3 de outubro de 2012

Espalhou-se um pânico pelo prédio de kits. Soava, pela noite, tambores repetidos, batidas em cadeia, uma melodia misteriosa, de um temor profundo, um terror profundo, o despertar de uma besta maquinista, maniqueísta, perversa, soturna e metálica. Sem rotina, como numa espreita maldita pelo inesperado e esquecido, gritava retumbante pelo céu seco.

As donas de casa conheciam aquele ritmo cadenciado, aquele compasso astuto, ardiloso. Eram as bestas noturnas atentas às crianças que comiam pouco no almoço e aos meninos que não emprestavam os brinquedos. As empregadas, mais sabidas, tinham melhor noção que aquilo era uma história urbana de tempos passados, às vezes da época da criação da cidade, quem realmente sabe, que guardavam os espíritos passados que deram o sangue pelo concreto. Os pais, capciosos, sabiam que os tiros vinham das perseguições noturnas, na diversão de uma valentia de um dia e alguns ledos enganos. As moças só pensavam nas batidas. ta ta ta ta hm hm hm hm hunf hunf hunf hunf - - - - t e s ã Os padres, porque havia, ouviam o reverbere do inferno, os batuques dos pecados, atraentes e proibidos. As crianças sabiam que eram raios de lugares estranhos, planetas, órbitas, código para os mais espertos. Mas, na verdade, o som que vinha do primeiro andar era uma máquina de escrever.

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