19 de agosto de 2007

Sobre amores verdadeiros(admitindo que existam)

Um desses dias eu via um filme daqueles bobinhos em que tem um casal que se gosta e alguém entre eles e essas coisinhas bem clichês(e que se no final ele não ficar com ela você simplesmente não gosta do filme) e você vê até o fim pra depois dizer "Nossa, que filme sem graça", e em certa altura dele a atriz diz algo como "Você sabe quando encontra o verdadeiro amor porque sente algo que nunca sentiu antes", e assim que ela disse eu parei pra pensar. Não sendo um filme complicado, foi absolutamente simples pensar e assisti-lo ao mesmo tempo, já que o que eu deixava de ver por desatenção podia deduzir por já ter visto antes nos outros 300 filmes iguais a esse que já assisti e que disse, no fim, que eram sem graça.
Mas enfim, começei a pensar, cá com meus botões, que essa afirmação é um tanto duvidosa. O que acontece quando você ama pela primeira vez? Ou pelo menos se apaixona? Quer dizer, se você nunca tinha amado antes, então aquela é a primeira vez e você está experimentando algo que nunca sentiu antes(e talvez derive daí o fato de que a maioria das pessoas, no primeiro namoro, diz que vai se casar). Mas então, se ela disse que você sente algo que nunca sentiu antes, ela está partindo do pressuposto que se namora mais de uma vez antes de se encontrar seu "verdadeiro amor" e pode-ser, conseqüentemente, chegar-se à conclusão de que os diálogos do filme são pobres. Mas, voltando ao ponto, a atriz principal disse que namora-se ou deve-se namorar mais de uma vez pra encontrar o verdadeiro amor, porque somente assim você saberá distingüir o sentimento verdadeiramente verdadeiro. Mas e se, na primeira vez que você namorar, esse já for seu verdadeiro amor? Quer dizer, se isso acontecer, então esse é o sentimento mais verdadeiro que você jamais vai conseguir extrair de uma relação, mas como você vai descobrir?
Bom, continuando na linha do "necessita-se ter mais de um relacionamento", admite-se que você vai ter que terminar esse seu relacionamento e ter outro e se decepionar com o outro e então perceber que seu primeiro amor já era seu amor verdadeiro. Porra, que complicado. E se seu primeiro e verdadeiro amor já estiver fora de alcance? Quer dizer, ele não vai ficar parado esperando que você perceba que ele é seu amor verdadeiro. Quer dizer, ele pode até ficar, mas aí é filme. Ou Ginny Weasley em Harry Potter. De qualquer forma, a probabilidade disso acontecer, acredita-se, é muito pequena. (Ou isso é só nossa descredibilidade no amor.)
Olhando a coisa por outro ângulo, tem-se o casal que se conhece jovem, cada um é o primeiro amor do outro e acreditam que são o verdadeiro amor um do outro também e se casam depois de anos de namoro(ou não) sem ter tido outro relacionamento. E aí? Você está casado com quem você acredita ser seu grande amor, mas e se não for? Você nunca namorou outra pessoa, nunca teve a chance(ou teve e não abraçou) de ter algo diferente, de se acostumar com outros defeitos, de amar outras qualidades, de, de, de. Parece a mim um casamento largado um tanto ao acaso, à sorte de que cada um dos amantes seja mesmo o verdadeiro amor do outro, à sorte que cada um não tente descobrir se é mesmo o verdadeiro amor do outro, à sorte que não queiram descobrir outras pessoas.
Mas, no fim, não sei porque isso me interessa se eu nunca amei.

Um comentário:

  1. ótimo final pro texto. que quebra.

    não sei o que é amor. é tão complicado. não acho que exista um verdadeiro amor. ou melhor, espero que não exista. me parece injusto. e ilógico.

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