11 de janeiro de 2008

(W)holes

Penso que estou cansada de mim, daí tento me ver como os outros me vêem, daí desisto, daí me acho cansativa e inconsistente, e sou. Cansei assim de umas coisas de mim, e olha que não estou olhando para o intemperismo de Portugal. Não, assim, cansei de algumas coisas de mim que sempre foram desse jeito e que o "exílio" - e estou cansada de falar nele e de sentir sempre a mesma coisa quanto a ele, o que mostra que até gosto da minha inconsistência, gosto, mas me canso dela e também, por trás dela, sou coerente, sou sim, gosto de ser - simplesmente trouxe à tona. Penso como alguém pode gostar de mim, penso mesmo, e lembro que poucas pessoas já se declararam apaixonadas por mim, mas isso não é uma crise amorosa pessoal. E também confundo brincadeiras e declarações de amor, na minha cabeça mesmo, não na prática, mas porque na prática não existem mesmo, senão eu confundiria também. Não estou querendo me mostrar sozinha e solitária não, isso não é sobre isso, mas talvez seja também. Mas cansei assim de um pouco de mim. Essa merda tá rimando, porra, não é pra rimar.
Às vezes quero que as conversas desemboquem para análises do meu comportamento, porque acho lindo quando feitas pelos outros, mas outro dia fizeram e não gostei, me enfezei. Não com quem fez, mas comigo mesma, porque me enfezei. Ainda assim, gosto de análises alheias sobre meu comportamento, pra eu poder retificar-me depois, para poder justificar-me. De uma forma estranha, gosto de me justificar. Mas, enfim, poucas conversas desembocam nisso, porque dou pouca importância aos meus desejos, pareço ser masoquista nesse aspecto. Tenho muito desejo reprimido, bastante mesmo, e isso está me corrompendo. Essa é a parte ruim; a parte boa é que está me preenchendo, o que na realidade é uma parte ruim também. Já me apaixonei outras vezes pela ilusão criada pela minha cabeça, já amei minhas quimeras, ando amando. Me incomodam realidades que quero viver e que vivem sem mim, mas muita coisa vive sem mim e eu vivo sem muita coisa, daí invento-as na minha cabeça para viver com elas.
Há coisas que não posso falar e queria mesmo, e queria quebrar algumas coisas e montar outras tantas. Daí me expresso vagamente, mas pareço estar sendo tão clara, tão clara, e para alguns estou. Mas não posso ser clara para todos, nem posso ser bonita para todos, nem posso ser bonita para quem me quer bonita, mas sou, mas há quem não veja. Mas cansei de mim, porque sou feia. Sou vil, mesquinha, mentirosa, cansativa, chata, pedante, petulante, convencida, altiva, modorrenta e áspera. Se quiser ir embora, vá, eu consigo colar-me e sobreviver, sempre, sempre consegui. Para a vida ser melhor, lance menores expectativas, ouvi dizer. Mas eu não sou fraca. Não, eu não sou fraca porque escolho não ser, mas sou intimamente e solitariamente, como são todos, ao menos uma vez na vida. A diferença é o que se mostra, o que se quer mostrar, e não sei porque isso é um crime. Talvez você estivesse mais bravo consigo que comigo, mas irritou-me também, estou irritada, estou irritada porque também cansei de mim, como você. Mas não vou largar-me, como você pode fazer.
Cansei de procurar minhas imperfeições, achá-las aos montes e não conseguir retificá-las, mudá-las, transformá-las. É preciso interatividade para isso, e interatividade não há no momento. Cansei de não procurar minhas imperfeições e achá-las aos montes; cansei de esconder minhas imperfeições e elas serem achadas por outros aos montes; cansei de mostrar minhas imperfeições como se isso me tornasse mais digna. Cansei de amar fora do plano real, de almejar fora do plano temporal, de labutar fora do plano salarial, cansei de esperar fora do plano espacial. Cansei de viver fora. Quero exilar-me. Talvez tente a experiência. Devo morrer. Depois reapresento-me ao mundo.

6 comentários:

  1. melhor post que vc já fez.
    melhor post que eu já li.

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  2. Não sabia que ia dar em tudo isso.
    Não foi de propósito.
    Na próxima, a análise do comportamento virá mais sutil e cautelosa para não prejudicar nenhum dos dois lados.
    Principalmente o que se enfezou.

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  3. tenho um amigo que diria "acontece"

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  4. olha, mesmo sendo isso tudo.

    depois da neve, o chão fica verde de novo.

    e quando foi que eu me tornei tão otimista mesmo? e tão piegas? rs

    enfim, você, assim, ainda assim, eu, amo.

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  5. Ai luiza, eu dificilmente digo isso a alguém, por simplesmente nunca achar realmente que faça sentido para mim e também por achar que é extremamente cliché dizer, mas dessa vez eu digo: eu me identifiquei muito com o que você escreveu.
    vou roubar. rsrs.

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