Um pouco desbotado de esfregar, é como o deixei. Vermelha de vergonha e dor, negra de hematomas e necroses, amarela de tempo e nervosismo e medo, laranja de medo e vinho de preocupação. Rosa na linha das cicatrizes, em especial essa no dedão, que cortei tentando limpar a tesoura. Pouco sutil, muito pouco, nunca o sei ser, sou falha, tão falha, pesada e desarrumada, sem compostura, pudor ou piedade, sem piedade, eu vivo sem piedade. Ríspida comigo e com meus olhos e palavras e mãos, sou cortante, afiada, preocupada e preocupada com o excesso de preocupação. Mas nada leve. Nada de brisa de fim de tarde ou de água no pescoço. Algo mais como um filme pesado de drogas, essas minhas drogas venenosas misturadas no meu veneno infantil, medroso, limpo e moral de não me drogar. E a frustração que faço os outros sentirem por ser racional e razoável e dar poucas brechas a ódios. Minha injustiça de ser cautelosa e zelosa, e ter medo da dor dos outros. E a dor vem. E a legitimidade do ódio ao agressor poucas vezes existe, muito poucas, nem eu me odeio, mais me amo. Também o que mais amo além de mim? Algumas outras pessoas e cores, sabores e licores, licores sim, que "santa Europa" é novo lema. Santa Europa é engraçado de se dizer, mas é até compreensivo. Que meu nome poderia ser outro e minhas linhas também, na realidade minhas linhas são, inclusive as do rosto. A foto da identidade não sou eu, como elas disseram, e eu não sou meu esboço antigo, ô esboço precipitado e deformado. Que eu hoje sou o resultado da minha convivência com o espelho, tirando a venda. Ainda estou à venda, ainda sim, estamos todos, inclusive os outros de telencéfalo desenvolvido e polegar opositor que se acham lindos e divinos filhos de Zeus. Estou à venda e estou aberta, brincando inconsequente e dando créditos errados, inclusive sentimentais, sexuais e psicológicos, por onda de não pensar com a cabeça. Juro que me quereriam em algumas situações diferentes dessa de agora, em momentos de vida diferentes, por sinal essa de momentos de vida diferentes tem sido uma lei onipotente e presente nos meus anéis - sendo eu, aqui, considerada Saturno. Eu agora, meio querendo ser vinho tinto de encontro amoroso e cerveja de ressaca, penso se para o encontro amoroso seria tudo bem se eu acendesse um cigarro depois do sexo, e se para a ressaca seria tudo bem se eu quisesse ficar mais. Se para o encontro amoroso seria bom que eu chamasse mais um, se para a ressaca se eu quisesse ficar a dois. Estou com valores invertidos, muito invertidos, de tal forma que minha fileira de dominós deixará em pé exatamente quem não se importa tanto se a fila cair. Quem não sabe que há fileira. E eu que, menina de cinco anos, faço isso em busca do que há de mais eu e de mais feliz em mim, tenho medo, bastante, de não achar nada e perder o que já tenho. É lógico que tenho esse medo, quem não tem, quem não tem? Não dou valor quando perco, odeio esse ditado que cola nas pessoas, essa tara pela consciência tardia e comum de quem quer o que não soube ter. Não soube ter porque no momento não sabia ter, não soube ter porque no momento não me era o que eu via, o que precisava, o que amava, o que apaixonava. E posso me apaixonar. De certo que posso. Muito que posso. Talvez já esteja começando. Só é necessário escolher. Para as duas escolhas, diria um pouco "maldita hora". Para as duas, sim, para as duas. Odeio mais que tudo tudo o que crio partindo da minha boa e velha imaginação e das minhas canetas, tão tentadas a fazer minha vida dinâmica para honrar meu papel. Por que é que me amam, por que é? Sou tão inexperiente. Mas também "não tem mistério não, é só teu(meu) coração que não te(me) deixa amar". E esse limbo que agora me ama, esse limbo que agora me agarra e não me deixa sair, esse não estar nem lá nem cá que insiste em me ter me arrasta pelos cabelos, nada sensualmente, e me deixa sentada na cadeira, terça à noite, falando do que não é, nem será.
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