12 de dezembro de 2007

Cativa

Vou ficar aqui calada, enquanto remoendo o mal que te fiz. Vou ficar aqui só, mais o travesseiro e as horas, que com a cabeça cheia que estou, meu pescoço há-de ser insuficiente. Vou choramingar baixo, que é pra ninguém vir me salvar e é pra ninguém se apiedar, que não mereço dó nem compaixão. Vou aqui remoer o mal que te fiz. Remoer minhas palavras vis e meus olhares cortantes, e vou apiedar-me da sua fraqueza pela primeira vez. Vou fechar as mãos no colo e lembrar que lhe torci o pescoço tantas vezes, e você esteve passivo esperando que eu o soltasse. Vou fingir pela primeira vez que sua fraqueza é positiva, e que você é indefeso como o cachorro que tive e que morreu cedo, depois de uma infecção que talvez tenha pegado de mim. Como você. Mas você não morre, você não morre, e eu não sei porquê. Não sou boa com armas que não se encontram no meu corpo, essas de ferro, aço, cobre, bronze, não sei. Sou só boa com minha ferocidade inerente, e com os rasgos que sei causar com o rasgo da boca e a agilidade do golpe das mãos. Mas você não morre, você não morre. Deveria se chamar Aquiles, mas Aquiles era forte, você não é. Por que você não morre? Vou deixar água parada no do seu quintal, vou afiar os espinhos da sua roseira, vou envenenar sua horta, vou deixar estilhaços de vidro pela casa, estiletes abertos embaixo do sofá, giletes cegas no banheiro. Ou vou voltar pra você. Talvez isso seja mais efetivo.

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