6 de dezembro de 2007

Sobre esperas

Quando você some por muito tempo, sem dizer para onde e sem dar sinal de vida por o que parece uma eternidade, relegando-me a viver na certeza intangível(tão tangível quando você está presente) da nossa afeição e na ausência da concretude da sua voz, da sua presença, do nosso esforço, da nossa carência, da nossa insistência através desse tempo e desse espaço por vezes tão incrivelmente inimagináveis, e vem depois falar-me naturalmente, como se houvéssemos conversado ontem mesmo sobre como andava a semana e a rotina, por vezes sinto que posso sacrificar minha felicidade e minha vontade de falar consigo para sacrificar também a sua, para frustrar seu desejo de ouvir de mim alguma coisa, de sentir minha presença e reabrandar a saudade.
Mas calma, algumas coisas ficaram mal explicadas. Não quero que você saia com a crença de que quero controlar suas idas e vindas, que quero sempre manter rastro de onde você vai e quanto tempo vai demorar, que estou atrás de saber sempre seu paradeiro e de manter-lhe sob minhas vistas. Não é isso. Mas entenda a tenuidade de tudo pra mim. Também não é que duvide das certezas que criamos, não, não é isso. Não acho que uma ou duas semanas vão fazer esquecer as roupas que rasgamos para chegar a esse estado tão(na medida do possível) seguro de sentimento. Mas entenda, por favor, ou ao menos tente, que não tenho nada nas mãos, nem tenho meios de me assegurar para si, de assegurar minha companhia, de fazer sua rotina ter a minha presença mesmo que eu esteja ausente. Tento tanto, porque me é tão essencial, conquistar-lhe a cada dia, em cada conversa, cada olhar, cada confissão, porque pra mim é tão isso que mantém tudo real e importante e duradouro e seguro todos os dias.
E estou mesmo ausente. E os custos são tantos, você sabe. E não tenho como mudar isso. Essa condição será essa condição até a volta, e a volta está mais próxima a cada dia que passa, e gosto disso, e você gosta disso, e esperamos e torcemos, mas a minha insegurança é quase tão irremediável. Não gosto de ter segurança quanto ao sentimento dos outros, mas isso num sentido de que não gosto de ter a crença de que são imutáveis, de que são já tão enraizados que resistirão ao intemperismo de tudo, e os intemperismos são tantos. E quero brigas também. Discussões e revoltas e testas franzidas e tentativas de fazer-se entender e depois paz. Quero aquele cotidiano que vivemos e o que não chegamos a viver. Mas posso esperar. Porque isso é tão maior.
E posso esperar que você faça o que tem que fazer, pelo tempo que precisar, e posso esperar sua ausência quase completa voltar a ser presença parcial. Posso e vou esperar, mas não é simples, nem é fácil, nem é prazeroso, nem é tão tranqüilo como seria bom que fosse ou como faço parecer.

Um comentário:

  1. o tempo não tem formato... a consistência é gelatinosa... pelo menos, segundo Dalí.

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