27 de outubro de 2013

Por ela ser alta, não consigo fazer mistério do meu olhar que lhe procura; lá em cima torna-se evidente a minha busca. Na linha reta, dou de frente com suas saboneteiras. Belas saboneteiras; juntam em dois montes de cálcio toda a intenção de descer à depressão vulnerável que lhe apresenta o pescoço. O pescoço, entretanto, é um passo mais à frente; sou uma moça tradicionalista.

Eu quero subir às curvas da intenção do seu rosto até descobrir que prazer ela esconde entre as maçãs e a menção do sorriso. Quero olhá-la para agradar meus olhos e a minha incansável imaginação... E neste intuito subo devagar os degraus da sua traqueia, certeira de que não me percebem; confundo meu destino entre o parapeito do queixo, o descortinado do seu cabelo e a opção de começar pela orelha. Começo desde já a me insinuar para mim mesma, faço rodeios, enceno jeitos, mexo o corpo e não percebo: eu toda vou acontecendo em sua direção sem me esperar. Mas de todo jeito acredito-me plenamente camuflada. Prega-me subitamente uma força supranatural; alguma parte de mim vê algo que meus olhos não enxergam, afinal à sua visão estou de fato mais perdida que cega em tiroteio. E este puxar que me atrai de dentro para fora carrega-me arrastada em direção à consciência, as imaginações todas põem-se a divertir-se de mim, eu mesma sem mais armas estou entregue à graça da minha nudez desvelada... Ainda num último suspiro de tolice, rumo aos seus cílios como se pudesse enganar a rota. Mas o mistério que eles enfeitam é tão voluptuoso que não encontro motivos para não ceder às contrações involuntárias que transformam o seu desarmar-me em um sorriso de autosatisfação.

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