18 de agosto de 2009

Escreveu, pôs lá: mulher solteira procura homem atraente, charmoso, bem sucedido, na casa dos 30, cabelos curtos, olhos castanhos, mais de 1,75m, corpo bonito, leitor de bons livros, apreciador de boa música, de família interiorana e pacata e cuja vida amorosa não foi muito turbulenta. Esperou um mês, depois dois e depois três. Quando passou quatro e meio resolveu mudá-lo. Achou que pedia demais, e que dificilmente encontraria tal perfil. Escreveu: mulher solteira procura homem atraente, bem sucedido, na casa dos 30, olhos castanhos, mais de 1,75m, leitor de bons livros, apreciador de boa música, cuja vida amorosa não foi muito turbulenta. Achou que deixara de fora bastante, afinal charme, cabelos curtos, corpo bonito e boa família eram boas especificações do que procurava; mas, enfim, era melhor assim. Depois do quarto mês de espera, começou a engordar. Relia o classificado duas vezes ao dia para saber se era mesmo bom e se o tinham colocado em uma posição favorável na página, e pelo menos sete vezes checava a caixa de email. Recebeu um um dia, com foto e tudo mais, e achou que o sujeito não tinha entendido a chamada. Ignorou. Um mês depois, mudou o anúncio: mulher solteira procura homem atraente, bem sucedido, na casa dos 30, leitor de bons livros, apreciador de boa música. Imaginou que a aparência limitava muito a possibilidade de achar alguém, e entregou-se ao Deus-dará. Deus-dará que nada, Deus era guloso e nem com esse descrição seca dava-lhe alguma coisa. Deixou o tempo correr e o anúncio ficar, e ficou lá, nas páginas dos classificados, no seu perfil na internet e no site de relacionamento, bem como em alguns postes espalhados pela cidade. E ficou, ficou ficou. Quase esqueceu-se, mas não esquecia de fato. Quando relembrou-se, mudou-o de novo. Escreveu que procurava um homem apreciador de boa música e literatura. Meses. Ninguém veio. Mulher solteira procura homem. Nada. Voltou a sofrer ininterruptamente. Tudo somava já anos. Não sabia quantos. Devia ser mais de meia década, certamente era, era sim. Olhou para o anúncio colado no teto do quarto antes de dormir. Olhou, olhou muito, não parava. Resolveu fazer tudo - se estava na chuva era pra se molhar. Escreveu: mulher solteira procura alguém (assim mesmo!, sem especificar o sexo!). Semanas! Meses! Mulher solteira procura. Encontrou muita coisa. Apartamentos, propostas de emprego, chaves perdidas, carros seminovos e novos a preços imperdíveis, parcelamentos a perder de vista, sapatos em promoção e roupas fantásticas em brechós desconhecidos. Tirou o anúncio dos classificados e de todos os outros lugares onde estiveram afixados. Carregava agora somente o cartão de apresentação, porque afinal era imprescindível. Fundo branco, letra preta, Times New Roman, 12, sem frescura: mulher solteira.

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