24 de março de 2008

Sobre o (desa)sossego

Ama-me louco, possessivo, invocado. Arranha as paredes do meu quarto e rasga meus jornais. Espalha minhas fotos e meus espelhos todos pelo chão e pisa com pegadas de sangue meu carpete amarelo, escreve-me cartas e as deixa em cada gaveta do meu armário. Rabisca-se de giz, ostentando ser criança, e pede que o segure nos braços para o amar. Caminha sobre meus cabelos pela noite, sussurrando segredos infantis em meus ouvidos, cantando mistérios que nunca foram, amando-me. Traz-me flores de tarde, chocolates de dia, vinho de noite. Passa a mão em meus cabelos dizendo nunca ter tido tão formidável travesseiro e me beija a boca para que o ache cativante. Conta histórias de ninar para me manter acordada e estraga meus momentos de extrema folia com conversas mentiras do seu tempo de adulto, fazendo-me jamais querer sair de casa. Alisa-me a testa com dedos de almofada e beija minhas bochechas com o nariz, sorrindo. Chama-me nomes no banheiro, rasga-me a boca com a sua, cospe água revoltando a cabeça e só desiste depois do derradeiro grito dos torturados. Depois toma banho, põem as cuecas que lhe dei, a gravata da esposa e volta para casa.

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