Roberta, como senti sua falta. Esqueci-te, sei, e fui feliz. Sobrevivi e vivi dias sem sua presença ou sua sombra, fui realizada e provocada, me tornei ousada e curiosa, eu mesmo já não sou aquela que lhe deu vida e que por momentos decretou sua fome e morte. Não sei o que farei contigo. Descobri no espaço-tempo real um pouco da personificação daquelas letras, descobri verdades póstumas, e hoje tenho quase que o corpo das minhas ousadias secretas caminhando ao meu lado por essas ruas para as quais sonhei voltar. Se pudesse te dizer que mundo é esse que me engole, acho que ririas também, somos parecidas. Nossos medos e ânisas se cruzando nos sinais vermelhos dos outros, e nossos motores roncando soltos querendo correr. Também meu desejo vai-se corroendo e não pode ter vida, e fico achando bizarro e surreal e irreal essa realidade de artista. Se não sou, como vivo como se fosse? Quando percebi que então vivia assim, como o que ainda não sou, que caminhava com quase que o corpo das minhas curiosidades ao meu lado, quando me apercebi arregalei os olhos e ainda não os consegui normalizar, ainda estou degustando com medo essa sensação, e pensando como é encarar isso. Jamais pensei ser possível, é uma ousadia tamanha, você sabe. Outro dia choquei-me que me apresentaram alguém com seu nome que me queria o corpo e o potencial, acharam qualquer coisa da minha aura, e eu pensando como seria ter minha criação quase a beijei na loucura criativa que vez e outra me toma. Mas não é ela, ou você, quem me vai matar. Você sabe quem é e, sensatamente, mantém entre nós duas. Tenho medo de encontrá-la na rua, imagine, ela sem saber que já existe para mim me olhando como se eu fosse mais um corpo na Terra, que hilário seria. Tenho medo do quão seca eu seria, essa secura que os nervosos têm pensando conquistar corações mais bravos. Nós duas, sentadas naqueles ônibus de ar condicionado, naquele país estranho, aquela gente estranha, nossa pele estranha, e os outros, mesmo os que ali viviam, pertencendo a outro mundo, e eu e você nos estranhando em nossa similaridade, eu fazendo-me passar por mais um teste de fogo, mais uma tortura cruel e doce, essas provocações envenenadas que, olhe!, acabaram me levando a algum lugar. Estou quase como outra e, na verdade, muito escreveria hoje do que escrevi naqueles tempos em que éramos só nós duas. Deixei-te, cruel, sonhar com Larissa sem tê-la, e você comportada engoliu o sofrimento pela expiação que o sofrimento traz, parecendo mais uma vez comigo. Há tempos te consomes nessa chama que não acendo, nem brinco mais. Parei e esqueci e quase acreditei que não vivo disso. Mas, enfim, é preciso acordar. Aqui estou novamente com disposição e pretensão de escritora, porque só isso me fará feliz, no momento então nada mais engolirá meus desejos mais perfeitamente, nem também mais cruelmente, que é sempre o preço a se pagar. Esse meu lirismo é imperdoável. Ah!, como meu lirismo é imperdoável!. Jamais sofri mais por outros motivos que não minhas criações. Aprendi a achá-las engraçadas para sobreviver e ainda hoje não consigo achar que de fato são elas que me matam, mas muito são. No momento agora quero só contemplar o achado do bruto dos meus desejos inflamados mais bem guardados, como te contei que encontrei, porque logo, eu sei, vai-me escapar. Nenhuma característica mais própria para ter: sabe correr.
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