Por vezes sinto muito pelos meus leitores que não me conhecem o fato de que alguns outros o fazem. Isso porque limito o que vou dizer pelo fato de me conhecerem e me verem dia seguinte e me quererem bem ou não, e saberem ou não o que anda dentro de mim. Isso me incomoda às vezes, hoje. Hoje não queria que meus conhecidos me lessem. Que me descobrissem, me sondassem, me revelassem. Hoje não. Hoje queria cantar para meus anônimos as tormentas insignificantes pelas quais passo, tão ridículas e medíocres, tão fazedoras do meu mundo. Quereria contar do mundo ao redor do meu umbigo sem pudores e amarras, sem amarras, sem laços e duplos sentidos. Queria usar nomes e dizer as impressões todas, sem dualidades e fingimentos. Não queria, no entanto, contar toda a história de tudo o que tenho a dizer. Gostaria de contar só o interessante e interessado, para fazer virar os ouvintes todos a meu favor. Não quero agora nada que não seja a meu favor. Não quero olhos que vejam o outro lado da história, ouvidos que ouçam o que não dei atenção, línguas que me revelem novas perspectivas, mãos que se deitem sobre as minhas pedindo que me acalme. Não quero. Hoje quero que me ouçam e me aplaudam e me digam que é mesmo melhor que eu mergulhe em mim e nas minhas vontades, que seja louca e inconsequente, e respeite o que quero por querer simplesmente porque nunca dou atenção suficiente ao que quero com os olhos vendados. Hoje quero que me aninhem os cabelos sem intenção sexual e que de repente me tomem pelo pescoço e me beijem por beijar, por ser eu ali, por beijarem a mim. Que me beijem sem amor, sem amor, nada de amor. Corpo. Que as coisas sejam preto no branco, preto no branco, e ninguém se sinta usado, ninguém deveria se sentir usado se no fim o tesão é mútuo. O amor tem um jeito todo seu de estragar o desejo até quando o aumenta. Queria sentar em mesa redonda, quase como uma escritora sendo entrevistada, uma pessoa bem vivida contando as sutilezas de suas pisadas, pessoalidades, mentiras, verdades, tanto faz, contar algo, ser perguntada, ter o que dizer mesmo que não se tenha ido a lugar nenhum além do espaço que de tão imenso chega a ser ridículo entre uma ponta e outra do cérebro. Queria morrer. Nos braços de um desesperado e terminar com um sorriso, a nota final egoísta de quem soube viver sozinho e arrastar atrás de si rostos que se acham belos e que perpetuarão sua (falsa) beleza. A propaganda boca-a-boca é uma desgraça, é uma praga. Queria não esconder o rosto por conta das pessoas que me querem melhor que as outras que não me conhecem e só me parasitam, coisa linda as pessoas que me parasitam, egoismo lindo de observar de longe confusões alheias e achá-las belas, ou não, mas achá-las, procurá-las. Queria contar com detalhes minhas podridões de alma, meus mais feios e corruptos sentimentos, minha mais sincera vontade de perpetuação de condições vis, meu chicote que me maltrata e que, no entanto, não jogo fora. Meu desejo, meu tão inflamado desejo pelo que não me quer, nem me conhece, pelo que não conheço e talvez também por isso queira. Meu desejo que me arrasta tanto pelos cabelos, e minha felicidade escrava de eles não desgrudarem da cabeça com tanta facilidade. Minha tortura medieval, consciente e dilaceradora, meus dias secos, cascas de árvore de cerrado, onde moro, esses troncos retorcidos, meu tronco retorcido, minha visão retorcida, meu desejo retorcido. Meu extremismo tão extremado, a beleza e a feiúra dele, meu amor errado, pelo que me ama em medida diferente, em auto-estradas diferentes. Minha não possibilidade de cumprimento de expectativas, essas expectativas cruéis e desalmadas. O amor cruel e desalmado. Meu amor; meu amor rouco, sincero e louco, que pede tempo por precisar, e dá desculpas comuns que ainda se fossem desculpas seria melhor, mas são verdades. Verdades comuns. Verdades comuns. Cara de desculpa e coração vil. Coração duas caras. Duas caras e a necessidade da escolha de uma. A demora da escolha de uma. A loucura que só a demora causa. A tranquilidade que só o desespero traz. A reviravolta imprevisível que só o desespero traz. O desespero traz e é trazido. Minhas unhas sem esmalte, minhas unhas nas cordas, minhas unhas nas coxas, minhas unhas nas costas. Pele e curvas. Olhos fechados fingidos e abertos em êxtase. Saber ser vista vendo o outro. Querer ser vista vendo o outro e o prazer de fechar os olhos e poder morder. Poder morder. Ter o ombro mordido, tão lindamente mordido, achar linda a dor, linda a dor, linda, linda, pernas fantásticas e bunda desejável e desejada, muito desejada, abraço dentro do casaco, blusa social larga, cabeça perfeitamente encaixada na curva do pescoço, mão estirada grudada na perna, louca, e o pescoço que morre na perfeição do encaixe, abraços por trás, 'dou dois', refreio do desejo, ligeiramente mais baixa, incertezas, golpes no escuro, beleza do escuro, procura de oportunidade, breves certezas de que da outra via também vem carro, da outra via vem carro, 'há pessoas pelas quais me sinto muito atraída', dizer isso duas vezes, olhar no olho, fica a dica, 'stay de dick', mainly stay the small dick no momento, muito stay the small dick no momento, ligar-se na tomada com uma facilidade incrível, linda e incrível e de fato muito veloz, sensualidade, estilos de roupa, ser algo, mostrar-se, viver, querer, querer dois, esperar, poder esperar, amar, amar erroneamente a pessoa certa, amar erroneamente a pessoa errada, amar certo a pessoa errada, querer muito e desmedidamente, romantismo com quem não devia, atenção ao sexual, muita atenção ao sexual, sexo, sexo, sexo, sentir-se fora de lugar, sem jeito, sem querer estar ali, não querer estar ali, querer estar ali, querer que estejam ali, querer, querer, entrar no banheiro, querer, conhecer, gostar, sentir, sorrir, abrir olhos, sair, estratégias temporais, sorrisos abertos, abrir portas, não fechá-las, explorá-las, explorar-se, não encontrar-se, encontrar-se, assustar-se, legitimar-se, amar-se, amar-se no ódio, na saúde e na doença, refutar religiões, sentir-se oprimida, padres e pastores de mãos dadas louvando com o povo, sentir-se oprimida, sentir-se muito oprimida, precisar de comprimidos, comprimidos em formato de corpo e com nome de gente, sentir falta, sentir muita falta, confundir mentes simples com expressões de posição e sentimento, como há mentes simples, seu mundo não é o mundo, amar muito, querer muito, querer um só quando o artigo é masculino, só poder ser um se o artigo for masculino, ligar, mandar mensagem, sentir falta, gostar muito, gostar horrores, amar, querer perto, querer muito perto, também dentro, já estar dentro, querer dentro, sentir sua pele, ver o sorriso depois de algo, lembrar da respiração enlouquecida e da nítida necessidade de refreamento quando da descoberta de covinhas de costas, um pouco de medo, precisar ir ao médico, minhas pessoalidades, necessidade de respeito, necessidade de espaço, necessidade de começo de semestre, necessidade de presenças e desenvolvimento de relações interpessoais várias,,,. Todas essas coisas que tento mostrar, só que sem máscara.
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