5 de outubro de 2013

Ouço-os comentar no apartamento ao lado como o envolvimento foi uma farsa. Não há saída para o fato de ele não prestar e ela ser infantil. Como não se pode ter destino este amor que na verdade se enganava todos os dias da possibilidade da eternidade. Deste relacionamento que por muito pouco não encontrou no papel passado a dissimulação da calmaria. Pois melhor ter sido assim, melhor ele fora da vida, melhor ele perdido, escondido, tanto faz, melhor fora dos olhos, envenenando vida alheia, sendo o homem sem caráter que a vida o fez. E melhor ela dar no pé mesmo, sumir de sua vida, melhor ela não dar as caras essa mulher infantil com quem quero tanto gritar e seguro, porque eu não sei, e quando a voz grita é porque não pude dizer de outro jeito. O espetáculo está armado no prédio de kits. As paredes são finas e o próprio envolvimento já nem tem mais um triz por onde estar. Todos nós estamos sabendo que não há mais futuro. Capítulos imprevisíveis deste desterro pipocam noite adentro, ou numa tarde qualquer. Todos os dias agora inauguram uma fúria nova. Ela acorda e escovar os dentes tornou-se algo inteiramente novo, o espelho imóvel irrita a insônia e o desaconchego. Encontrar uma cueca no meio da roupa para lavar! PORRA! Se for a dele, aí é mesmo o fim. Então inventa milhares de homens para esquecer seu jeito de transar e de lhe dizer coisas gostosas. Mas é uma merda, o sexo casual acaba com a casualidade do sofrimento, tudo parece um grande plano astral de miséria e lástima. Ele, ao acordar, gargareja o café e toma a água com sal. Cospe tudo, lembra dela, engole. Pensa na porra que não é dele, acha uma merda. Inventa mil mulheres, e supera a separação socialmente. Mas em casa, essa casa fria que não deveria existir, as horas são longas, os programas de tv são péssimos, o domingo deixou de ser um dia de descanso. Bem queria ele visitá-la para alguma coisa que não sabe o quê, mas ao chegar, violência!, e ele quer ir de novo sofrer sozinho. Como é mau buscar alento com o dono da faca.

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