1 de outubro de 2007

Ela me atrai

Ela me atrai. É noite, luz neon, música alta, gelo seco, suor, vozes, sorrisos, cabelos, braços, pernas, vários corpos, vários copos, nenhum copo, ela me atrai. É noite, luzes fracas, zumbido, murmúrios, frio, lentidão, cansaço, ela me atrai. Vai dormir, amanhã é outro dia, amanhã é rotina e ela não mais me atrai.
A novidade vem embrulhada em papel transparente e opaco, e eu não sei se abro, não sei se quero ver. Se eu abrir e se agarrar ao meu pescoço, se não precisar de muito esforço, então eu pago pra ver; mas se não vier naturalmente, se nem de leve me tiver em mente, não me dou o trabalho de rasgar. E qual é a grande surpresa? Ninguém rejeita a nova sobremesa, por que eu iria rejeitar? Mas ser segredo é sempre fardo, e aos poucos eu me desfaço pelo peso de o guardar. Mas o querer-não-querer colocar a panos limpos de repente estraga o meu domingo por ser tudo que posso pensar. E depois de um tempo são sabores, são arriscadas opiniões descolores do que não se pôde provar.
Minha folha ainda é branca, eu não tenho cartas na manga, eu não me deixo levar. E assim o cansaço desbanca, a tortura a mente estanca, mas não evita marcar. Isso é simples e não é passageiro, e eu não sou nenhum guerreiro por não me entregar.
Eu não gosto da sua roupa, não admiro sua boca, não vivo em torno do seu tocar. Eu não prefiro seu sexo, eu adoro o seu mistério, eu adoro o seu esgar. Eu não prefiro sua aparência, eu gosto da sua decência, acho sexy sua indecência e me contorço com sua carência. Eu não te quero toda hora, odeio quando você vai embora, não espero na sua porta. Eu gosto de mandíbulas mais quadradas, de pernas mais trabalhadas, de costas mais largas.
Mas eu respiro um pouco ofegante pela duração de um instante quando é seu corpo do outro lado da porta. Eu não estou acostumada, nunca entrei nessa auto-estrada, e ela sempre me pareceu sinuosa. Eu nunca senti incômodo por causa de outra saia, nunca me deleitei assim com outra risada, nunca gostei de bochechas rosadas. Mas na tensão de um segundo, quando seu braço chacoalha meu mundo, sua presença me queima a pele. Quero pensar no rapaz do outro lado da roda, quero outra escora, outra vazão. Mas você sem razão me chama os olhos, incomodamente alarga os poros quando entra no campo de visão.

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