Interessante, no mínimo. "Excitante" também se poderia usar, mas não é essa tecla que eu quero apertar, apesar (e talvez principalmente) do fato dela ser facilmente apertada, consciente ou inconscientemente. Mas, enfim, é absolutamente interessante, a reciprocidade.
Quando os pensamentos são seus e estão enclausurados em sua própria cabeça, sua própria cela, na própria gaveta que a tipicidade do dia-a-dia, reguladora simples, fácil, prática e necessária do cotidiano, te coloca com ou sem o seu consentimento, com ou sem sua consciência, ou é mais fácil lidar com eles por ser opção sua abafá-los e trazê-los à tona quando lhe convém, ou é absolutamente mais difícil, porque no controle do seu abafamento e do seu afloramento você se perde nas suas próprias vontades de descobrir a verdade sobre eles. De uma forma ou de outra, a cabeça voa nas considerações positivas e negativas, deleita-se com as possibilidades, sofre com as possíveis castrações e deixa-se levar pela tendência característica de cada pessoa: se você é confiante, seus pensamentos em geral tendem a levá-lo à conclusão de que tudo dará certo; se for inseguro (há quem diga "realista"), viverá sob a pressão da possibilidade da não concretização dos desejos e das ambições; se, pior que isso, for uma pessoa negativa, terá a certeza de que tudo correrá mal. Mas os pensamentos e sensações são seus, alienáveis somente pelo isolamento a qualquer opinião externa, são loucos, vibrantes, coloridos, difusos, vigorosos, fortes e disformes. São confusão amorfa, ainda que você veja os contornos nítidos do próprio questionamento.
Agora, experimente reciprocidade.
Experimente saber que o que lhe ocorre ocorre também à pessoa sobre quem seu pensamento gira em torno. Não digo restritamente em relação a atrações, amores, paixões e afins. Esses são os sentimentos mais óbvios quando se fala de reciprocidade, mas pense amplo. Você vê o menino sozinho lendo um livro e tem vontade de conversar com ele, de socializá-lo, de conhecê-lo. Mas ele parece realmente compenetrado, realmente interessado no que lê. O que você faz? (como fas???) Ele, por outro lado, pensa que tem de recorrer à companhia do livro por não ter com quem conversar, por sentir-se isolado. Mas também não conhece ninguém e ninguém parece interessado em falar consigo. E então, de repente, você resolve falar com ele, perguntar-lhe o nome, descobrir quem é, ver se vale uma conversa. E vale. Excelente. Conhecer alguém novo, excelente. Vira curiosidade, coleguismo, amizade, parceiria.
Pense no amigo que você brigou e com quem parou de falar. A briga é já besteira, virou passado, detalhe perdido na imensidão que vocês criaram. Você não fala mais com ele, mas quer, ele não fala mais consigo, mas quer. E o momento em que um de vocês resolve prolongar um pouco mais o olhar, rir da piada que o outro contou a um terceiro ou simplesmente furar a barreira invisível do orgulho de cada um é quase como a primeira palavra do início da amizade, a primeira risada conjunta, o primeiro prazer partilhado e a primeira descoberta sobre o outro.
Mas não, não adianta. Nada disso parece mais forte que a atração, os amores, as paixões e afins. Pressionei a tecla "excitante", e, eu juro, isso foi uma precipitação do texto. Eu não iria necessariamente referir-me a ela. Não há jeito. Não há coisa mais latente que o desejo e a queimação que ele provoca, a intensidade explosiva de guardá-lo para si. Nenhum outro além do fantástico Oscar Wilde para dizer "The only way to get rid of a temptation is to yield to it. Resist it, and your soul grows sick with longing for the things it has forbidden to itself". E quando é recíproco, quando se descobre que é também fogueira para o outro, meu Deus. Não há maior completude.
O desejo do outro entra rasgante, vibrante, louco. Confunde-se com o seu e eleva o grau de sua própria perdição e é, soon enough, tudo que se consegue pensar.
Não é um texto bom. Eu não o achei. Mas precisava dizer. Or else my soul would grow sick with it, as it's growing now, as I knew it would and as it will stop.
[Imagem: PostSecret.com]
Sabe por que acho tão difícil comentar aqui?
ResponderExcluirPerco o fôlego. Fácil, muito fácil.
eu concordo, não achei. mas gostei de ler. aliás, gostei muito. aliás, como sempre foi até hoje. aliás, que se mantenha.
ResponderExcluirMe tirou o fôlego, seu comentário.
ResponderExcluir(mesmo)
betinho, eu tenho uma tara pelos seus criticismos. já disse?
ResponderExcluirexcelente.