5 de outubro de 2007

Mais um colete

É um jeito completamente isoladamente novo, esse que estou me sentindo. Há um vazio maior que mesas de bar amarelas, gramados mal tratados, regadores às 3h da tarde, posteres e desenhos nas paredes, explanações, xerox por todo canto, bancos azuis, bancos cinzas, cadeiras azuis, cadeiras beges, cabelos, toques, vozes e ouvidos. Há um vazio tão grande e um desespero bruto que bate de repente, quando já se está estável e se está bem. Essa pontada na parte mais interna de si, quando o coração parece estar no estômago, e os olhos dentro de si. Essa coisa, essa dependência, essa solidão regada da experiência que eu tenho de agradecer, essa dor que arde os olhos, essa dor que eu tenho que agradecer.
E me dói tanto. É mais um daqueles vai e volta, e agora volta como se fosse ficar. Não vai, nada na minha vida ficou, e não vou dizer que é bom, tampouco que é ruim. Mas agora, agora parece que estão tirando meu crescimento, da mesma forma como me tiraram a descoberta da feminilidade aos treze anos (ou permitiram essa descoberta da forma mais impactante) quando me colocaram na fôrma de um colete de ferro e plático duro que me iria contribuir para o controle do problema de coluna e me relegaram a camisetas grandes e calças largas, quando aos treze anos me vi tentando compreender, sozinha, por que era que me olhavam tanto na rua, como se o animal excepcionalmente diferente tivesse sido tirado do zoológico e levado a passeio. E lembro quando o médico falou que nunca tinha visto um colete daqueles atrapalhar as pessoas em termos de relacionamento, de arranjar um "namoradinho" e que eu não deveria me preocupar com isso. Ele só não pensou pelo mesmo lado que eu: eu achava isso muito mais ruim que bom, que se eu não arrumasse um namoradinho, então o problema estava efetivamente comigo.
E no início da adolescência e dessas descobertas de mim, havia um buraco de companhias que eu não tenho certeza de que consegui preencher. Os grandes amigos daquele tempo ainda são amigos hoje, um deles em especial, e o outro especial está noutro lugar, ou em lugar nenhum. E agora, 18 anos e as descobertas que eu começava a fazer, a descoberta de uma nova normalidade e a descoberta de uma nova realidade, estelarmente maiores e mais interessantes que as que eu vivia antes, são frisadas com essa mania que a vida dos meus pais tem de clicar o pause nos meus melhores momentos. Pois, agora acredito que está na hora de me entregarem o controle. E os choques, os choques virão porque vêm e vieram sempre, e com eles vem também crescimento. E estou sofrendo aqui, me submetendo a uma vida que me regou de oportunidades, mas que eu não escolhi, que eu não escolheria, que foi me fracionando em vários cantos e me fazendo preenchê-los mais tarde, fazendo-me aprender a preenchê-los e me estapiando caso não conseguisse.
Está difícil aqui nesse estanque de crescimento. Está absurdamente difícil. Quero falar ao Luan que quero ouvir o que ele tem pra me falar sobre Jesus e dizer que a menina que antes disse a ele que não gostava de ouvir coisas como "Jesus é um salafrário" (ainda que falado assim seja um pouco brutal) desistiu de lutar com essa de agora. Quero ir a bares e falar de coisas maiores que a morte da novela das oito e falar dela também, porque ninguém é de ferro, e é mais interessante que não sejam mesmo. Quero pôr cartas na mesa e fazer os sinais costumeiros, quero provar os cigarros, as bebidas, os lugares, as companhias, as novidades e colocar um pé depois do outro, como eles me disseram que esperariam pacientemente que eu fizesse.
E não me esforço mais para fazer parar essa sensação de estar vazia por dentro e de estarem arranhando com força minhas paredes.
E não quero ouvir um pêsame, um comentário de "sinto muito" ou outro de "estamos aqui". Não quero ouvir nada disso. Não quero ouvir nada. Se vocês não falam nos outros posts, não vejo porquê falar coisa alguma nesse.

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