Jaqueline deixou-me esse fim de tarde. Arrumou as malas com suas calcinhas e roupas e sapatos e cosméticos e trancou a porta na saída. Deixou os cds que não eram seus favoritos e alguns rascunhos de coisas que ficaram por fazer. Borrifou meu travesseiro com seu perfume exageradamente doce e colocou pasta na minha escova de dente pela última vez. Levou consigo alguns quadros, raras fotos, alguma memória involuntária, mapas do meu corpo, cigarros do meu maço para ter com quem conversar e até mesmo a abotuadura vinho da qual particularmente gostava. Ligou para mim às 18h27 e desligou logo em seguida, acordando para o automatismo com ligeira relutância. Chorou na porta do banheiro para não dizer que despedidas são naturais e conseguiu convencer-se. Caminhou aqui e lá fingindo não saber o que fazer, parecia uma barata tonta, encenava uma barata tonta. Quis crer não viver sem mim e pela beleza da cena fingiu querer e resistir a jogar-se da janela. Depois voltou ao banheiro para refazer o contorno a lápis dos olhos. Retornou à sala, sentou-se no sofá como Senhorita Rosa e fumou um cigarro com as pernas cruzadas. Lembrou que me chamava de 'grande amor' e riu pelo nariz, soprando fumaça. Passeou de braços cruzados, olhando as fotos na parede e debochando de nossos rostos em algumas. Tornou-se, apagou o cigarro no cinzeiro com o mindinho erguido, colocou alguns livros sob o braço e deixou-me um adeus no computador, sem beijo na tela.
confesso que adoraria ver essa cena num filme
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