Ao pé da montanha mesmo o sol mais forte é como a luz da geladeira. Interesso-me em contorná-la, curiosa dos arredores; o parceiro sugere outra coisa: quer escalá-la. A moça, conquanto por aí não iria, observa que o desbravar do alto tem a mesma raiz do desbravar dos lados: aquilo que não se conhece se está por conhecer. E pelo alto segue, conhecendo riscos que não era sua ideia conhecer, alcançando visões que não estava pronta para alcançar, fazendo esforços que não era a hora de fazer, escolhendo bifurcações frente às quais ainda não havia imaginado estar e para as quais a escolha do caminho era como a mesma escolha primeira de subir ou margear. E dando a continuidade da subida a mesma sensação de seus primeiros passos, quis parar. Sentada na pedra convidou-o a também refletir aonde já tinham chegado, o que já tinham conhecido e a possibilidade de descer e contornar o monte. Absorvera a experiência, aprendera as decisões, acumulara o conhecimento e com carinho propunha-o seguir por enquanto um novo destino: o conhecimento da montanha, conquanto não fosse assim tão vasto, transformava as primeiras escaladas em uma jornada se não fácil, nostálgica, caso o futuro os levasse a retomá-las.
Mas o moço tem certo o desejo de alcançar os 30 metros de altura; acredita que de lá a moça realmente verá a beleza da pintura. Convida, faz que sim, insiste na decisão; o tino pela aventura, o aproximar-se da lua, o carinho da atenção levam a moça para cima e renova-se a intenção. Mas caminhando mesmo sem pensar, a sensação já lá está: quantos vales, quantas árvores os arredores devem guardar? Quanta paisagem escondida, quanta lufada de vento imprevista, quanta nova possibilidade não se avista na volta que iria dar? Os passos deixam a marca da pesada passada e da escolha a vacilar; ela se inclina, olha o abismo e acha que é hora de retornar. Faz-lhe um novo plano bem marcado, para lhe dar segurança em descer e tentar novos achados, conta das formas mais encantadoras aquilo que ela mesma sonha encontrar, o que já ouviu dizer e que estarão ainda lado a lado para arriscar. Mas ele pestaneja, tem certeza do futuro que lá na frente vai encontrar. Enquanto ela fecha os olhos e revê o pé da montanha, relembra as possibilidades iniciais e as atuais estranha, a moça nota-se e percebe viva a escolha que ainda pode tomar, dá a ele a ponta de uma corda e lentamente desce a encosta, pela qual já desce circular.
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