29 de janeiro de 2008

Sobre a paz letárgica característica dos filhos de nosso senhor jesus cristo

Não tenho muito o que falar. Posto por postar e pela saudade das palavras. Não tenho escrito muito. Deixei Roberta(malz betinho) um pouco de lado, deixando-a para ser criada em momentos de maior intensidade sentimental, já que minha decisão nos últimos tempos tem sido manter-me sóbria e estável.
Estou descobrindo os preços das minhas reações. Louca e intensa, morro na praia dos meus pensamentos todos os dias e sinto sede com mais frequencia que a chegada de novo carregamento de água. Calma e sensata, vivo sem a graça do desespero e anestesiada, esperando a cirurgia que sei que virá. Controlando meus pensamentos, vivo até o dia seguinte esperando o próximo; soltando minhas feras, acho sempre que nunca verei amanhã. Ainda assim, não sei me decidir. Será que posso?, penso. Será que consigo?, será que devo?, será mais fácil?, será mais proveitoso?, será mais saudável?, será? E, lógico, não há resposta. Não virá resposta dos céus, não há céus. Não virá resposta da terra, só há mar. Não virá resposta do espelho, estou reinventando-me.
Ridículo pensar o quanto penso no que já foi e no quanto estou sendo Joana-sem-braço, é ridículo. "A diferença é que ela tem uma vida, você não", ele acertou, sem jogar-me nada na cara. Posso passar, e passo, horas a conversar de lembranças e passados, a remontar cenários, figurinos, platéia. Posso descrever meticulosamente o sorriso da lagarta no chão ao me ver passar naquele dia de sol morno, respondendo ao meu. Posso rever gostos e relembrar o esquecimento deles, e posso rever esperanças e suas recriações, posso, lógico que posso. Argumentos velhos e frases feitas e coisas passadas e quadros na parede, tudo estático, pela falta de elementos. E é absolutamente curioso que eu consiga escrever e descrever tudo isso, tal o estado de letargia em que me encontro. Tão anestesiada estou que chega a ser interessante.
Peguei-me, outro dia, falando opiniões falsas sem perceber e perdendo o fio da meada, educadamente mantendo o fluxo de qualquer conversa. A cada dia vejo mais desgastada minha rótula, e gradualmente ponho-me de joelhos, sorrindo leve, sem prazer. Passo a mão nos cabelos, refaço um cacho, cansada. O olho se perde, bebâdo da cerveja por tudo esparramada. Os dedos se auto-estralam, não percebo, e a cabeça pensa literariamente mais uma vez a vida que não vivo.
Os prazeres são rápidos, rasos, fugidios, mas enquanto os tenho não me queixo, são ainda prazeres, lindos. Durmo embalada pela arritmia de dois relógios que, em tempo, cantam em ritmo de balada, acreditem-me, durante três deliciosos segundos. Depois fecho os olhos e sonho com rostos conhecidos, e ainda às vezes há desencontros. Acordo e planejo mais alguns anos de vida, belos e cansativos, e imagino lençóis de quaisquer cores, e na cama quatro pernas, além das de madeira.
A coluna está velha e range de tempos em tempos, e os planos de colunas de jornais são possíveis, mas não tão idealizados ainda. O nescau tem gosto e nome novos e por mim tudo bem, outro dia escolho-os eu. Estou paciente e inerte, feliz na sã e santa ignorância e vivendo a paz letárgica característica dos filhos de nosso senhor jesus cristo, amém.
O sono, assim, também chega mais rápido.

4 comentários:

  1. adoro títulos gigantes! rsrs. principalmente os que começam sempre com uma preposição.

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  2. sabe, eu realmente não sei o que comentar. leio e releio. nem sei definir o que sinto, se gostei muito demais ou pouco, não sei. é engraçado. é muito estranho, aliás. a sensação, não o texto.

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  3. precisamos retomar nossa conversa internacional..

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