22 de janeiro de 2008

Hallo!

Segunda postagem da Alemanha!, aham, mas essa será mais decente que a ingrata e sucinta primeira, filha dos meus desvarios velhos mesmo quando há coisas novas para serem conhecidas.
Como outros blogs que as pessoas que frequentam esse blog já disseram, os teclados por alguns cantos da Europa possuem uma excessiva nudez de sinais gráficos, e é uma luta aceitar uma palavra que deveria levar cedilha ficar relegada a um mero "c". Além disso, o "y" fica no lugar em que conheco por ser a casa do "z" e vice versa, portanto, se eu escrever algo como "beleya", favor lê-la como deveria ter sido escrita. Dito isso, peco(lá vamos nós) desculpas pelas palavras horrorosas e ilegíveis que por acaso possam aparecer. Vale dizer, também, antes do texto propriamente dito, que nao entendo porque é que os teclados aqui possuem til se é impossível colocá-lo em cima das letras(só é possível escrever coisas como "n~ao", "s~ao" e afins).
O vôo de vinda foi bom e tranquilo, comigo dormindo todo o tempo e recusando-me a lanchar o que quer que fosse para nao gastar sagrados euros(sim, aqui, pelo menos em companhias low cost, paga-se o que se consome). Segui a velha regra do "dorme que o sono alimenta" e fui feliz até acordar pela milésima vez tentando ajeitar-me na cadeira com a barriga vazia - mae, se você ler isso, nao é que sou mao-de-vaca(consigo imaginar você dizendo "também nao precisa economizar assim, é só nao gastar com besteiras"), é que achei que poderia sobreviver até chegar ao aroporto e comer comida de verdade. A partir de determinado ponto do vôo, mesmo que tenhamos saído dum país de língua portuguesa e que muitos dos passageiros e eventualmente algum tripulante falasse minha língua mae, os auto-falantes do aviao(um boing que parecia pequeno para ser um boing) só falavam inglês e alemao, e, por sinal, demorou algum tempo para que eu entendesse que aquela segunda língua era de fato alemao, já que o comandante parecia fazer questao de falar o mais para dentro possível.
Desembarcando, no entanto, já nao havia como enganar-se de língua: o mundo gritava alemao. Li numa porta a escrita "drücken" e sobre isso a inscricao "push", e aprendi minha primeira palavra em alemao. Chovia em Berlin como nao acontecia dias atrás(nao é que chovia forte, é que, dias atrás, nao chovia), e tive que contentar-me com ver o Muro pelo vidro do carro e o Portal de Brandemburg sob um céu cinza, mas a euforia era incontrolável. O espírito, afoito e leve, via a Berlin Oriental e a Ocidental rasgarem a cidade em duas, e o carro entrou na auto-estrada(nao era uma autobahn) deixando as duas para trás.
Já no dia seguinte, viajamos à procura da neve, mas descobrimos que, de fato, tudo derreteu há uma semana. Passei por cidades de interior e vi a arquitetura tradicional alema, e a janela do carro, embacada, nao sei se condensava por conta da chuva ou da minha respiracao excitada de conhecer os campos verdes verdes, em pleno inverno, e as cidades pequenas neles plantadas.
Vi o horror de madeira onde amarravam as supostas bruxas para queimá-las em praca pública e passei os dedos pelas pedras das fachadas das casas, cujas datas inscritas sobre a entrada marcavam-nas mais velhas que meu país.
Fiz a loucura de sair de noite com o cabelo molhado, mas só depois de tentar secá-lo com todas as forcas sem ter de recorrer ao temido secador, e lembrei-me de mamae quando pensei no risco de ficar doente logo no primeiro dia, e tratei de enfiar um gorro na cabeca como me aconselhara a mae da minha amiga. Conheci bares e tratei de tomar minha primeira cerveja alema, uma das de garrafa, nao aquelas de copo(que tem meio litro), e, por mais que fosse muito boa e diferente das que já provei, mal consegui fazer com que o conteúdo chegasse à metade: deixei para os outros terminarem e descobri, por certo, que nao sou muito dada à cevada, o que absolutamente nao significa que nao vou provar aquelas de meio litro.
Comprei suspensórios e lembrei de Fritz, que ainda nao conheci pessoalmente, e depois gastei mais euros com outra bugiganga que só estrangeiro compra. Entendia brevemente o que era dito nas ruas: quando alguém pedia um cheeseburguer, uma coca, quando a rádio cantava alguma música de língua inglesa e quando lia targetas de preco. Aprendi a falar "eu nao sei falar alemao" depois de dois dias tentando, mas nao aprendi como se escreve(e é por isso que demorei dois dias: nao conseguia lembrar-me da pronuncia certa).
O sol saiu pela primeira hoje e achei nisso motivo para passear com menos roupa, e é lógico que passei frio. O sol, aqui, como dizem, é como luz de geladeira: ilumina, mas nao aquece. Caminhamos(eu e minha amiga) pelo parque, tiramos fotos e passamos frio, e voltei pra casa com a decisao de nunca mais sair sem gorro por aqui.
Nunca escrevi tanto num post e acho bom terminar por aqui, porque a memória lembra-se de coisas mais rápido que meus dedos, e meus olhos, espreitando aqui pelas cortinas vasadas, querem ir passear um pouco à luz -rara- do dia.
Tschüss! =D

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