15 de agosto de 2007

Sobre mentiras

Acho que tomei nova decisão. Não dessas sobre a cor da blusa ou o programa de amanhã, mas sobre o conjunto da roupa e se haverá programa ou não. Estou prestes a lhe dizer o que nunca disse a ninguém, nem a mim. Acho que ela vai levar a sério. Ela sempre me leva, mesmo que não pareça. Ela me leva mais a sério que eu mesma. Talvez seja por isso que se decepcione tanto. Mas estou prestes a dizer-lhe. É uma grande coisa isso. Estou deixando muito de lado pra fazer isso. Estou com medo de chorar na sua frente e ela me achar fraca, acho que sempre achou. Mas, bom, eu choro. Me emociono um pouco fácil, eu acho, principalmente ultimamente. Tem acontecido muito ultimamente. Internamente. E eu descobri que preciso dela pra me descobrir, eu realmente preciso. Eu menti pra ela ontem. Foi triste. Pra mim. "Você sabe quem você é?" "Sei." Eu nunca havia realmente mentido antes. Só white lies, mas white lies não são como um aquecimento para se chegar nas grandes mentiras. Não, white lies serão sempre white lies, e big lies serão sempre big lies. E eu detesto mentira. Não que as ache vil, podres, imundas. Acho desnecessárias. Penso "encare", e mentira é um "fuja". A mentira é pior que a coisa que se quer omitir, penso. E então ontem, quando a pergunta chegou aos meus ouvidos depois de uma abordagem inesperada sobre mim, meu instinto(mentira, meu orgulho) respondeu antes que eu pudesse pensar. E sem pestanejar eu disse "Sei". Sem pestanejar. E então parei em minha própria resposta, os pés cravados no chão perpendicularmente às pernas como ela me indicara, e não 45º como sempre. Eu disse "Sei". E daí a cabeça voou e tudo era felicidade. Eu sei quem sou! Eu sei, eu sei! E então, passado o êxtase, passado o afã, o relógio girou mais um segundo e os pés descravaram-se do chão, o olhar saiu do rosto dela e foi ver os sapatos beges e, no meio do caminho, a mentira foi descoberta. O orgulho martelava-a, atolava-a, ridicularizava-a. É lógico que você sabe quem é. Essa pergunta foi sim um disparate, ridícula, isso que foi. Não. Não, eu não sei. Ei, volte aqui! Quero lhe dizer que não sei quem sou! Quero lhe dizer que talvez esteja nem na metade do caminho para descobrir minha verdade! Pode olhar como quiser para mim, mas não sei, não sei! Mas seu corpo já tinha se virado, e sua sobrancelha já tinha se erguido, e então pensei que talvez essa não fosse a resposta que ela quisera ouvir. Quer dizer, 40% de mim respondeu que sabia porque eu achava que era essa a resposta que ela queria, 60% foi orgulho. Ela queria a verdade, idiota! Essa conversa, no meio do shopping, no inconveniente de poder ser entreouvido, é só pra te ajudar. Ela sabe suas dúvidas; não sabe quais são, mas sabe que tem. Ou sabia, antes dessa resposta idiota. Certo, então eu menti mesmo. Que mentiu o quê, você se conhece! Certo, então eu menti mesmo. Certo, então mentistes. E cada passo era uma dor, cada respirada uma guerra. Devo-lhe falar? Assim do nada? O assunto morreu já, não vou trazê-lo à tona com a pretensão de que discutir minha verdadeira identidade seja interessante. E então passou-se um dia, dois. E decidi contar-lhe. Quer dizer, ainda não disse, mas irei. Vai gerar uma grande discussão e vai levar-me a coisas novas, completamente novas, como da última vez. Mas sei porque ainda não lhe disse: não sei se estou pronta pra saber quem sou. Na realidade, nem sou ainda, mas não sei se estou pronta pra conhecer a parte já formada de mim. Ela entenderia; ela costuma entender. Achoqueseráamanhã.

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