"Sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o universo não tem ideias." F. Pessoa
2 de setembro de 2009
perturba-me o mutismo ensurdecedor da ignorância que lhe imputo por minha falta de coragem. à sua volta tudo parece uma tosquidão débil e essa paixão só a mais forte inclinação de uma criança de seis anos. recuso-lhe o toque e só não a visão porque sou um discípulo fraco. e perturbo-me do início ao fim da contemplação gratuita e compulsória de uma beleza que já não sei se lhe inventei. tornou-se bonito também o caminhar truncado dos seus dedos feios e maliciosos, e mesmo quando você fala muito, nunca diz nada. recuso ouvir o conteúdo geral das coisas, por recusar-lhes que não me digam respeito, e quando presto atenção e sorrio é porque já não tolero sua presença. em verdade desprezo sua falta de percepção e a dificuldade que deus tem de lhe fazer entender que eu te quero. e quando penso que percebes e preferes ignorar até que se desfaça pelo cansaço essa minha afeição, sou mais uma vez a criança de seis anos que não sabe aceitar a não reciprocidade e a esconde com estupidez. deixo-me pegar na contemplação de qualquer das suas feições comuns e faço comentários com o simples propósito de ser particularmente sutil no tratamento das suas nuances. no fundo não queres nada disso, a não ser as experiências similares de seu próprio passado. enquanto lanço bases e redes para um futuro que rezo próximo, revês fitas em seu apartamento agora vazio e ainda que tenha seguido em frente, não deseja outro corpo senão aquele que te conhece. jogo pelos cantos meus gostares a fim de que sejam tomados por aqueles que deles precisam ou desejam, mas não os tocam, imagino que ainda falte algo no meu cartão de apresentação. na realidade estou só estafado de doar e tenho medo de continuamente querer que seja você a quem esteja querendo eternamente encantar. dou risadas altas e longas baforadas a dizer de uma brincadeira e uma birra, e com desgosto e secretude relembro roupas realmente antigas de encontros ocasionais pela cidade e por motivos que me faltam não as esqueço. leio livros e músicas na esperança de memorizá-las para qualquer momento oportuno que não criarei, ou não terei coragem de anunciá-las, pela patetice de ser delicado com coisas ridículas e de estar estar gritante e escancaradamente apaixonado, que acho sempre apropriado e sóbrio negar. receio sufocar-lhe e por conta disso ponho em mim o objeto do meu desejo, e morro sem ar momentos a fio enquanto penso não te perdoar pelos atrativos que não sabes controlar. por não ser capaz de lhe aproximar com a leveza de um qualquer, elevar-me-ei à condição ridícula de já chegar como um super carregado batalhão de soldados cuja exagerada vontade de vitória é seu precipício e seu ridículo. por isso minha indiferença brutal, amor.
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Oh, dear.
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