9 de junho de 2013

melhor não alterar

Coçou a barba. Disse,
A distância é pouca.
Ela remexeu-se. Ajeitou a saia; não porque estava torta, chamava a atenção pras ancas. Disse,
A distância é pouca.
Acreditou. Contudo, todos os planos muito bem feitos, a distância seria o preciso espaço da ignorância: ele jamais saberia.
É suficiente.
Mas é suficiente.
Vou levar uma foto sua.
Leve essa, eu estava sem calcinha.
Era verdade, mas poderia ter sido mentira.
Quando conversaram-se, no início, foi há três anos. Ela sentava na biblioteca olhando as prateleiras; ele batia punheta depois do segundo horário. Cruzaram-se no restaurante, mas não se conheciam. Ela pensava em orgasmos durante o almoço, ele buscava na memória quais livros deveria ler para dali a duas semanas. Quando então começaram a namorar, ela lhe disse,
Não quero abrir mão de sexo com desconhecidos.
Ele lhe disse,
Eu quero ver.
Viu duas vezes; parou para provocar o tesão.
Ela dava para desconhecidos, para conhecidos também. Mas ele não poderia estar na cidade. Por isso viajava quando queria e quando não queria, para provocar o tesão. Ela viajava também.
Ele perguntava,
Deu?
Ela,
Não.
A mudança de tempo não perigou a saúde. Também ela não cansou, masturbava-se muito e tinha o sexo como um pensamento diário que permeava todas as coisas de uma ousadia brisante.
Olhou-se no espelho. Passou as mãos no vidro, sentiu molhar entre as pernas. Amava-o. Abriu os olhos: porque não admitiu. Virou-se para a privada, na verdade desviava do reflexo. Encostou as costas na pia, apertou o canal num prazer pompoarista. Riu.
Foi para a cama, masturbou-se, e pensou no que achava de amá-lo. Não conseguiu pensar em nada. Ficou horas olhando para o ventilador na verdade de olhá-lo e na esperança de pensar. Não pensou. Masturbou-se mais um vez. Rasgou duas roupas.
Ele entrou, disse,
Eu sei.
Ela olhou por alguns segundos, depois não o via, mas ele não soube.
Mas você precisa
Ela pegou um cigarro, olhou com desdém, não fumava
ter calma.
Sorriu. Baforou, viu quando ele apertou o que tinha que apertar. Não tossiu, que besteira.
A distância é pouca.
Mas suficiente.
Você vai?
Não se preocupe.
Mas eu quero saber.
Eu vou.
O quê?
Fazer o que eu tenho que fazer.
O quê?
Ele viajou. Ela, em casa, sem saber o que fazer, amava-o, saiu, foi para um bar. Viu todos, imaginou posições, gozos e vários estilos de chupada. Chegou em casa, masturbou-se muito, muitíssimo, por fim já nem fazia o que gostava mas gozava, pouco ou muito, e dormiu.
Ele voltou, radiante, viu-a deitada, suspeitou de tudo, enlouqueceu, duas camisinhas na gaveta, virou-a de barriga para cima, cheirou suas pernas, abriu, lambeu lugares esparsos para cobrir o que o olfato podia ter deixado escapar, acabou se enrolando e sua mão ficou lá dentro, achou que tinha prendido. Quando ela suspirou pro lado e arqueou como um acaso junto com a respiração, a certeza! tudo estava bem.
No travesseiro, a calma. Mal sabia que dali a dois meses começaria a cólera, e o fim estaria próximo. Ele seria um fanático pelo amor, agora que o descobrira com toda a certeza, e ela transaria com ele porque sentiria falta de ser perversa

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