6 de outubro de 2007

Ode (disfarçada) aos Robertos

Isso aqui é uma falsidade. "Ode aos Robertos" é quase uma "Ode a Roberto Reis", mas vamos lá.
O primeiro Roberto que eu conheci na vida é meu primo e nasceu no período de tempo entre o nascimento da minha irmã e o meu. Minha mãe é sua madrinha e sua mãe é a minha, e que excelente tia, madrinha e pessoa que é. Pense numa pessoa de bom coração (Clau). Enfim, o Beto teve pânico de água na cabeça (isso, ele só tinha pânico quando era água na cabeça, no resto do corpo, não) quando pequeno e, por ser um tanto histérico e grudado na mãe, era completamente perturbado pelo irmão mais velho, que é uma figura. Depois de uns anos e uns banhos, perdeu o pânico de água e um pouco do grude na mãe. Faz já três ou quatro anos que não o vejo, mas sei, através desses canais familiares, que tem estudado numa escola agrícola (acho que é agrícola. Falta precisão nisso.) e nutre uma grande paixão por cavalos, e em algum ponto da vida, acho que dois anos atrás, ganhou uma égua pela qual também é apaixonado (e a família às vezes brinca maldosamente com esse fato). Era uma gracinha de bebê e eu adoro a fita em que perguntam pra ele de quem ele é filho e ele faz uma cara de perdido e diz "Eu... sou filho... da mãe".
O segundo Roberto que eu conheci na vida foi esse cujo último sobrenome é Reis, e peço perdão a possíveis Robertos que existiram na minha história entre meu primo e esse porque, se houve, foram esquecidos. Enfim, não sei se a primeira vez que o vi eu sorri, tampouco me lembro se saberia que sorriria em todas as outras, se não por fora, com certeza por dentro. Ele não é alto, não é baixo, mas tem a altura boa praa se manter uma conversa sem precisar esforçar o pescoço e, acredite, isso é excelente, porque as conversas com ele tendem a ser longas e produtivas e gostosas, e uma dor de pescoço anestesiaria um pouco esse prazer.
Em algum ponto da nossa amizade, a palavra "Betinho" atingia minha língua toda vez que queria chamá-lo, e então nunca mais saiu outro vocativo pra ele. Betinho tem um ar intelectual curioso, e uma falta de vergonha para verbalizar os pensamentos em sala de aula que eu gostaria de ter. Gosta de usar "Porque na minha cabeça, eu não consigo entender...", "porque na minha cabeça, eu vejo que...". Acha que há algo de irônico na forma como as coisas se desenvolvem, e como as coisas são e seus porquês e tem uma risada para quando vê nitidamente um exemplo dessa ironia da vida que é fantástica. De fato, sua risada é ótima; tem um quê de leveza e um quê de verdade e um quê de satisfação que me fazem sorrir à lembrança. Betinho me dá, instantâneamente, uma certa leveza de coração, uma expectativa inevitável de uma boa tarde consigo, de uma boa conversa, mesmo que seja uma conversa sobre as cores das mesas do pds (que é um bar). Betinho me escancarou algumas portas e outras só deixou entreabertas, e comecei a descobrir a beleza dos labirintos, das coisas turvas e daquelas limpidas. Betinho faz uma falta grande, uma sensação de que longe de si é complicado sentir-se completamente à vontade com descobertas grandes e realmente inusitadas, e sinto uma falta imensa do seu apoio diário para desbravá-las.
E uma coisa que vale a pena ressaltar, principalmente para meu próprio deleite, é que se tem algo que fiz certo em quatro meses de convivência com ele foi no último dia que o vi ter aberto uma porta nova de mim e contado-lhe algo de peso meu, e esse foi, pra mim, o ponto em que construímos uma ponte capaz de atravessar um oceano e uma confiança e carinho capazes de tornar efetiva e real nossa prática e credibilidade na relatividade temporal e espacial que vivemos e que ele, numa das melhores coisas que já me escreveram, disse que nos esforçaríamos para praticar.
Por você, Betinho, a intensidade abstrata desse amor, desse carinho e desse fascínio gravada nas mudanças, no tempo e no espaço.

3 comentários:

  1. que coisa maaais linda!!!

    cadê o beto pra ler isso?

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  2. lu, olha o que eu comentei no post "Sobre saudades", de Terça-feira, 21 de Agosto de 2007.

    beijo do Raul.

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  3. fico tão sem palavras. putz. é muito estranho e tal e estranho e tal e estranho e tal as sensações que essas coisas me causam.
    ódio de ter lido isso só hoje é uma delas. porra. estar distante da internet, falar menos com vc. porra. parece que cada uma das coisas que faço sempre tem o lado do que eu não quero nelas. porra. porra.
    pra variar, eu vou ficar falando um monte de merda sobre mim. como, por exemplo, tenho evitado pensar em coisas e não tenho conseguido escrever. como eu queria conseguir escrever algo como oq vc escreveu pra mim, proporcionar um mínimo do que eu senti já estaria valendo para mim. porque, putz, senti demais.
    nem tanto um monte de merda. rsrs. só um pouco de merda. inveja também da sua linda capacidade de recortar momentos e reparar em coisas que nem eu mesmo reparo bem como vc reparou em mim. isso me agonia, parece que a vida tá escapando pelos meus dedos.
    aliás, isso que tou escrevendo tá altamente influenciado pelo estágio presente, sentado na cadeira de casa, maria paula do lado na cadeira, mari duarte no sofá atrás de mim, na kit nova que espero que vc vá conhecer e que é tão ótima, e como eu adoraria que vc estivesse aqui.
    aliás, te amo e pronto. obrigado demais por isso e por muito mais.

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