12 de dezembro de 2013

Dentre todas as peças que movimentava em seu jogo de memórias, Laura mantinha-se particularmente atenta ao hipopótamo. Tinha muito boa memória visual, e seu jeito de virar as peças determinava a maneira como voltaria a elas, de tal modo que não apenas o desenho, mas seu jeito de relacionar-se com ele caracterizava a forma como muito em breve revelaria suas duas faces para lhe tirar do jogo. O hipopótamo, entretanto, possuía algum traço que a surpreendia sempre, de tal maneira que virava sempre a peça com um trejeito novo que nunca podia reconhecer. Todas as vezes era uma nova comoção, uma nova ansiedade, um novo desejo, todas as vezes supreendia-se de encontrá-lo, inutilizando suas todas estratégias muito bem montadas para não estar vulnerável. Tirava-o de cena, por fim, quando quase não sobravam outros pares para imaginar, às vezes por puro acaso, outras quando sua superioridade já era tão evidente diante de outras peças inexpressivas que era preciso encará-lo seguramente, expô-lo, e fatalmente afastá-lo sabendo que ainda não indentificava aquilo que o distinguia, muito embora sentisse aquilo que o não igualava.

Um comentário:

  1. Lembrei de quando brincava de jogo da memória quando era pequeno. Gosto da forma como conta suas histórias, você pega instantes, pedaços de uma história. Deixa que o leitor preencha o que está faltando (se ele achar que está faltando), gosto de fazer isso também, mas geralmente em microcontos.

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