Ficou colado em mim qualquer coisa do insucesso de menina, do vexame de ter errado da primeira vez e da vergonha de estar fazendo pela segunda, ou da incerteza do próprio corpo e espaço, da fragilidade do que ficou pelo lado de fora na junção do X da mãe com o X do pai. Nos olhos e nos ouvidos ata-se-me o ressentimento dos passos dos outros que não tiveram paciência de acompanhar minhas perninhas sempre mais finas que da irmã mais velha, do lápis menos ágil que do outro, e do fazer forçado. Grudou em mim qualquer repúdio a mim mesma, uma falta de paciência com a preguiça e o insucesso que só gerou mais preguiça e insucesso, um cansaço altivo comigo mesma e um cuspe no último momento da saída da frente do espelho. Coisas pequenas não me foram coisas pequenas, foram descasos, foram cansaço, foram desgosto e desvontade, foram tudo menos o que de fato eram; foram complexos e foram traumas. Incertezas foram fracassos antes de o serem, e o foram por desígnio precedente e precipitado da própria descrença. E por fim o único talento que encontrei, a aptidão para as letras da qual cedo me convenci, por tempo caiu em terra e por períodos de lá não se levantou, e ainda hoje, olhando no espelho, é preciso se convencer das coisas que de mim acho interessantes e assegurar-me de um mínimo de beleza crua para sair da cama. Mas às vezes não tenho sucesso e vem de algum lugar um tapa a dizer que o resto não espera.
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