23 de outubro de 2012

A corda

Ao cutucar sem função a corda da âncora, tinha como objetivo cutucar a corda da âncora sem função. Dentre o que pensara, pensara como seria engraçado a mudança da vibração que ela faz fora da água passar para a água, e se conseguiria passar. Pensou se lá embaixo emitiria som, se poderia espantar alguns peixes, alguns peixinhos. Pensou na cor da água a partir da corda, e na cor do mundo pra corda a partir de acima da água. Alisou uns pelinhos dela pra fora.., fazendo curva sobre a borda. E sem função, cutucou a corda com um cutucão. Abaixo d'água, onde o mundo para a corda era azul escuro, uma reverberação descia a espinha reta do grosso barbante, ia descendo, descendo, e se dissipou antes da metade do caminho para baixo. Acima, pensava a moça o que teria acontecido à água e à corda. Imaginou que a vibração chegou até bem ao fundo, vibrou em sua amarração na âncora de ferro e fez afrouxar quase nada o nó que prendia tudo ao fundo do oceano em um lugar seguro e contínuo. Imaginou que dali a alguns momentos, entre dias e anos, quando o barco movesse e fosse movendo muito, o atrito da água continuaria a função sem função da cutucada, e afrouxaria a perder os dias o nó bem dado na âncora de ferro. Dali então a metros, arrastando a âncora esquecida pelas areias do chão do oceano, o nó desistiria de sua profissão e acabaria por aposentar a força da firmeza, deixando ir como um resquício e uma prova da velocidade a corda solta sem propósito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário