13 de março de 2008

É um absurdo e um exagero

É quase um absurdo, é um exagero querer ser tudo isso que não sou. É quase irrelevante e é certamente ridícula a vontade de completar-se. Não que ela seja, em si, ridícula, mas mostra-se apenas inviável, o que lhe é mais conveniente, pois que passa o ridículo a quem a almeja. E a almejo eu por crer na existência de qualquer coisa que se chame plena, qualquer coisa que se chame encontro, e não esqueço, pois que Vanessa grita em mim e para mim que um bom é de dois. Pergunto-lhe, como se ela fosse deus, se não lhe vale um encontro de uma pessoa e meia, de uma pessoa e quatro quintos, de uma pessoa e, eu juro, a intenção da outra. Mas a frase é tão crua que até mesmo Vanessa sofre: um bom encontro é de dois. E me remexo na cama, há tempos que os lençóis não se ajustam ao meu corpo, e me remexo na cama e o sono, quando chega, sonha com coisas que não quero, que nem nunca quis, sinais fingidos de mim que me perderam, e dessa vez não direi “que também eu perdi”. Não direi porque não sou o que eles queriam que eu fosse, e portanto insistem em grudar no meu corpo, mas não têm cola, porque me lavo constantemente dessas necessidades que acham que são as imediatas e não são. Agora, bem, agora basta-me na volta consertar os parafusos soltos e perceber que não há erros, nem grandes lacunas, perceber que as roscas apertam perfeitamente os parafusos e me decepcionar por não faltar nada, há sempre que faltar alguma coisa. É que o vai-e-vem necessário é um gasto das nossas rodas, é um gasto das nossas modas, é um gasto das nossas bossas. É que estar sozinho às vezes alimenta, mas por fim sempre termina por aumentar a fome. Também não sei dosar quantidades de álcool porque não estou acostumada, então não deveria ser surpresa que ela corresse de mim. E ela corre de mim achando que permanece, oh, ironia, e permanece. Sou sempre eu a tola a crer que me faltam pernas ou vontade; geralmente só me falta verdade. Sobram incômodos. Sobram. O quanto me incomodo e o quanto me reviro na cama - e logo voltamos aos lençóis - é absurdo, e ainda constantemente desejo que haja nela alguém que possui nome e formato, e acho que os conheço por conhecer minha vontade de tê-lo. Também eu às vezes penso querer morrer jovem, como símbolo de plenitude e altivez (a morte, não eu), mas não as tenho.

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