"Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o universo não tem ideias." F. Pessoa
20 de outubro de 2012
Enquanto movimenta-se leve e longelínea, não durmo. Alguma coisa no colchão deve estar causando todo este estresse. Um nódulo, um fiapo, o pedacinho de alguma comida que secou e agora arranha ao raspar. De todo modo, apropriadamente nos quadris fica seu incômodo. Sobe a bunda tão insistentemente que daqui posso me ver ridículo ao incomodar o sono. Vira-se. Com um medo preventivo do frio, encosta-me. Estou entre duas curvas, eu mesmo me dobro profundamente sobre sua pele estúpida, sem saídas. A saída que lhe resta, resta em minha mão. Que saída; que entrada. Corro milhares de quilômetros enquanto penso protejer minha mente nos mais profundos obstáculos da escuridão e nos pensamentos que não se relacionam a nada que estou vendo. Procurando achar-me para firmar meu distanciamento da vulnerabilidade sexual que se me impõe - por razão que desconheço, perco-me nas variadas opções que minha mente não escolhe, e esvazio-me. Vazio, encontro-a, mais uma vez, onde o frio não pode mais ser justificativa, e ela afirma que é o colchão quem não a deixa relaxar as costas, e só pode fazê-lo sobre mim, quando o faz. Quando não muito, esquiva-se continuamente, como besta, exatamente nos dias em que levo muito mais expertise em minhas mãos de boas memórias, que se lembram e se longam de corpos que se fosse por mim também não teria esquecido.
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