23 de setembro de 2014

Na verdade, enquanto a água cai, o ralo se delicia ao cheiro da pele esquecida. O balanço dos dias encharca de cidade o corpo inevitável - só há esse. A ir ao mercado, a caminhar, a fazer deveres, a olhar a noite, a aprender a lua, a almoçar... O almoço executivo faz que valoriza a rotina vulgar - o nome exagera a pompa. O garçon agrada por haver decorado o cliente, o cliente se agrada com o garçon costumeiro - parece rotina de gente fina. No banho o ralo exala saudade de um suor mais apurado, uma dúvida mais cruel. Caem cabelos de já terem sido usados, não de estarem velhos. Funciona assim sempre. Este texto fala mais que a lembrança que o ralo sente.

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