16 de junho de 2014

Deitava em mim. Fazia-me de apoio para obrigar o meu corpo a lhe dar carinho, a lhe querer, a lhe sentir, e assim ia acontecendo enquanto eu cedia ao formato do seu corpo, ao peso da sua intenção, ao cheiro do seu desejo e ao crescer da minha vontade de deixar despreocupados os efeitos. Tudo está sob meu controle. Os cálculos ligeiros das minhas reações são automatismos da minha defesa desavisada de que não estou ameaçada. Ameaço-me eu mesma, de desconhecer o querer, muito pouco entender o querer, e de machucar o outro o meu desconhecimento de mim. Acontece que eles, que elas, têm mais pressa em chegar a mim do que eu tenho, e assim encontram-me nas pontes que construo para minha própria compreensão, as pontes que construo para chegar aonde apenas suspeito que estou, a indicação da minha sensação de onde quero estar. E ao encontrarem-me aprecio sua companhia curiosa, o seu desejo voluntário, a sua sede vulnerável, a ansiedade do seu querer. E estou também, flutuando nas minhas disposições, esticando os meus limites, voluntariando a minha vontade um centímetro a mais a troco das maravilhas do amor. Arregaça-me o bem querer. Invade-me a vontade ardente. Enquanto não ardo, provoco a mim e, com mais sucesso, a outras que estão, que permanecem, que me puxam para fora. Mas o corpo protege a alma. Ou será a alma quem protege o corpo, a negar-me a mim o desejo, o toque e a confiança no jeito sincero com que as partes de mim se sentem? O que será que está ali no lugar exato do não e do jeito seguro com que paro a caminhada, com que volto para casa, com que fala o meu silêncio? O mundo gira em uma inércia mais veloz do que a minha rapidez. Eu sou lenta e assim gosto, assim entendo o tempo que também se estica a me entender. Tocamo-nos o tempo e eu, nos últimos tempos, com tanta carícia e tanta afeição, com tanto respiro e com tanta disposição a estarmos juntos o quanto a vida seguir. Sigo o tempo que me segue. Segue o tempo em que eu sinto o meu tempo de sentir.

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