1 de maio de 2014

A garfada fatal no tomate cereja denuncia os destinos que inventa à moça. A incompreensão de seus sentimentos o levou a um estágio semi-profissional de matador encomendado; a ausência de dinheiro fizera-o contratar-se a si mesmo. Escrevera cartas em que lhe explicava mais uma vez e de modo compenetrado as intenções do romance que nascera dentro de si, e que, sem a possibilidade de existir, pouco deixava de margem para uma vida saudável. Com os dias, adquiria vícios e leituras dos romances policiais, mudou roupas, esteve a fumar e a única coisa que não mudou foi o gosto pelo álcool. Não fez amigos, ainda que a rotina nos bares proporcionasse ocasionais descontos à vista de planejamentos caros de equipamentos do exterior. Por pouco e por distração da rua, não se tornou um lunático para a vizinhança, que também o havia conhecido em momentos mais punjantes. Deixara o cabelo crescer sem o notar e a contínua mudança dos hábitos e do visual começou a desagradar a opinião alheia. De tantos papéis juntados, planos metricamente demarcados, materiais orçados, escreveu este conto, mais nada.

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