28 de outubro de 2008

When Anger Shows

It creeps all over you like a dull ache. Think of all the things your hands could make. It pulls you to the ground like soaking wet gloves, the change in your face when anger shows. In that moment you realise that something you thought would always be there will die like everything else...

These thoughts I must not think of, dreams I cant make sense of; I need you to tell me it's OK.

You are a sleeping lion in your bed - I will not wake you. You're the moment, love has passed, we all must learn to hate you; You're a memory from before, please don't let me forget you; you're the wolves at my door. In that moment you realise that something you thought would always be there will die like everything else.

These thoughts I must not think of, dreams I cant make sense of; I need you to tell me it's OK.

How can you know what things are worth if your hands won't move to do a day's work? How can you know...

These thoughts I must not think of, dreams I cant make sense of; I need you to tell me it's OK.

Editors

23 de outubro de 2008

Tchau, Rosa

Rosa, quando foi que esquecemos de nos conhecer? Me lembro que dia vinte e quatro marcamos a data do casamento e eu, temeroso, sorria como se soubesse o que me viria, e o que viria a você. Não te amava naquela época, te queria. Hoje, com esses anos todos, te quero por saudade das tuas pernas de menina. Diria que não sei mais quem és, mas jamais o soube. Amei-te durante os anos da média aritmética de nosso tempo junto, no período intermediário entre conviver contigo e não te entender e entender-te e não te perdoar. Quis-te todos os dias. Mesmo de costas a lavar nossos chinelos sujos de mangue e eu a lavar pratos e um tanto do desgosto. Éramos parceiros e fomos felizes, mesmo você com outros corpos e eu também. Jamais amamos outros olhos, penso, que não nossos próprios, que por horas também odiávamos. Odeiei-te por ter-me feito odiar-me por anos, e, por mais que te tivesse perdoado - pois que a culpa não era sua, e a mim só era possível perdoar-te quando a atribuía erroneamente a si -, jamais limpei minha memória para lhe conferir o lugar doce que por muitas vezes mereceste. Fui duro, compensando a moleza de menino e a besteira de ter consentido em nos amarrar tão cedo. Eu tinha uns trocados, você tinha uns trocados, pareceu-me inteligente juntá-los, vai desculpar. Pelo menos não tivemos filhos e então pelo menos nesse ponto fomos sensatos. Jamais fomos felizes, com eles então teríamos sido miseráveis. Nenhuma desgraça compara-se à infelicidade de ter um filho. Confundir noções de posse, liberdade e amor é capaz de matar um ser humano, e por mais que você me ache pouco isso, de fato o sou. Você lhes comeria os cabelos e os olhos e os membros pensando protegê-los, e eu os cuspiria para dar a dureza que a mãe poupara. Seríamos mais fracasso que hoje, você aí sabe onde, eu aqui nesse barco.
Depois de velho dei para querer ser santo e descobri que era essa a forma mais fácil de andar sobre as águas. Comprei uma madeira velha com motor com o dinheiro que escondi de você e saí por aí, brincando de marinheiro. Quando jovem quis sê-lo e não pude por pobreza. Quis ser feliz também, e não pude quase que pela mesma razão - é mentira que o dinheiro não é nada, e o nojo por ele é um luxo.
Enfim, você ainda pobre e do mesmo jeito velha, sem amores e com aquelas amigas que, como Dom Sebastião, você ainda acha que não morreram. Vou te contar que Maria durou só uns poucos anos depois de nossa união - minha e sua, digo, Maria nunca tive depois dos vinte e dois- e as cartas que mandaste não chegaram, é lógico. Vá averiguar. Tereza também, que me amou mais do que poderia e seria sensato, foi embora antes de tua última carta, aquela que contava de nossa dureza - sim, li. Outras foram há pouco tempo, e penso que essas leram a última impressão de tua caligrafia. De meus amigos, muitos já estão no inferno, inclusive João, que matei quase sem querer ao saber de seu romance consigo. Pedro infartou, José suicidou-se por Ana, Ana por culpa e eu agora estou próximo de ir pelo cigarro. Quase virei boêmio agora nesse fim de vida, não fosse pelo fígado já um tanto falecido, o pouco dom para as artes e a feiúra da pele murcha, que me impossibilitou muitas das mulheres que quis.
Agora, só navegando, estudo como irei morrer. Não se escandalize, vá, você sabia que eu era dado a essas tristezas que pensa injustificáveis e esse niilismo de gente pobre e magra. Não tenho mais teu corpo que quis por tantos anos, teus cabelos doces, teu olhar duro, tua pele dura, tua mente mole. Não tenho mais os orgasmos de nossa juventude odiosa, a amar-nos na desgraça e no ódio para disfarçar a infelicidade do que escolhemos para nós. Não tenho mais as brigas de tua insensatez e a casa na praia quase sempre levada pelo vento. Não tenho mais nada e já não me agüento, não me suporto, não me amo. Nunca me amei, mas só agora tenho a inteligência de desistir, dantes acha-me belo demais para acabar com o ar da própria graça. Enfim, chega. Nada quero mais. Espero que essa carta lhe chegue antes da morte ou do vento vencer a resistência dessas madeiras que juntei para nós.
Boa noite, querida, vê se vive um pouco antes do nada, entende logo que amanhã não precisa ter café na mesa.

15 de outubro de 2008

Você ainda vivendo e eu escondendo que vivo disso

Roberta, como senti sua falta. Esqueci-te, sei, e fui feliz. Sobrevivi e vivi dias sem sua presença ou sua sombra, fui realizada e provocada, me tornei ousada e curiosa, eu mesmo já não sou aquela que lhe deu vida e que por momentos decretou sua fome e morte. Não sei o que farei contigo. Descobri no espaço-tempo real um pouco da personificação daquelas letras, descobri verdades póstumas, e hoje tenho quase que o corpo das minhas ousadias secretas caminhando ao meu lado por essas ruas para as quais sonhei voltar. Se pudesse te dizer que mundo é esse que me engole, acho que ririas também, somos parecidas. Nossos medos e ânisas se cruzando nos sinais vermelhos dos outros, e nossos motores roncando soltos querendo correr. Também meu desejo vai-se corroendo e não pode ter vida, e fico achando bizarro e surreal e irreal essa realidade de artista. Se não sou, como vivo como se fosse? Quando percebi que então vivia assim, como o que ainda não sou, que caminhava com quase que o corpo das minhas curiosidades ao meu lado, quando me apercebi arregalei os olhos e ainda não os consegui normalizar, ainda estou degustando com medo essa sensação, e pensando como é encarar isso. Jamais pensei ser possível, é uma ousadia tamanha, você sabe. Outro dia choquei-me que me apresentaram alguém com seu nome que me queria o corpo e o potencial, acharam qualquer coisa da minha aura, e eu pensando como seria ter minha criação quase a beijei na loucura criativa que vez e outra me toma. Mas não é ela, ou você, quem me vai matar. Você sabe quem é e, sensatamente, mantém entre nós duas. Tenho medo de encontrá-la na rua, imagine, ela sem saber que já existe para mim me olhando como se eu fosse mais um corpo na Terra, que hilário seria. Tenho medo do quão seca eu seria, essa secura que os nervosos têm pensando conquistar corações mais bravos. Nós duas, sentadas naqueles ônibus de ar condicionado, naquele país estranho, aquela gente estranha, nossa pele estranha, e os outros, mesmo os que ali viviam, pertencendo a outro mundo, e eu e você nos estranhando em nossa similaridade, eu fazendo-me passar por mais um teste de fogo, mais uma tortura cruel e doce, essas provocações envenenadas que, olhe!, acabaram me levando a algum lugar.
Estou quase como outra e, na verdade, muito escreveria hoje do que escrevi naqueles tempos em que éramos só nós duas. Deixei-te, cruel, sonhar com Larissa sem tê-la, e você comportada engoliu o sofrimento pela expiação que o sofrimento traz, parecendo mais uma vez comigo. Há tempos te consomes nessa chama que não acendo, nem brinco mais. Parei e esqueci e quase acreditei que não vivo disso. Mas, enfim, é preciso acordar. Aqui estou novamente com disposição e pretensão de escritora, porque só isso me fará feliz, no momento então nada mais engolirá meus desejos mais perfeitamente, nem também mais cruelmente, que é sempre o preço a se pagar. Esse meu lirismo é imperdoável. Ah!, como meu lirismo é imperdoável!. Jamais sofri mais por outros motivos que não minhas criações. Aprendi a achá-las engraçadas para sobreviver e ainda hoje não consigo achar que de fato são elas que me matam, mas muito são. No momento agora quero só contemplar o achado do bruto dos meus desejos inflamados mais bem guardados, como te contei que encontrei, porque logo, eu sei, vai-me escapar. Nenhuma característica mais própria para ter: sabe correr.

13 de outubro de 2008

De vinte e quatro de julho de dois mil e oito, às duas horas, três minutos e nove segundos da manhã, guardado como de "De mim",de cujo nome não gostei

Entro e apago a luz de um só gesto como se me dissesse que, no escuro, posso ser sincera. Há somente sombras, sobras e penumbra. Um colchão, um copo de água vazio, livros e o violão. Parece subsistência. É lindo. Apago a luz como se ligasse o escuro de mim, meus esconderijos baratos semi-rijos. A luz que cruza a janela nua é laranja, de poste, a lua mora do outro lado e por hora desce o céu, e virará minguante em pouco tempo. Por curto tempo posso fazer jorrar minhas verdades e por um momento, breve que seja, posso saborear o gosto incrível de já não me esconder. Escureço. Olho essas minhas olheiras de gente nova com negritude na alma, de gente corruptível e de gente pouco corruptível, de gente de muita moral, da mais comum. Encaro-me quase curiosa, e por pouco não acho bonito esse sofrimento pelo qual me faço passar. A roupa do armário é quase uma pessoa, os vestidos quase me tem e os sapatos na prateleira mais baixa, que é o chão, terminam o que quase forma um corpo inteiro: sou eu. Há também sutiãs e parte da bolsa da outra aparecendo pela porta mal fechada do armário embutido. E há eu, sentada só, buscando a mim mesma com pretensões de nobreza, mas sem buscar-me por ela. De repente, porque é nisso a que tenho-me reduzido nestes últimos dias de submissão e calor, subo por suas pernas lisas e afago seu cabelo negro, e cresço em seu pescoço e ela em meu corpo, descubro seus cheiros e gosto, seu gosto, e seguro-lhe a nuca violenta e, como hoje fantasiei, digo que ainda não a amo antes de a beijar. Também arranho outras costas, mais largas e de outra fruta que não pêssego e puxo cabelos menores e que me amam mais que os dela. Levanto, acendo um cigarro, paro e penso em mim. Pouco verdade, penso em nada. Sou. Sem hobbs de seda, pensando estar num filme, expondo meus seios para a rua, para os vizinhos que nunca viram filmes franceses, nem ainda entenderiam meu viver. Viro-me. Não sei o que quero ver. Seu corpo ainda jaz largado sobre a cama e os lençóis, e seu sorriso atravessado não é tesão, é amor. Isso me mata. Como tudo de errado muito certo que tem me matado. Essas coisas certas e certeiras têm me matado. Em outro prisma, ela se encosta na parede de entrada do corredor e me vê jogar fumaças com o hobb mal amarrado. Sorri entre dentes pelas minhas costas. Não me ama. Sente começar a me amar e quase desespera. Não o faz pela sensualidade do momento. Tenho que parar de pensar. Quero viver. Preciso. Seguro sua mandíbula com força, quase como se a fosse lançar ao chão num só gesto de desgosto, mas noutro de perdição lanço-me, beijo-lhe os lábios sem amor, sem amor, sinto suas mãos procurarem-me, seguro-as, aperto-a contra a parede, não respeito suas vontades, não as quero, quero só a si, nesse momento, agora, ou ela ou a morte, os dois misturam-se, os dois são um o outro, e por fim morro. Deitada na cama abro os olhos para o teto, pensando encontrar a beleza em ser deixada. Sorrio, a luz ainda é laranja, ainda é de poste, e a lua sobe do outro lado nova. Rio só, sola, solamente una vez y nada más. Arranho-me o rosto, é quase um prazer, a dor se pinta de prazer, depois sangra. Agarro-me aos lençóis e há sexo mesmo assim, mesmo só, sem nada, nem mim, já não há nada. O violão, as roupas, o copo, os livros, tudo continua; eu também. O quarto é o mesmo, mesmo as malas ainda estão deitadas ao meu lado. Mas só elas. Não virão me buscar. Não ouvirei ruídos de sapato, nem sequer tive tempo para me acostumar a eles. A parte da bolsa que mantinha-se fora do armário e viu nossa guerra me olha, sente dó, quase chora por mim, e volta a dormir, é só o que pode fazer. Os sacos plásticos parados no canto do quarto nem sequer ventaram, nem fingiram voar, nada. Ainda se abraçam, um dentro do outro, e eu vazia. Não me dizem que me avisaram, mas nem isso parece bom. O estômago ronca, fome. A capa do violão encosta-se na parede torta, tem o mesmo problema de coluna que eu. Os carros passam, fora, longe, ainda não tenho carteira e o mundo não é meu. Nem ele. Nem ela. Nem ela. E me ligará depois, terça de tarde, para favores sexuais. Mais fácil que páginas amarelas.

12 de outubro de 2008

sangue pelo chão

Não sei ser pessoal e sutil como Manuel. Não tenho as mãos doces de Vinícius também, e então não ficam nem eu fico apaixonada. Sou mais como as tentativas sem fim e final de Drummond, eu que não gosto de Drummond sou mais como seu fogo solitário. Cansei de solidão e do que não está mais no uso corrente. Das coisas pelo meio e do meio das coisas e do meio das coisas de não acabarem. É mais simples, não é tanto só um prazer de arrastar-me pelos cabelos pela tortura e pelo prazer visual de quebrar meu prazer corporal, é um não querer que o prazer venha de mim, eu acabo sempre pensando, é o não querer que o prazer venha de mim que me mata. Mas afinal não é uma incapacidade, mas talvez seja. Uma vontade que inunda e afoga de provar a capacidade e eficiência, e de que o outro não queira fim ou o queira por cansaço. Situações incômodas, vergonha do esforço, auto-ridicularização da tentativa, impossível tentar ser isso, vergonha, reafirmo, da ridicularização, meu medo mais medo, amarras, sem serem sensuais.
chega de coisas pela metade.

2 de outubro de 2008

Morte a nós na praia! - que é a pior e a menos casta

João gosta de Tereza, que gosta de Antônio, que gosta de Carlos, que gosta de Larissa, que gosta de Pedro, que gosta de Joana, que gosta de Marina, que gosta de Fernanda, que gosta de Marina e nada mais é errado. Alguém tem de ser feliz na história.
ou
João gosta de Tereza, que gosta de Antônio, que gosta de Carlos, que namora Larissa, que quer Pedro, que gosta de Joana, que quer sem querer Marina, que gosta de Fernanda e é amada de volta.
ou
João gosta de Tereza que por ter sofrido ao gostar de Joana abandonou o gosto por mulheres, e Joana, que finge querer Marina por uma necessidade pessoal de querer alguém, já pensou em ter Pedro, deseja o corpo de Tereza, parece compatível com Fernanda, que tendo conhecido Marina através de Carlos o largou, e Carlos, que não compreende ter sido trocado por outra mulher agora cogita querer João, antiga paixão de Antônio e que nunca foi homossexual nem sente inclinação. Larissa, no entanto, é só.
ou
O amor é uma luta, um capricho, um câncer, uma razão, uma vazão, uma loucura, uma tranqüilidade, uma violência, um ladrão, uma quadrilha.
ou
O desejo é não esquecer.