça e vil. Eu nunca a conheci realmente, nem nunca fiz questão, nem gostava de parecer antipática mas, felizmente, nunca fomos próximas o suficiente para que eu tivesse que fingir uma empatia.
A segunda Mariana com quem cruzei era loira, tinha um corpo bonito, olhos lindos, era um inferno e tinha cara e personalidade, até onde eu conhecia, absolutamente vulgares. Gerava um alvoroço quando passava por causa da casca bonita que era: de frente era realmente bonita(ainda que, para mim, tivesse uma beleza em grande parte artificial. Toma-se beleza artificial por aquela que só é conferida por excesso de blush, lápis, rímel e esses mistérios da maquiagem), de costas tinha uma bela bunda. Certo dia invigilante, 7h00 da manhã, uma tensão foi planatada na sala de aula na qual eu estava sentada no final, conversando um papo de morto-vivo, um olho aberto conversando, outro fechado dormindo. Mas o coro comeu, a porrada começou, e eu, que costumo ser aquela a estragar a felicidade de quem gosta de ver um bom baraco regado a pancadaria, tive a intenção de fazer o tumulto cessar. Não foi preciso sujar as mãos pois interromperam a porrada antes de mim, mas cabelos foram arrancados, cabeças socadas e a uma das meninas transformadas em ídolo dos "contra-Mariana".
A terceira Mariana que cruzou minha vida tem dois anos a mais que eu, tem uma cor de pele de que gosto, é muito bonita, tem cara de aplicada e um cabelo lindo que quer cortar. Gosta de brincos de pena, daqueles que não tem par, não gosta de uma blusa de alcinhas que tem, que diz se muito aberta, mas a usa de qualquer forma. Vai à faculdade de havaianas de plataforma marrons, e eu olho pros seus pés todos os dias, talvez porque eu não goste do chinelo, talvez porque gosto da tatuagem e nunca me acostumo com ela, talvez porque goste da história da tatuagem e seja lembrada toda a vez que a olhe. É a única são paulina que conheço que não é, de alguma forma, metida, tem uma voz que me faz sentir em casa e um sorriso que me deixa à vontade. É ótima no truco e seu jogo só dá errado quando muda de parceiro. Quando a vi pela primeira vez, aproveitei(como noutras infinitas vezes) sua carona e achei que ela e Bruna Cerqueira seriam uma dupla inseparável só porque caminharam na frente dos outros calouros conversando entre si. Quando vi Mariana nº3 pela segunda vez, ela corria comigo pelo subsolo do minhocão, meio palmo de língua para fora, os chinelos na mão. Quando a respiração baixou e resolvemos almoçar, mal sabia eu que quereria conhecê-la mais do que costumo querer conhecer os outros, que me sentiria à vontade como demoro a me sentir, que almoçaria mais incontáveis vezes com ela e quereria almoçar muito mais.
A quarta Mariana que conheci tem uma silhueta magra, um cabelo incrivelmente fino e liso, uma expressão de poucos amigos, mãos de dedos finos e uma risada engraçada. Usa tênis sem cadarços com quadriculados vermelhos e pretos e tem como fiel escudeira sua bolsa vermelha com bolinhas brancas. Não me lembro de vê-la com brincos. Não me lembro de vê-la com lápis nos olhos. Lembro-me dos seus sapatos finos, de vê-la sentada no ceubinho com outra amiga e sentir um ciuminho besta de quem não pode se intrometer na conversa dos outros. Lembros de suas pernas em cima do banco em frente ao Meleca quando tivemos a primeira conversa em que contamos algo de nós mesmas. Lembro de sentar-me no banco em frente a um anf e conversar sobre coisas mil vezes mais interessantes que o problema do carona. Lembro quando sorri para um amigo nosso em comum, na frente de onde seu carro estava estacionado, e fiz cara de brincalhona antes de dizer a ela que pegaria uma mulher que tivesse um Honda preto. Lembro do chaveiro feio do carro dela e de quando ela me mostrou uma música do Depeche Mode depois d'eu insistir que nunca ouvira uma música sequer deles. Mariana nº4 tem paciência para me escutar, e eu falo horrores, e gosta de uma boa conversa como eu, e perde direto de mim no truco, e vai combinar códigos com seu parceiro para ver se ganha da Mariana nº3. Mariana nº4 me mantém numa conversa até 4h15 da manhã.
Por fim, há ainda Mariana nº001, ou 007, porque me lembro quando disse ser esse seu número favorito(mas talvez isso já tenha mudado), é minha paixão. Mariana nºoo1 me viu pela primeira vez antes que eu a visse, e me tirou do peito de mamãe antes que eu estivesse satisfeita. Tem cabelos loiros que alguns pensam ser ruivos, tem olhos verdes que ninguém pensa ser de outra cor, e quando digo que ela ganhou os melhores atrativos da família, diz que Deus não dá asa a cobra, mas não acredita precisamente em Deus(ainda que, de uma forma ou de outra, acredite). Mariana 001 me dá nos nervos como mais ninguém, me dá vontade de espancá-la um momento depois que tive vontade de dizer que a amo. Tem uma inteligência invejável, mas o que eu realmente invejo é sua determinação, porque a inteligência eu também tenho. Ela escreve bem mas não em tanta quantidade quanto eu, e talvez por isso o que seu papel diz soa às vezes mais forte. Mariana 001 é grande parte da minha vontade de viver, às vezes da minha vontade de atirar-me pela janela, é meu anjo da guarda quando penso que me joga no inferno. Diz que futebol é o "ópio do pobre" mas aprecia um bom jogo. Diz que futebol é o "ópio do pobre" como se o do rico fosse melhor. Mal sabe o quanto amo futebol. Mentira, ela sabe. Mariana 001 tem uma risada que vale mais que a graça em si, me interpreta errado quando acha que estou sendo teimosa, ainda que às vezes acerte. É minha melhor companhia pro cinema. É absolutamente tactless quando diz que Alessandra Castro teria visto ou entendido algo que não entendi, e nunca percebe. Mariana 001, quando dança, acho que se sente no auge de sua completude. Mariana o01 odeia receber favores e eu, ainda que entenda o porque, acho-a louca e orgulhosa. Mariana 007 é Mariana 007, e fim.
Às Marianas da minha vida.

2 comentários:

  1. a n° 3 cortou o cabelo. =/
    o amigo em questão lembra da frase do honda preto e riu ao ler isso. =]

    que post bonito,.

    ResponderExcluir
  2. Entro, leio, saio. Entro novamente, releio, penso.(Familiar isso, não?)

    Você já sabe o que sinto/penso.
    Só tenho uma coisa a acrescentar.

    Eu vou ganhar de você no truco.
    Ponto.

    ResponderExcluir