15 de abril de 2010

nossa, que foda

não sei lhe dizer porque te quis em primeiro lugar. gostava, com exagero, de precisar e de não ter, que me alimentava a insegurança de não ser querida. precisava sem cuidado ser jogada e ser feia, precisava estar na sombra, no escuro, precisava que precisassem. e então quando te tive, pude separar da pele a camada de silicone seca que me deixava não te tocar, e quando tirei, já não te queria. a minha pele imaculada e a minha virgindade conceitual eram como um quadro raro, talvez secreto, da medusa louca de géricault, aquele barco que, até hoje parado, acho que nunca afunda: géricault não tem pressa, nem calma, de sufocar o mundo. quando estive nua foi quando vi na rua o homem do saco. estive nua antes que ele viesse, e quando veio, me pareceu... me deu medo. a razão pela qual fico bêbada é tão simples que me valia não ficar; e me valia não ficar sozinha. a razão de se ficar bêbada é que seu cheiro me sai pela ponta dos dedos, gruda em papel, na tela, gruda no vidro do carro como o embaçado de respiração e frio. sua respiração é você me deixando, sou eu te deixando porque você quer que eu seja sua mulher, e eu sou o caminho entre a sua solidão e o mundo, entre a sua solidão e o lixo. eu sou o sexo que te rouba. e você é como a lavadeira lá de casa. eu sou como o pinto que você viu, deitado na sua frente, no conhecimento contemplativo de não tocar e não querer. eu não aguento a ausência da sua pele imposta. como um mundo entre a esquisitisse suave do lençol e a incompreensibilidade da sua pele, eu te olho como se da sua barriga não viesse a quentura de todo o meu corpo. porque como um forno à lenha você não tem nada dentro a não ser que coloquem, e quando te coloco dentro e você arranha as paredes do meu quarto, muito pouco eu preciso que você me faça gozar de novo. o seu corpo são as minhas mãos em algo que desconheço.

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